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Santo Sepulcro: o local mais sagrado para os cristãos abriga seis igrejas e é guardado por muçulmanos

O templo construído sobre os lugares que simbolizam a crucificação, o túmulo e a ressurreição de Jesus é um dos locais mais sensíveis à face da Terra. Dentro do Santo Sepulcro, vivem em permanência monges de diferentes ritos cristãos. A sã convivência entre todos depende do cumprimento de um conjunto de regras estabelecidas no século XIX e ao zelo de duas famílias muçulmanas

Na época da Páscoa, a cidade de Jerusalém recua mais de 2000 anos no tempo. No Domingo de Ramos, uma procissão no Monte das Oliveiras recria a entrada triunfal de Cristo na cidade, com os fiéis a empunharem folhas de palmeira.

Na Sexta-Feira Santa, o cortejo da Via Sacra, que reconstitui o trajeto de Cristo a carregar a cruz até ao Calvário, percorre as ruas estreitas da Via Dolorosa, através dos bairros muçulmano e cristão da Cidade Velha. No domingo de Páscoa, o Santo Sepulcro — construído no século IV no local onde se crê que Jesus foi crucificado, sepultado e depois ressuscitou — torna-se o centro da cristandade.

Ano após ano, as cerimónias realizam-se com a devoção de sempre, mas nesta Páscoa, em particular, os peregrinos estão ausentes. “Não há turistas em Jerusalém, por causa da guerra. À última hora, muitas viagens começaram a ser canceladas. Só me lembro da cidade assim vazia no tempo da pandemia”, diz ao Expresso Adeeb Jawad Joudeh Alhusseini, um palestiniano muçulmano que tem um cargo único no Santo Sepulcro.

Adeeb ostenta o título de “Depositário das Chaves do Santo Sepulcro e Titular do Selo do Túmulo Sagrado”. É ele que tem a responsabilidade de guardar a chave que abre a porta do templo que abriga o túmulo de Jesus. Fá-lo no cumprimento de uma tradição — e obrigação — familiar que dura há mais de oito séculos. “Este é um trabalho honorário. Não recebemos dinheiro por fazê-lo. É um trabalho que estimamos e do qual nos orgulhamos como família”, diz.

Adeeb Joudeh Alhusseini segura a chave do Santo Sepulcro enquanto dá explicações a William, durante a visita do príncipe britânico, em 2018 GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES

Os Joudeh AlHusseini são uma das famílias mais antigas de Jerusalém. Receberam a chave do Santo Sepulcro em 1187 após Saladino ter reconquistado aos cruzados aquela que é uma cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos.

Este líder muçulmano garantiu que o Santo Sepulcro mantivesse o seu caráter cristão, recusou transformá-lo numa mesquita e facilitou o acesso de peregrinos. Mas temendo que, entre os fiéis que rumassem à Terra Santa, pudessem estar soldados infiltrados com a intenção de tomar a igreja, ele ordenou que a chave do Santo Sepulcro fosse dada a uma família nobre muçulmana.

“Se eu tivesse rezado na igreja, ela estaria perdida para vocês, uma fez que os crentes [muçulmanos] ter-se-iam apropriado dela dizendo: ‘Omar rezou aqui’.”

Califa Omar para Modesto, patriarca de Jerusalém, na década de 630, após se ter recusado entrar no Santo Sepulcro

A honraria atribuída aos Joudeh AlHusseini consta de firmões (decretos) emitidos por sucessivos sultões que governaram Jerusalém, atualmente guardados nos arquivos otomanos, na Turquia, e que atestam a história desta família.

Hoje com 59 anos, Adeeb tinha oito quando o pai lhe confiou as chaves do Santo Sepulcro pela primeira vez. Jawad, o seu filho mais velho, atualmente com 26 anos, será o seu sucessor nesta missão famíliar. A segurança da chave não lhe causa particular ansiedade: “Tenho um cofre em casa”, revela.

O momento de abertura da porta do Santo Sepulcro atrai muitas atenções HAZEM BADER / AFP / GETTY IMAGES

Com algumas exceções, a alta e pesada porta do Santo Sepulcro abre, diariamente, às 4h. Esse momento obedece a um ritual coreográfico que atrai muitos curiosos. Em representação dos Joudeh AlHusseini, Adeeb traz a chave e entrega-a a um membro de outra família muçulmana — os Nusseibeh —, que são basicamente os porteiros do Santo Sepulcro.

Wajeh Nusseibeh bate na aldraba, sinalizando para dentro do Santo Sepulcro que é hora de abrir a porta. Do interior, alguém faz passar uma escada para o exterior, através de uma pequena janela rasgada na porta. Nusseibeh sobe a escada até à altura da fechadura e destranca-a. Depois desce a escada, destrava a fechadura inferior e devolve a chave a Adeeb AlHusseini que a guarda até ao dia seguinte.

Às 21h, quando o Santo Sepulcro encerra, só o porteiro intervém já que a chave não é necessária. Todo o cerimonial de abertura pode ser visto no vídeo abaixo.

Quando o templo está fechado, há vida no interior. “Dentro do espaço de Santo Sepulcro, há três comunidades que vivem lá, fazem a sua vivência religiosa, as suas expressões cultuais”, explica ao Expresso João Lourenço, Professor catedrático emérito da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.

As igrejas que têm monges em permanência dentro do Santo Sepulcro são os ortodoxos gregos, os católicos latinos (franciscanos) e os ortodoxos arménios.

“Procuram conviver dentro daquilo que significa expressões culturais convergentes e, ao mesmo tempo, matrizes de expressão diferentes que resultam muito do acumular de questões históricas e locais da proveniência dos próprios crentes desses ritos”, acrescenta este padre franciscano.

“Cada comunidade religiosa pode receber visitantes”, explica Adeeb AlHusseini. “Os monges e seus convidados fazem orações noturnas até de madrugada. Eu chego às 4h, abro a porta e as orações continuam até as 8h.”

O Santo Sepulcro é visitado por fiéis de vários ritos cristãos LATIFEH ABDELLATIF / AFP / GETTY IMAGES

Além das igrejas que vivem dentro do Santo Sepulcro, outras três confissões cristãs estão presentes no complexo desta igreja: os coptas egípcios, os ortodoxos etíopes e os ortodoxos siríacos. Vivem nas redondezas da basílica e têm direitos limitados no acesso a determinadas zonas do mausoléu.

“Tudo isto é um acumular de tradições, de vivências, de expressões culturais de séculos”, acrescenta João Lourenço. “E é um pouco na diferença entre o objetivo comum que todos têm e as tradições que todos e cada um acumulam que se encontra o sentido para a existência de um decreto que tenta regulamentar as convivências” — o Status Quo, firmado em 1852.

Este decreto estabelece orientações que levem a um equilíbrio, a uma situação de justiça e a uma convivência sã e ordenada entre as diferentes confissões cristãs na Terra Santa. E reflete-se na vida dentro de lugares religiosos de significado histórico como o Santo Sepulcro, em Jerusalém, ou a Igreja da Natividade, em Belém.

O Status Quo detalha a divisão do espaço físico (capelas, túneis, grutas), coordena os serviços litúrgicos, os horários das orações, os direitos de circulação através das várias secções, as áreas partilhadas e as que são de uso exclusivo.

Contribui, em teoria, para criar harmonia e reduzir o potencial de conflito entre as várias igrejas. Nenhuma pode fazer alterações dentro do Santo Sepulcro — fazer obras ou mudar o horário de uma procissão, por exemplo — sem a concordância das outras.

Em 1852, quando este decreto foi firmado, o mundo estava tomado pela tensão entre o Império Russo e o Império Otomano que levaria à Guerra da Crimeia (1853-1856).

“Nessa guerra, as confissões cristãs orientais tomaram partido. A Rússia protegia muito os ortodoxos russos na Terra Santa, o que nem sempre ia ao sabor dos ortodoxos gregos”, explica João Lourenço, doutorado pela Pontifícia Universidade Antonianum, de Jerusalém, onde estudou no início da década de 1980. “Perante esse acentuar das tensões, o Império Turco procurou regulamentar essa vivência interna para que não houvesse conflitos latentes.”

A “escada imóvel” é o que melhor simboliza o Status Quo. Está colocada na fachada do edifício desde a primeira metade do século XVIII. Não se sabe quem a pôs ali e ninguém lhe toca para não criar fricções ALBERTO PIZZOLI / AFP / GETTY IMAGES

Na prática, a convivência nem sempre é tão clara como no papel. A 9 de novembro de 2009, a polícia israelita teve de entrar no Santo Sepulcro para sanar confrontos físicos entre ortodoxos gregos e arménios, durante uma procissão dos últimos junto a Edícula (túmulo de Jesus). Os gregos exigiam a presença de um dos seus monges temendo que os arménios usassem a procissão para subverter os termos acordados de acesso ao local.

Na atualidade, há uma disputa declarada em torno de uma pequena igreja localizada no telhado do Santo Sepulcro — Deir al-Sultan —, reclamada pelos ortodoxos etíopes e pelos coptas egípcios. No verão de 2002, num dia particularmente quente, um religioso egípcio (copta) moveu a cadeira colocada junto à entrada do telhado uns centímetros para fugir do sol, o que foi interpretado como um ato hostil e uma violação dos limites acordado. Sete monges etíopes e quatro egípcios foram hospitalizados na sequência de confrontos.

O Expresso pergunta a Adeeb se já testemunhou conflitos entre as diferentes igrejas. “Essa é uma pergunta embaraçosa para mim, que não gosto de interferir na privacidade dos outros. Perdoe-me, as comunidades estão autorizadas a responder, mas estou fora desse assunto”, respondeu, assumindo uma posição neutral entre as várias denominações cristãs.

A pluralidade religiosa na Terra Santa e, em particular, a complexidade cristã “é fruto de muita história acumulada”, conclui o padre João Lourenço. O modelo de coexistência praticado numa região tão vulnerável a tensões e disputas tem evitado males maiores.

(FOTO Procissão de Domingo de Ramos, junto à Edícula, que abriga o túmulo de Jesus, no interior da Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém MOSTAFA ALKHAROUF / ANADOLU / GETTY IMAGES)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de março de 2024. Pode ser consultado aqui e aqui e aqui

Ódio inédito no conflito de sempre

A mais recente escalada entre Israel e o Hamas fez estalar a violência entre judeus e árabes em cidades israelitas

Nos últimos 12 anos, Israel e o Hamas, o grupo islamita que controla a Faixa de Gaza, enfrentaram-se abertamente três vezes. A última dessas guerras, em 2014, foi ao mesmo tempo a mais longa (sete semanas) e a mais mortífera (mais de dois mil palestinianos mortos). Disse-se então que Israel quis dar aos islamitas uma lição inesquecível por atentarem contra território judeu. Passados sete anos, a chuva de mísseis que o Hamas despejou esta semana sobre Israel — à qual o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, prometeu responder “com força” — mostra, desde logo, que o Hamas não leva a sério as reprimendas do poderoso vizinho.

A mais recente contenda entre israelitas e palestinianos levou poucos dias a evoluir de um conflito localizado num bairro árabe de Jerusalém para uma operação militar na Faixa de Gaza. Quatro leituras parciais desta crise ajudam a perceber a facilidade com que o rastilho se acende entre os dois povos e porque é complexa a solução para o conflito mais antigo do mundo.

A solução de “dois Estados para dois povos” continua a ser o grande chavão diplomático para o problema israelo-palestiniano, mas é desmentido todos os dias por casos como o que está na origem da crise atual. No bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental — a parte árabe da Cidade Santa conquistada por Israel na guerra de 1967 —, há famílias árabes a serem despejadas das casas onde sempre viveram.

Segundo a organização israelita Peace Now, desde o início do ano a justiça de Israel deu ordem de expulsão a 22 famílias palestinianas, nos bairros de Sheikh Jarrah e Batan al-Hawa, num total de 139 pessoas. Mal são evacuadas, as casas são de imediato ocupadas por colonos judeus. Aos poucos, a presença árabe em Jerusalém — cidade que também os palestinianos querem para sua capital — vai-se erodindo e Israel pode reclamar a posse de mais terras.

Nas ruas, a tensão à volta de Sheikh Jarrah foi sendo inflamada por atos provocatórios. Há três semanas, numa marcha supremacista pelo “restabelecimento da dignidade judaica”, ouviu-se repetidamente: “Morte aos árabes.” Já esta semana, foi a vez de sair à rua a tradicional manifestação nacionalista do Dia de Jerusalém, em que milhares de israelitas empunham a bandeira do país para celebrarem a conquista da cidade aos árabes.

Nesse exato dia, os deputados extremistas Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, eleitos pelo partido de extrema-direira Sionismo Religioso, deslocaram-se a Sheikh Jarrah, rodeados de segurança e de colonos. Há cerca de 20 anos, a visita à Esplanada das Mesquitas do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon (então líder da oposição) desencadeou protestos violentos num prenúncio da segunda intifada palestiniana, que não tardaria a começar.

Com a tensão em Jerusalém em máximos e a sua população muçulmana a cumprir o mês sagrado do Ramadão — assinalou-se entre quarta e quinta-feira a festa de Eid al-Fitr, que marca o fim desse período —, as forças israelitas impuseram restrições no acesso à Esplanada das Mesquitas, procurada diariamente por milhares de palestinianos para as orações. Daí à deflagração de confrontos foi questão de (pouco) tempo. Quando latas de gás lacrimogéneo e granadas de choque disparadas pelas forças israelitas rebentaram no interior da Mesquita de Al-Aqsa — o terceiro lugar santo do Islão —, todo o mundo muçulmano foi automaticamente arrastado para o problema.

RESISTÊNCIA
Só o Hamas defende os palestinianos

Em resposta à violência em Jerusalém e, em especial, aos raides da polícia israelita nas imediações da Mesquita de Al-Aqsa, voaram rockets da Faixa de Gaza na direção de Israel. Este tipo de ataques por parte do Hamas não é novo, foi-o, sim, a quantidade de foguetes disparados em simultâneo sobre cidades como Telavive.

A chuva de mísseis sem precedentes — batizada em Gaza de Espada de Jerusalém — enfiou milhões de israe­litas em bunkers, receosos de nova guerra num momento em que ainda gozavam o regresso à normalidade pós-pandemia. A esmagadora maioria dos projéteis foi intercetada pelo sofisticado sistema de defesa antimíssil Cúpula de Ferro. Alguns dos que não foram destruídos no ar provocaram sete mortos em Israel.

Em Gaza, os bombardeamentos israelitas de retaliação pelos rockets — operação Guardião das Muralhas — provocaram, até ontem de manhã, 69 mortos, incluindo 17 crianças. Israel disse ter eliminado vários comandantes do Hamas, o que perspetiva a vontade de vingança e um agravamento da situação.

A chuva de mísseis sem precedentes enfiou milhões de israelitas em bunkers, quando gozavam o regresso à normalidade pós-pandemia

Na Cisjordânia — o outro território palestiniano ocupado por Israel —, o Presidente palestiniano reagiu com palavras de condenação e apelos infrutíferos à comunidade internacional. Mahmud Abbas tem a sua quota de responsabilidade na falta de ânimo dos palestinianos de Gaza e da Cisjordânia. No final de abril, o líder da Autoridade Palestiniana — cujo mandato expirou em 2009 — adiou as tão aguardadas eleições com que os palestinianos ameaçavam “despedir” a elite que os governa, a quem rotulam de corrupta, e enterrar de vez a divisão Fatah-Hamas que fragiliza a causa.

Abbas é acusado de ter adiado as legislativas para precaver a possibilidade de vitória do Hamas. A seu favor, o grupo islamita (que a UE e os Estados Unidos consideram terrorista) tem o facto de ser das poucas alternativas políticas organizadas e de ser a real oposição palestiniana à ocupação.

INTOLERÂNCIA
“Guerra civil” onde antes havia coexistência

Paralelamente aos problemas em Jerusalém e na Faixa de Gaza, a crise abriu uma inédita terceira frente. Várias cidades israelitas com população mista, que se orgulhavam de um quotidiano de coexistência entre judeus e árabes, tornaram-se cenários de violência intercomunitária.

Em São João de Acre, Ramle e Lod multidões de árabes em fúria incendia­ram e vandalizaram sinagogas, lojas, carros e casas de judeus, o que levou o autarca de Lod a alertar para um clima de “guerra civil”. “É a Noite dos Cristais em Lod”, disse Yair Revivo, invocando o pogrom contra os judeus, na Alemanha nazi, na noite de 9 para 10 de novembro de 1938. “É um incidente gigante, uma intifada de árabes israelitas. Todo o trabalho [de coexistência] que temos feito aqui desde há anos foi pelo ralo abaixo.” Em Israel, 20% da população é árabe, detentora de passaporte e com direito a voto. Nunca antes tinham tomado parte em confrontos desta envergadura.

POLÍTICA
Benjamin Netanyahu tal qual uma fénix

A mais recente contenda com o Hamas apanhou o primeiro-ministro de Israel num momento de grande fragilidade. Netanyahu está a ser julgado por corrupção e, no plano político, falhou recentemente a formação de um Governo de coligação. Esta crise fê-lo recuperar estatuto e assumir-se como o líder que vai de novo resgatar Israel do sufoco.

A ironia é que, teoricamente, pode estar prestes a terminar a sua longa carreira. A tarefa de formar um Executivo está agora entregue a Yair Lapid, líder do Yesh Atid (centro), que se propôs formar um “Governo da mudança” e vê esta crise dificultar-lhe os planos, dada a oposição dos partidos árabes, de cujo apoio necessita, aos bombardeamentos em Gaza.

“Os acontecimentos da última semana não podem ser desculpa para deixar Netanyahu e o seu Governo no poder”, disse Lapid. “É exatamente o oposto: são o motivo pelo qual precisa de ser substituído o mais depressa possível.” Netanyahu já anunciou aos israelitas que o “conflito atual pode durar algum tempo”. A Lapid foram dados 28 dias para formar Governo, que começaram a contar a 5 de maio. Se o prazo se esgotar sem que o consiga, Israel estará mais perto de voltar a ir a votos. Serão as quintas eleições em pouco mais de dois anos, que, é óbvio, Netanyahu espera voltar a vencer.

(ILUSTRAÇÃO DE VERONAA / GETTY IMAGES)

Artigo publicado no “Expresso”, a 14 de maio de 2021. Pode ser consultado aqui

Uma Jerusalém deserta e o Santo Sepulcro encerrado. As imagens da Páscoa na Terra Santa

As ruas de Jerusalém estão desertas quando, noutros anos por esta altura, estavam a transbordar de fiéis e turistas. No Santo Sepulcro, que está de portas fechadas, como todos os outros sítios culturais e religiosos da Terra Santa, as orações fazem-se do lado de fora. E a Via Dolorosa é percorrida simbolicamente por pequenos grupos de monges ou crentes solitários. Tudo por causa do coronavírus

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A tradicional procissão cristã de Domingo de Ramos foi substituída por uma oração no Monte das Oliveiras, com vista para as muralhas de Jerusalém e para a Cúpula do Rochedo, um dos locais mais importantes para os muçulmanos AMMAR AWAD / REUTERS
Na praça em frente à Porta de Damasco, uma das entradas na cidade velha de Jerusalém, a azáfama habitual deu lugar a ações de desinfeção do espaço AMMAR AWAD / REUTERS
Um voluntário lava a porta de entrada na Basílica do Santo Sepulcro, que abriga o túmulo de Jesus Cristo, em Jerusalém MOSTAFA ALKHAROUF / GETTY IMAGES
Em tempos de pandemia, o Santo Sepulcro está de portas fechadas. Num dos locais mais importantes para os cristãos de todo o mundo, só se reza do exterior EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Este cristão desafia as restrições à circulação de pessoas para rezar diante do Santo Sepulcro GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Na Terra Santa, todos os sítios religiosos e culturais estão encerrados ao público. Uma medida justificada com a urgência do combate ao coronavírus GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Um peregrino solitário transporta a cruz enquanto percorre a Via Sacra, na cidade velha de Jerusalém AMMAR AWAD / REUTERS
Também designada Via Dolorosa, a Via Sacra reconstitui o trajeto que Jesus percorreu até ao Calvário, carregando a cruz AMMAR AWAD / REUTERS
Um voluntário pulveriza o corrimão que ajuda à caminhada numa secção da Via Dolorosa EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Na Sexta-Feira Santa, frades franciscanos realizam uma pequena procissão na Via Sacra EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Um homem com máscara caminha sozinho pela cidade velha de Jerusalém. As lojas, que noutros anos estariam a abarrotar de turistas, estão de portas fechadas AMMAR AWAD / REUTERS
No norte de Israel, a cidade de Nazaré, com uma forte conotação cristã, está sem turistas. O mercado da cidade velha está de portas fechadas RAMI AYYUB / REUTERS
Também Belém, no território palestiniano da Cisjordânia, está sem turistas. Para quem visita a Terra Santa é passagem obrigatória já que Jesus nasceu nesta cidade MUSTAFA GANEYEH / REUTERS
Em Belém, a Igreja da Natividade, que abriga o local onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu, está encerrada aos fiéis MUSTAFA GANEYEH / REUTERS
Diante da primeira estação da Via Dolorosa, este peregrino cristão entrega-se à oração, tentando ignorar o incómodo das luvas e das máscaras EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Dois homens protegidos com máscaras passam tranquilamente junto à oitava estação da Via Sacra, sem cortejos religiosos AMMAR AWAD / REUTERS
Dois polícias israelitas, equipados e protegidos, patrulham a zona junto à quinta estação da Via Dolorosa AMMAR AWAD / REUTERS
Sem peregrinos em Jerusalém, as cerimónias religiosas, mais curtas e simbólicas do que habitualmente, ficam entregues aos monges GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Monges católicos realizam uma oração junto à porta de entrada na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém AMMAR AWAD / REUTERS
Dois cristãos expressam a sua fé com a mesma devoção como que se estivessem no interior do Santo Sepulcro ILIA YEFIMOVICH / GETTY IMAGES
Um dos muitos miradouros da cidade velha de Jerusalém. Estranhamente sem turistas MOSTAFA ALKHAROUF / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de abril de 2020. Pode ser consultado aqui

Austrália reconhece (metade de) Jerusalém como capital de Israel

A embaixada australiana continuará em Telavive. A mudança fica dependente de um acordo entre israelitas e palestinianos. O Brasil poderá ser o próximo país a ir no rasto da histórica decisão de Donald Trump que reconheceu Jerusalém como capital de Israel

O Governo australiano anunciou, este sábado, o reconhecimento de Jerusalém Ocidental como capital de Israel. A embaixada australiana continuará, porém, em Telavive. A sua transferência para a Cidade Santa — bem como o reconhecimento de Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado da Palestina — fica dependente da assinatura de um tratado de paz entre israelitas e palestinianos.

“O Governo australiano decidiu que a Austrália reconhece que Jerusalém Ocidental, o local onde se situa o Knesset [Parlamento] e muitas das instituições do Governo, é a capital de Israel”, afirmou Scott Morrison, no cargo desde agosto, num discurso no Instituto de Sidney.

O primeiro-ministro defendeu que a decisão visa apoiar a “democracia liberal” no Médio Oriente e considerou as Nações Unidas um local onde Israel é “intimidado”.

A oposição denunciou uma manobra política visando a obtenção de ganhos nas eleições legislativas previstas para o próximo ano. “Preocupa-me que o Sr. Morrison coloque os seus interesses políticos à frente do nosso interesse nacional”, reagiu o líder da oposição, Bill Shorten.

Paraguai fez marcha-atrás

A Austrália torna-se assim o último país a ir no rasto da histórica decisão dos Estados Unidos — anunciada por Donald Trump a 6 de dezembro de 2017, e que reverteu uma posição política de décadas — de reconhecer Jerusalém como capital de Israel. A embaixada norte-americana em Jerusalém foi deste ano.inaugurada por Ivanka Trump a 14 de maio

Guatemala e Paraguai seguiram a posição norte-americana. Mas em Assunção, um novo Presidente levou a um recuo na decisão. Em setembro, o novo Presidente, Mario Abdo Benítez, considerou a decisão do seu antecessor, Horacio Cartes, “absolutamente unilateral, sem consulta e sem argumentos fundados no Direito Internacional”. Benítez mandou fechar a embaixada em Jerusalém, ao que Israel respondeu encerrando a sua missão diplomática em Assunção.

O Brasil foi o último país a anunciar intenções para mudar a sua embaixada de Telavive para Jerusalém. Jair Bolsonaro referiu-se ao assunto durante a campanha eleitoral e, em finais de novembro, um dos seus filhos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, reuniu-se em Washington com Jared Kushner, o genro de Trump que detém a pasta do conflito israelo-palestiniano. “Isto não é uma questão de ‘se’ o vamos fazer, mas de ‘quando’ o vamos fazer”, disse Eduardo Bolsonaro.

https://twitter.com/BolsonaroSP/status/1067507960333692929

Jerusalém é a cidade desejada por israelitas e palestinianos para capital dos respetivos Estados. Na parte Oriental — ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias de 1967 —, localizam-se os principais lugares santos para as três religiões monoteístas: o Muro das Lamentações (judaísmo), o Santo Sepulcro (cristianismo) e a Mesquita de Al-Aqsa (islamismo).

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de dezembro de 2018. Pode ser consultado aqui

Nova embaixada dos EUA em Jerusalém “é por ali”

Esta segunda-feira, surgiram, nas ruas de Jerusalém, as primeiras placas de trânsito indicativas da futura localização da nova embaixada dos EUA em Israel. Transferida de Telavive após o reconhecimento da Cidade Santa como capital de Israel, será inaugurada na próxima segunda-feira, 14 de maio

Ainda não foi inaugurada, mas já há indicações de trânsito a sinalizar o local — para que não haja dúvidas de que vai mesmo avante. Esta segunda-feira, em Jerusalém, começaram a ser instaladas, nas ruas da Cidade Santa, placas informativas indicando a localização da futura embaixada dos Estados Unidos em Israel.

Escritas em inglês, hebraico e árabe, as placas apontam na direção do atual consulado dos Estados Unidos em Jerusalém, na parte sul da cidade.

Nir Barkat, o presidente da Câmara, arregaçou as mangas e associou-se aos trabalhos dos funcionários camarários. No Twitter, expressou a importância política daquele gesto: “Isto não é um sonho — é realidade! Esta manhã, instalei os sinais indicativos da nova embaixada dos EUA em Jerusalém! Jerusalém é a eterna capital do povo judeu — e o mundo começa a reconhecê-lo!”

https://twitter.com/ArchiveNir/status/993397248791924736?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E993397248791924736%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fexpresso.pt%2Finternacional%2F2018-05-07-Nova-embaixada-dos-EUA-em-Jerusalem-e-por-ali

A 6 de dezembro de 2017, numa decisão polémica, e amplamente condenada fora de portas, a Administração Trump reconheceu a Cidade Santa como capital do Estado de Israel e ordenou a transferência da sua representação diplomática de Telavive para Jerusalém.

Para os palestinianos — que sonham com Jerusalém como capital do seu futuro Estado —, essa decisão foi uma demonstração de que os Estados Unidos de Donald Trump não são mais um mediador credível para o processo de paz israelo-palestiniano.

A inauguração da nova embaixada dos EUA em Israel está marcada para a próxima segunda-feira, 14 de maio, dia em que o Estado judeu comemora 70 anos de vida.

A efeméride coincidirá com o fim da Grande Marcha do Regresso — em curso na Faixa de Gaza desde 30 de março —, com que os palestinianos pretendem lembrar que o Estado israelita, criado em 1948, se ergueu sobre terras que eram suas. A inauguração da nova embaixada dos EUA promete ter o efeito de um bidão de gasolina lançado sobre uma grande fogueira.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de maio de 2018. Pode ser consultado aqui