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Israelitas árabes podem desbloquear o impasse, resta vencerem a apatia, a descrença nos políticos e o sentimento de discriminação

A minoria árabe de Israel corresponde a cerca de 20% da população, mas é apenas representada por 8% dos deputados no Parlamento. Tem, por isso, um potencial de crescimento que poderia beneficiá-la e interromper o ciclo de crises políticas que leva Israel, esta terça-feira, a realizar as quintas eleições legislativas dos últimos três anos e meio. Várias razões contribuem para que os israelitas árabes optem por ficar em casa, a começar pelas disputas entre os seus próprios partidos

Nos últimos quatro anos, em especial, os israelitas habituaram-se a ir às urnas com equipamento extra. Além do boletim de voto e do envelope onde o inserem para depois o depositarem na urna, levam também consigo — em sentido figurado — a máquina de calcular.

Num país que sempre teve governos de coligação desde que é independente, há mais de 70 anos, não basta que os eleitores escolham um partido. Há também que perceber que outras forças poderão ser hipótese para formar uma coligação de Governo.

Esta terça-feira, 6.788.804 israelitas estão convocados para votar nas quintas eleições legislativas dos últimos três anos e meio. Todas as sondagens realizadas desde o início da campanha eleitoral apontam um vencedor antecipado: o partido Likud (direita), liderado pelo antigo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

“Bibi”, como também é conhecido, é o israelita que mais tempo desempenhou o cargo de primeiro-ministro. Em 2019, chefiava o Governo quando foi acusado de corrupção, na justiça. O seu julgamento — cujo início foi objeto de sucessivos adiamentos — ainda decorre.

A circunstância de ser o político mais popular em Israel combinada com os problemas na justiça polarizou os corredores da política: de um lado, partidos que lhe são indefetíveis, do outro formações para quem é impensável apoiá-lo enquanto não resolver os seus problemas na justiça. Incluem-se neste grupo antigos aliados.

Da mesma forma que preveem a vitória do Likud, as sondagens profetizam que nem o bloco de partidos pró-Netanyahu nem aquele que se lhe opõe conseguirá uma maioria de 61 deputados no Parlamento (Knesset, com 120 membros).

A incógnita árabe

Na aritmética dos votos, e na sua tradução em deputados, há um sector da sociedade israelita sistematicamente sub-representado no Parlamento, por comparação ao seu peso demográfico — a minoria árabe.

Em caso de forte mobilização, o voto árabe pode contribuir de forma decisiva para desbloquear o impasse político que se arrasta desde 2019, favorecendo a formação de uma aliança anti-Netanyahu. Já uma fraca participação poderá estender a passadeira para o regresso do ex-primeiro-ministro à cadeira do poder.

“Sem dúvida, o poder está nas mãos dos cidadãos árabes”, diz ao Expresso Arik Rudnitzky, investigador no Israel Democracy Institute, de Jerusalém. “Não me ocorre uma única campanha eleitoral que dependa tanto do voto árabe como esta.”

Rudnitzky estuda padrões de comportamento dos eleitores árabes ao longo de décadas. Diz que “o número mágico” que poderá transformar os árabes na chave para o fim do ciclo de crises políticas no país é uma taxa de afluência a rondar os 55%. Acrescenta: “60% seria inacreditável, uma conquista notável.”

Uma sondagem publicada pelo Israel Democracy Institute na passada quinta-feira revelou que 70% dos eleitores árabes planeiam ir votar: 50,5% “têm a certeza” de que irão e 19,4% “pensam” fazê-lo. “Afinal de contas, o resultado será determinado pela capacidade dos partidos árabes de se organizarem no dia das eleições e de galvanizarem o seu público para votar”, defende a instituição, num comentário à sondagem.

Mais violência, menos votos

À luz da tendência de evolução da participação eleitoral da minoria árabe desde a fundação de Israel, a fasquia dos 55% pode ser uma quimera.

1949-1973 — A média de afluência foi de 83,8%, superior aos 81,4% nacionais.

1977-1999 — Neste período marcado pela Primeira Intifada (revolta palestiniana na Cisjordânia e na Faixa e Gaza), a média caiu para 73,4% e a nacional ficou nos 78,9%.

2003-2021 — A participação ressente-se da Segunda Intifada e de três guerras na Faixa de Gaza e desce para os 57%, enquanto a média nacional foi de 66%.

Esta terça-feira, irão a votos três listas árabes, em representação de quatro partidos que têm sido dominantes entre os israelitas árabes desde a criação do país.

RA’AM
A Lista Árabe Unida tem uma abordagem religiosa conservadora e representa o movimento islâmico no Knesset. Acredita que participar numa coligação de Governo traz benefícios. Foi nesse espírito que se tornou, após as eleições de 23 de março de 2021, o primeiro partido árabe a integrar um Executivo em Israel.

“Foi histórico”, comenta Rudnitzky. O Ra’am teve “algumas conquistas em termos de alocações orçamentais e medidas para responder ao problema da criminalidade [em alta nas cidades árabes] e à situação de comunidades beduínas no Negev [não reconhecidas pelo Estado]. Penso que houve boas intenções, tanto da parte do partido como do Governo. O problema é que não houve tempo suficiente [o Executivo durou pouco mais de um ano]. E a coligação não era homogénea [composta por oito partidos anti-Netanyahu, da esquerda tradicional à direita sionista]. Houve boas intenções, mas não houve resultados significativos no terreno que satisfizessem as expectativas dos cidadãos árabes.”

HADASH/TA’AL
Trata-se da fusão entre a Frente Democrática para a Paz e Igualdade (que engloba o Partido Comunista) — um partido árabe judeu não sionista que acredita na cooperação entre árabes e judeus — e o Movimento Árabe para a Mudança — um partido nacionalista moderado que procura influenciar sem ter de integrar o Governo.

BALAD
A Aliança Democrática Nacional representa a orientação nacionalista palestiniana. Recusa-se a participar no Executivo, argumentando não ver diferenças entre os blocos pró e anti-Netanyahu em matéria de políticas destinadas aos árabes israelitas e aos palestinianos. Apela à abolição da natureza sionista de Israel e defende que o país deixe de ser um Estado judeu e passe a ser um Estado para todos os seus cidadãos.

Quando, em 2015, pela primeira vez, estes quatro partidos foram a votos numa Lista Única fizeram história: elegeram 13 deputados e passaram a ser a terceira bancada mais numerosa no Knesset. Nesse ano, votaram mais de 60% dos eleitores árabes. “Provaram que o todo é maior do que a soma das partes”, comenta Rudnitzky.

Os bons resultados da opção pela união foram confirmados nas eleições de setembro de 2019 e de março de 2020 quando a Lista Única elegeu 13 e 15 deputados, respetivamente, com taxas de participação de 59,2% e 64,8%.

Inversamente, quando concorreram cada um por si, o entusiasmo do eleitorado árabe ressentiu-se e a representação parlamentar decresceu. Nas últimas eleições, em 2021, a participação árabe cifrou-se em 44,6%, com os 10 deputados eleitos a corresponderem a apenas 8% dos assentos no Knesset, muito longe dos 20% de árabes que vivem em Israel.

POPULAÇÃO DE ISRAEL (2020)

  • Total: 9.289.760
  • Judeus: 6.873.910
  • Árabes: 1,957.270

As sondagens para as eleições de terça-feira não são simpáticas para os partidos árabes. Preveem que a Lista Árabe Unida (Ra’am) eleja quatro deputados e a aliança Hadash-Ta’al consiga outros quatro. O Balad não deverá conseguir ultrapassar a fasquia de 3,25%, necessária para garantir uma bancada parlamentar.

Neste contexto, a votação dos árabes torna-se ainda mais crucial já que as sondagens atribuem também um forte aumento ao Partido Religioso Sionista (extremista), que poderá servir de muleta a Netanyahu nas contas visando a maioria de 61 deputados.

Várias razões contribuem, à partida, para desmobilizar o eleitorado árabe, mesmo numa altura em que poderiam fazer a diferença.

DIVERGÊNCIAS ENTRE PARTIDOS — A instabilidade política em Israel — traduzida em cinco eleições legislativas em 43 meses — contagia também os partidos árabes, levando-os a oscilar entre a união e a divisão. Disputas pessoais e desacordos políticos entre os líderes partidários “desmoralizaram as populações árabes”, já castigadas por um quotidiano de dificuldades, agravado nos últimos anos pela subida da criminalidade, comenta Rudnitzky. Em Israel, as comunidades árabes tendem a ser mais pobres e menos instruídas do que as judias e expressam mais razões de queixa, dizendo-se alvo de discriminação no acesso à habitação, empregos e serviços públicos.

VIOLÊNCIA NOS TERRITÓRIOS — Apesar de serem cidadãos do Estado de Israel, os israelitas árabes são “extremamente sensíveis” em relação ao que se passa nos territórios palestinianos, seja porque têm laços familiares com quem lá vive, seja por uma questão de identidade. Desde meio de outubro que a cidade de Nablus, na Cisjordânia, está cercada por forças israelitas numa operação de repressão ao grupo Covil do Leão, responsável por ataques contra militares judeus.

Para Rudnitzky, a situação nos territórios “é um fator decisivo” que condiciona o estado de espírito dos israelitas árabes. “É um problema. Lembra-me 1996, quando [o primeiro-ministro] Shimon Peres tentou mobilizar os eleitores árabes para que votassem nele [contra Netanyahu] e depois [a um mês das eleições] Israel desencadeou uma operação militar no Líbano [“Vinhas da Ira”, contra o Hezbollah] que resultou na morte de dezenas de libaneses inocentes. Esta operação na Cisjordânia, os acontecimentos de maio de 2021 [os distúrbios no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental] e os confrontos diretos entre Israel e o Hamas, tudo isto influencia, afeta e desencoraja os cidadãos árabes.”

Cidadãos com estatuto especial

Muitos israelitas árabes sentiram como uma facada as alterações feitas, em 2018, à chamada Lei da Nacionalidade. Essa lei básica consagrou o Estado de Israel como “nação do povo judeu”, concedeu o direito à autodeterminação “em exclusivo” aos judeus e atribuiu à língua árabe um “estatuto especial”, por comparação ao hebraico, que passou a ser “a língua do Estado”.

“É outro fator que avoluma a intenção de não votar”, diz Rudnitzky. “Quando a situação geral no sistema político árabe já não é boa, soma-se a isso a existência de legislação do Estado que discrimina. É outro fator que desencoraja os árabes a participarem no jogo político, que sentem que não os representa.”

Vistos como uma espécie de ‘quinta coluna’ por muitos conterrâneos judeus, dada a natural solidariedade para com os palestinianos dos territórios ocupados por Israel na guerra de 1967 (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental), os árabes de Israel somam esse desconforto à fadiga eleitoral comum a todos os cidadãos, cansados de irem às urnas sem perspetiva de Governo estável e duradouro.

Seja por apatia, desinteresse ou boicote, a comunidade que tem potencial para dar novo rumo político a Israel não tem esperança. E isso pode colocar o país na rota das sextas eleições. Ou então voltar a erguer Netanyahu ao poder, à frente de um Executivo integrado por fações religiosas ultraortodoxas e extremistas.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 31 de outubro de 2022. Pode ser consultado aqui

Os palestinianos de Israel

A criação de Israel tornou-os uma minoria involuntária no território onde sempre viveram. Os israelitas árabes correspondem a um quinto da população, num país que ora reconhece o seu mérito ora os discrimina pela cultura a que pertencem

No norte de Israel, na cidade de Nazaré — de grande simbolismo para os cristãos —, o movimento à volta da Igreja da Anunciação é uma pequena montra do quão diversificada é a sociedade israelita. Aos domingos, é muito frequente ver-se chegar àquele templo cortejos matrimoniais de cidadãos israelitas árabes cristãos. Confuso para quem aterra em Israel pensando que ali só vivem judeus.

Cerca de 20% da população de Israel é árabe. Ali moravam ou descendem de quem ali vivia quando Israel foi fundado, e optaram por ficar apesar do êxodo de centenas de milhares de árabes aquando da Guerra da Independência. Involuntariamente, tornaram-se uma minoria. “A maior parte dos cidadãos árabes de Israel não celebra o aniversário do Estado, exceção feita à minoria drusa. Alguns até o consideram a ‘Nakba’, o desastre, como o sentem, que atingiu a comunidade árabe palestiniana” após a fundação de Israel, explica ao Expresso Frish Hillel, professor no Departamento de Estudos do Médio Oriente, da Universidade Bar-Ilan, arredores de Telavive. “Muitos árabes são ambivalentes, entre um sentimento de perda e a perceção de viverem muito melhor e num ambiente mais democrático enquanto cidadãos israelitas do que concidadãos seus em países árabes.”

Frish Hillel, um estudioso da comunidade árabe em Israel, diz que israelitas árabes e palestinianos dos territórios (Cisjordânia e Faixa de Gaza) têm uma perceção de Israel “totalmente diferente. A maioria dos israelitas árabes, de forma consistente, em sondagens, abomina tanto a violência dos palestinianos como a reação dos israelitas, e gostaria de ver o conflito resolvido. Nos territórios, perto de metade dos palestinianos ainda estão comprometidos com a destruição de Israel”.

Considerados, frequentemente, como uma “quinta coluna” — por força da sua identidade palestiniana, pelo facto de serem maioritariamente muçulmanos (há também cristãos e drusos) e dados os laços culturais que os ligam aos palestinianos dos territórios e de países árabes, alguns considerados “inimigos” por Israel —, vários israelitas árabes venceram o estigma e ganharam notoriedade e reconhecimento.

Há futebolistas árabes na seleção nacional; Lucy Aharish tornou-se, em 2007, a primeira árabe a apresentar o noticiário em horário nobre numa das principais televisões em língua hebraica; e, em 2009, Mira Awad tornou-se a primeira árabe a representar Israel na Eurovisão. Num dueto com a judia Noa, interpretou “There must be another way” (Tem de haver outro caminho), com algumas estrofes cantadas em árabe — tal como o hebraico, o árabe é língua oficial de Israel. “Os israelitas árabes estão envolvidos em todas as esferas da vida, do futebol às profissões médicas e científicas”, confirma Frish Hillel. “Porém, os símbolos do Estado são judaicos.”

Mas, em matéria de integração, há também o reverso da medalha. Segundo a polícia, os árabes estão envolvidos em 57% dos homicídios, 59% dos casos de fogo posto e 45% dos roubos. E estão especialmente na mira das autoridades de Telavive em questões de terrorismo. “O envolvimento de israelitas árabes em atos terroristas é alto quando comparado com terroristas islâmicos na Europa, mas muito menor do que os palestinianos nos territórios”, constata Frish Hillel. “Apesar de os israelitas árabes representarem 25% dos árabes sob domínio de Israel ou da Autoridade Palestiniana, eles estão envolvidos em menos de 5% dos atos terroristas.”

Contrariamente aos judeus e à minoria drusa, o serviço militar não é obrigatório para os árabes de Israel. Têm direito a votar e estão representados no Knesset (Parlamento, 120 assentos) com 13 deputados da Lista Árabe Unida, uma aliança de quatro partidos árabes que defende a solução de dois Estados e Jerusalém Leste como capital de uma Palestina independente, mas que nunca integrou o governo.

Dezenas de leis discriminatórias

Os “palestinianos de Israel”, como também são chamados, vivem sobretudo em cidades de maioria árabe — Nazaré é a maior de todas —, que estão entre as mais pobres do país, o que contribui para um sentimento de “cidadãos de segunda” partilhado por muitos deles.

Com sede em Haifa, norte de Israel, o Centro Legal para os Direitos da Minoria Árabe em Israel (Adalah) identificou 65 leis israelitas que, direta ou indiretamente, discriminam os cidadãos árabes de Israel e/ou palestinianos residentes nos territórios “com base na sua pertença nacional”. Se o cônjuge de um israelita árabe for um palestiniano residente nos territórios, por exemplo, não consegue obter cidadania israelita ou mesmo estatuto de residência.

Israel justifica os obstáculos à reunião familiar com razões de segurança — que passam também pela necessidade de garantir uma ampla maioria de judeus no país.

“Em tempos, a criação de novas cidades e aldeias era um grande problema em Israel, mas gradualmente o Estado tem vindo a abordar essa necessidade, especialmente em relação aos beduínos, que anteriormente eram nómadas e agora são sedentários”, conclui o professor.

Mas há domínios em que, dada a natureza do Estado de Israel, os árabes não devem esperar por conquistas. “Os árabes sentem-se discriminados na esfera pública: o hino refere-se exclusivamente ao povo judeu, tal como a bandeira de Israel.”

(Imagem: Bandeira fictícia da minoria árabe de Israel WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no Expresso Diário, a 14 de maio de 2018. Pode ser consultado aqui

Cidadãos de segunda dentro do seu próprio país

Os árabes israelitas têm, pela primeira vez, um ministro no Governo. Mas as queixas de discriminação não desapareceram ainda

Raleb Majadele acaba de fazer história em Israel. Cidadão israelita, árabe e muçulmano, foi esta semana nomeado ministro. Aparentemente, um governante árabe deveria ser motivo de regozijo para 20% da população israelita (1,2 milhões pessoas), tão árabes quanto Majadele. Não é assim que acontece.

“Esta nomeação é pura cosmética. Em nada vai contribuir para a promoção do estatuto da população árabe em Israel”, afirmou ao Expresso Ibrahim Sarsur, líder da Lista Árabe Unida, o partido árabe com mais deputados no Parlamento — quatro.

Sarsur votou contra a nomeação de Majadele. A trica política é simples de contar. O novo ministro era deputado pelo Partido Trabalhista que, em Maio, terá eleições primárias. Ao promovê-lo, Amir Peretz, líder partidário e ministro da Defesa, lança um trunfo no sentido da sua recondução, surgindo empenhado na cooperação com os árabes.

Parte integrante do Estado de Israel, a minoria árabe israelita — 75% muçulmanos, 15% cristãos e 10% drusos — vem denunciando situações de discriminação que os transforma em cidadãos de segunda. “É suposto sermos iguais perante a lei, mas desde a criação de Israel (1948) que as políticas adoptadas nos fazem sentir ignorados e completamente abandonados”, continua Sarsur.

À cabeça das queixas, o deputado refere a falta de paridade de direitos entre a minoria árabe e a maioria judia. “Não se trata apenas de um sentimento mas de uma realidade no terreno”, diz. “Sentimo-lo nas cidades e aldeias, nas escolas, nos serviços de saúde, na construção e na industrialização. Mais de 50 cidades árabes dentro de Israel não são reconhecidas pelo Governo, o que significa a ausência de qualquer tipo de serviços”.

Em 1998, um relatório das Nações Unidas denunciou a existência de 17 leis discriminatórias em relação aos cidadãos árabes. Ibrahim Sarsur exemplifica citando a política de expropriações, que priva os árabes israelitas do acesso à terra. Mostra-se também preocupado com a existência física da comunidade e teme pela sobrevivência da sua identidade, em perigo pela crescente “sionização dos programas escolares”.

Acresce que entre judeus e árabes israelitas há uma profunda desigualdade económica: 50% dos árabes vivem abaixo do limiar de pobreza e a taxa de desemprego é incomparavelmente mais alta.

Nos meandros académicos, há quem procure justificar as políticas discriminatórias com a chamada ameaça demográfica — o receio de que, a prazo, o número de árabes muçulmanos supere o de judeus. Isto faz de Israel um país com regime de “apartheid”?

“Israel executa políticas muito semelhantes às adoptadas pelo antigo regime da África do Sul. Se os sul-africanos brancos chegaram à conclusão de que esta forma de vida devia ser eliminada do mundo moderno, os israelitas deveriam levá-lo em consideração”, conclui Sarsur.

Artigo publicado no Expresso, a 3 de fevereiro de 2007