Iraniana acusada de adultério poderá ser executada amanhã. Denúncia é feita pelo Comité Internacional contra a Lapidação
A execução da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, por apedrejamento, poderá estar iminente. Segundo o Comité Internacional contra a Lapidação, “as autoridades de Teerão deram luz verde à prisão de Tabriz [onde a iraniana de 43 anos está detida] para que realize a execução”.
No comunicado, a organização refere que a execução está prevista para quarta-feira de manhã.
O Comité apela à participação na manifestação em frente à embaixada do Irão em Paris, prevista para terça-feira à tarde. E solicita ainda à libertação imediata e incondicional de Sajjad Ghaderzadeh, o filho mais velho da iraniana, de Hutan Kian, o seu advogado, bem como de dois jornalistas alemães que foram detidos quando os entrevistavam.
Caso ganhou visibilidade em julho
Viúva desde 2003, Sakineh Mohammadi Ashtiani havia sido previamente julgada por “relações ilícitas” (relações sexuais fora do casamento) e condenada a 99 chicotadas. Foi apenas durante o julgamento pelo assassinato do marido (processo no qual Sakineh não estava implicada) que um juiz suscitou a possibilidade de essas “relações ilícitas” terem acontecido antes da morte do marido.
Em 2006, Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada por “adultério”, punível, pelo código penal iraniano com pena de lapidação. Após esgotar todos os recursos, o então advogado Mohammad Mostafei, tornou o caso público, em julho passado, atraindo a atenção mundial.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de novembro de 2010. Pode ser consultado aqui
O embaixador de Israel criticou a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão a Lisboa. O governante iraniano acusou-o de “falta de educação”
“É uma falta de educação do embaixador para com o país que o acolhe!” Foi desta forma que, ao início da manhã, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Manoutchehr Mottaki, reagiu ao diplomata israelita acreditado em Lisboa que ontem criticou a decisão de Portugal de receber o governante iraniano, considerando-a “surpreendente e dececionante”.
“Os países são independentes e não têm de pedir permissão a ninguém para desenvolverem as suas relações externas”, continuou Manuchehr Mottaki. “Os israelitas pensam que mandam em todos os pontos do mundo”, afirmou durante um pequeno-almoço com jornalistas. “Devemos lutar contra esta ambição gananciosa deste regime sionista.”
O embaixador israelita, Ehud Gol, criticara a visita, argumentando ser contrária à posição europeia de condenação do regime de Teerão.
Neste capítulo, o ministro iraniano mostrou-se esperançado em que o conselho da UE ao nível dos chefes da diplomacia, previsto para o final do mês, “não repita o mesmo erro do Conselho de Segurança da ONU [que a 9 de Junho aprovou o quarto pacote de sanções contra o Irão] e que mostre vontade em continuar as negociações”.
A cada cinco anos, a sede da ONU acolhe uma conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Este ano, o Presidente do Irão, Mahmud Ahmadinejad, quer marcar presença
O Presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, pediu um visto de entrada nos Estados Unidos para participar na conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação (TNP), que se realizará em Nova Iorque, entre 3 e 28 de Maio.
“Temos certas responsabilidades enquanto país que acolhe a sede da ONU”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley. “Se um responsável estrangeiro quer ir à ONU por um motivo oficial, normalmente concedemos-lhe um visto”, explicou. Nos últimos anos, Ahmadinejad tem recebido visto para participar na sessão anual da Assembleia Geral das Nações Unidas.
O Irão apresentou os pedidos de vistos ontem de manhã na embaixada norte-americana em Berna. Recorde-se que, dado que os dois países não têm relações diplomáticas oficiais, os contactos bilaterais fazem-se através da Suíça.
EUA não colocam obstáculos
Philip Crowley afirmou ainda que os EUA não questionarão se os iranianos decidirem que é Mahmud Ahmadinejad a chefiar a delegação persa na conferência sobre o TNP. “É um assunto deles. Não colocaremos obstáculos.”
Mais de 30 ministros dos Negócios Estrangeiros participarão na sessão de abertura da conferência, na próxima segunda-feira, um evento que se realiza de cinco em cinco anos. O Irão, que alguns países acusam de querer obter armamento nuclear ao abrigo do seu programa nuclear, justificado para fins energéticos, é signatário do Tratado de Não Proliferação. Ahmadinejad deverá ser um dos poucos chefes de Estado a participar na conferência.
Há cada vez mais mulheres a praticar râguebi no Irão. A Al Jazira assistiu a um treino da equipa que lidera o campeonato feminino
No Irão, as mulheres não podem entrar nos estádios para assistir a jogos de futebol. Mas podem praticar râguebi, um dos desportos fisicamente mais exigentes. O campeonato nacional é liderado por uma equipa de Teerão, que a televisão árabe Al Jazira visitou durante um treino. As atletas garantem que, no relvado, as regras são as mesmas dos homens. E que o hijab — no Irão, as mulheres devem cobrir a cabeça e disfarçar a silhueta do corpo — não estorva, apesar de facilitar as placagens. “Adoramos este desporto e o não é um obstáculo”, confirma a treinadora Elham Shahsavarri. Para as atletas, o que são obrigadas a vestir é um pormenor, que não afecta o entusiasmo que o desporto lhes proporciona. A popularidade do râguebi entre as iranianas já levou mesmo à formação de uma selecção nacional, que treina desde há um ano.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui
Ontem, em mais de 100 cidades de todo o mundo, milhares de pessoas saíram à rua em solidariedade para com o povo do Irão. Em Lisboa foi assim…
Em Lisboa, pediu-se “liberdade”. Para os cidadãos iranianos, dar a cara é uma dificuldade MARGARIDA MOTA
“Podemos dizer ‘Allahu akbar’ (“Deus é grande”)?”, interrogou-se um manifestante português.
“Não queremos nada com a religião”, respondeu-lhe prontamente uma iraniana, de rosto escondido por uma máscara e uns óculos de sol.
“Mas, no Irão, eles gritam ‘Allahu Akbar’…”, insistiu o homem.
“Não queremos nada com a religião”, repetiu a iraniana.
“E o verde? Não é a cor do Islão?”, continuou o homem.
“Não tem nada a ver com religião. É a cor deste movimento”, contrariou a iraniana.
“Desculpe, mas o verde é a cor do Islão”, insistiu o homem para, logo a seguir, dar por encerrada a troca de argumentos.
Unidos pelo Irão” e “Iranianos, nós estamos convosco” foram alguns dos “slogans” exibidos em Lisboa MARGARIDA MOTA
Eram cerca de seis da tarde de sábado e a manifestação de solidariedade para com o povo do Irão, no Largo Camões, em Lisboa, já levava uma hora de rua. A iniciativa inseriu-se no Dia Global de Acção que, ontem, se assinalou um pouco por todo o mundo. Cerca de 8000 pessoas reuniram-se em Paris, 4000 em Estocolmo, 3000 em Amesterdão, mais de 2500 em Washington DC e Nova Iorque, 2000 em Londres e… cerca de 30 em Lisboa.
Concentrados junto à estátua de Camões, meia dúzia de organizadores (entre os quais duas iranianas) tentavam sensibilizar os transeuntes para as razões desta manifestação. “Pedimos que te juntes a nós no apoio ao povo do Irão e na condenação dos graves abusos aos direitos humanos que estão a ser cometidos pelo governo iraniano”, lia-se no folheto que iam distribuindo. Mas o pedido só muito raramente era atendido.
Algumas pessoas paravam para ouvir a mensagem pacientemente, outros acediam a colocar no pulso a fita verde usada nas manifestações no Irão, outros ainda assinavam a petição elaborada pela Prémio Nobel da Paz iraniana, Shirin Ebadi, em que pede ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que “viaje imediatamente até ao Irão e investigue a presente situação antes da escalada de violência e antes que o povo do Irão perca toda a paciência”.
Foi o caso do actor Nuno Lopes que, interceptado por Luís Pedro Nunes — um dos comentadores do programa da SIC “Eixo do Mal” que foi a única figura pública a marcar presença na manifestação —, enquanto atravessava o Largo Camões, de pronto colocou a sua assinatura no manifesto.
Na companhia de Luís Pedro Nunes, o actor Nuno Lopes lê o manifesto de Shirin Ebadi MARGARIDA MOTA
Perto das 19 horas, a hora anunciada para o fim da manifestação, a porta-voz Glória Martins — que, sob o pseudónimo “dputamadre” tem mais de 25 mil seguidores no “twitter” — leu uma mensagem enviada por um cidadão iraniano, via “Facebook”: “Os países ocidentais têm tido uma política de apaziguamento, de diálogo, com o Irão, nestes últimos 30 anos, política essa que, para o povo iraniano, tem sido desastrosa! As armas e os instrumentos que o regime iraniano usa hoje para perseguir, prender, torturar e matar os jovens iranianos têm sido comprados no mundo ocidental”, ouve-se. “Neda morreu com os olhos abertos. Seria vergonhoso se vivêssemos com os olhos fechados!”
No Largo Camões, o rosto de Neda — a jovem morta durante as manifestações em Teerão, que se tornou um ícone deste movimento após as imagens da sua agonia terem sido divulgadas no “Youtube” — figurava no centro de um cartaz em que se pedia: “Free Iran” (Liberdade para o Irão).
De seguida, a porta-voz justificou porque os portugueses não devem ficar indiferentes à realidade iraniana: “Portugal tem 139 anos de justiça sem pena de morte. No Irão, uma menina de 9 anos é considerada adulta e, por conseguinte, pode ser condenada à morte; um menino de 13 anos é considerado adulto e, por conseguinte, pode ser condenado à morte. O nosso silêncio pode significar a corda da forca de uma dessas crianças. Quem tem filhos que pense nisto e dê a cara. Obama não o pode fazer, porque vive num país onde muitos estados têm a pena de morte. Nós, portugueses, podemos”, disse.
Ouvidas as palavras de ordem, a manifestação desmobilizou-se calmamente. Alguns deixaram-se ficar, sentando-se nas escadas no sopé da estátua. O jovem Carlos, um dos activistas mais empenhados, mostrava-se desanimado pela fraca adesão à manifestação: “Os portugueses são incríveis… Os meus amigos dizem-se informados sobre este assunto, vêem os noticiários na televisão, mas dizem que não sentem nada”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 26 de julho de 2009. Pode ser consultado aqui
Jornalista de Internacional no "Expresso". A cada artigo que escrevo, passo a olhar para o mundo de forma diferente. Acho que é isso que me apaixona no jornalismo.