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Polémica reforma do sistema judicial começou a ganhar forma

O Parlamento de Israel aprovou uma lei que retira poder ao Supremo Tribunal. Trata-se do primeiro diploma de uma ampla reforma judicial que o Governo de Benjamin Netanyahu quer levar avante. Este fim de semana, pela 30.ª semana consecutiva, sai à rua mais uma manifestação de protesto

Manifestação contra a reforma judicial proposta pelo Governo de Benjamin Netanyahu OREN ROZEN / WIKIMEDIA COMMONS

Por estes dias, há uma piada em Israel que traduz o estado de espírito de muitos cidadãos. Dois israelitas encontram-se e um deles pergunta: “Numa palavra, como te sentes?” O outro responde: “Bem!” O primeiro insiste: “E como te sentes em duas palavras?” “Nada bem!” Este diálogo é uma caricatura da confusão que assaltou muitas pessoas. Nos últimos anos, a sociedade polarizou-se a um nível sem precedentes — confirmado pela realização de cinco eleições legislativas em quatro anos — e, mais recentemente, um projeto de reforma judicial pôs os nervos à flor da pele de muita gente no país.

“Há uma enorme tensão entre as pessoas”, diz ao Expresso o advogado israelita Itay Mor, desde Telavive. “Se uma pessoa de esquerda conversa com outra de direita, começam a discutir com muita facilidade. É uma situação muito inflamável.”

Esta semana, o Governo de Benjamin Netanyahu averbou uma importante vitória na sua intenção de alterar o funcionamento da justiça ao ver o Parlamento (Knesset) aprovar um projeto de lei que limita a possibilidade do Supremo Tribunal recorrer à “doutrina da razoabilidade” para bloquear decisões governamentais que considere serem implausíveis.

Democracia sobrevive

“Na prática, a nova legislação reduz significativamente a capacidade do Supremo Tribunal de fiscalizar as decisões tomadas pelo Governo. Mas o Supremo tem outros recursos para desqualificar decisões governamentais”, diz ao Expresso Tamar Hermann, investigadora no Instituto de Democracia de Israel. “Embora o ambiente esteja muito dramático, não significa que o Supremo não tenha forma de controlar o Governo. Esta decisão é importante, mas não é crítica para o modelo de democracia israelita.”

A prerrogativa da razoabilidade não é um instrumento ao qual o Supremo recorra com frequência. Tornou-se um assunto sensível no início do ano, após o tribunal invalidar a nomeação de Aryeh Deri, líder do partido ultraortodoxo Shas e aliado antigo de Netanyahu, para ministro do Interior e da Saúde, invocando precisamente o critério da razoabilidade. Deri tinha sido condenado na justiça por crimes fiscais e estava em liberdade condicional ao abrigo de um acordo judicial.

Itay Mor diz que a prerrogativa da razoabilidade “não depende de critérios objetivos, mas apenas de subjetivos. Depende apenas do ponto de vista do juiz que, num dia, diz que vai ajudar as minorias e noutro decide que não”, afirma. “O Supremo tem autoridade, mas não tem responsabilidade. E o Governo tem responsabilidade, mas não tem autoridade. É uma distorção.”

Após a votação no Knesset — viabilizada pelos 64 deputados da maioria e boicotada pela oposição —, várias petições deram entrada no Supremo pedindo o bloqueio da lei. O órgão agendou o debate para setembro, mas rejeitou bloqueá-la até lá.

Outra possibilidade de estancar o processo seria o Presidente Isaac Herzog, que pugnou até à última por adiar a votação, não assinar o diploma. Não é expectável que o faça. O seu antecessor, Reuven Rivlin, passou por uma situação semelhante: opôs-se a outro diploma controverso, a Lei do Estado-Nação (2018), mas acabou por assiná-lo, aproveitando o momento para fazer um gesto de protesto. Decretando essa lei que Israel — onde cerca de 20% da população são árabes — “é o Estado-nação do povo judeu” e que “o hebraico é a língua do Estado”, secundarizando a língua árabe, Rivlin assinou a lei escrita… em árabe.

Esta semana, na véspera da votação, o ex-Presidente discursou num protesto antigovernamental em Jerusalém: “Temos 24 horas para salvar o nosso maravilhoso país.”

Mais debates após as férias

Para o Governo, o processo é como fatiar um salame: o primeiro pedaço foi cortado esta semana, outros seguir-se-ão. O Knesset vai agora de férias e só após o verão haverá mais debates — previsivelmente sem acordo entre maioria e oposição — e novas votações.

Nas ruas e nas fileiras da oposição, a reforma judicial é um ataque à democracia num país que tem uma estrutura constitucional única. Israel é uma democracia parlamentar, onde o Presidente não pode vetar leis e o Parlamento é unicameral. Não existe uma estrutura federal nem um sistema eleitoral regional. O país não tem uma Constituição rígida, mas antes Leis Básicas, algumas das quais podem ser alteradas por maioria simples no Knesset. O Supremo Tribunal é o único contrapeso ao poder executivo.

Para os defensores da reforma, há também um problema de representatividade. Dizem que o órgão está nas mãos de uma elite homogénea e que os 15 juízes não representam os diferentes sectores da sociedade. Filho de imigrantes marroquinos, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen, defendeu que alguém com antecedentes semelhantes ao seus seria excluído do Supremo “porque somente pertencendo a uma certa panelinha é possível ser-se nomeado”.

Tamar Hermann admite a necessidade de mudanças, “mas feitas com base num consenso e não de uma forma que afaste grande parte do povo. Estar nas mãos de uma elite não significa ser um esquema. Isto foi um desenvolvimento histórico. E durante muitos anos, o Supremo não aceitou críticas. Não nego que alguns aspetos devam ser revistos, mas não da forma brutal como este Governo está a fazer”.

Artigo publicado no “Expresso”, a 28 de julho de 2023. Pode ser consultado aqui e aqui

Polémica reforma da justiça averbou a primeira vitória, num país “tenso” e “inflamável”

A aprovação, no Parlamento de Israel, de uma lei que retira poderes ao Supremo Tribunal foi acompanhada por protestos nas ruas e motivou que, esta terça-feira, vários jornais tenham assumido o luto e pintado as capas de negro. Ao Expresso, um advogado israelita explica o que está em causa e alerta para “uma distorção” no centro do problema: “O Supremo Tribunal tem autoridade, mas não tem responsabilidade. O Governo tem responsabilidade, mas não tem autoridade”

ILUSTRAÇÃO DAILY SABAH

Do Parlamento para os tribunais. É na justiça que, em Israel, agora se trava uma batalha para tentar reverter um polémico projeto de lei aprovado no Parlamento (Knesset). Menos de 24 horas após ser viabilizado, pelo menos três petições deram entrada no Supremo Tribunal com o intuito de bloquear a nova legislação que limita os poderes… do Supremo Tribunal.

As petições foram apresentadas por organizações da sociedade civil. Yair Lapid, o líder da oposição, já fez saber que tenciona seguir pelo mesmo caminho nos próximos dias.

A possibilidade do Supremo reverter uma decisão que o visa diretamente “é uma loucura”, comenta ao Expresso o advogado israelita Itay Mor, desde Telavive. “O Parlamento tomou uma decisão que afeta o sistema judicial. Então o sistema judicial não gosta e vai anular essa decisão. Em qualquer democracia equilibrada, há uma regra básica: o governo do povo. O povo, a maioria, é quem manda. Escolhe os seus representantes no Parlamento e o Parlamento escolhe o governo. E o sistema judicial é eleito de diferentes formas pelas duas autoridades. Se o sistema judicial anular a decisão do Parlamento, está a anular o povo.”

Após 29 semanas de grandes protestos populares nunca antes vistos em Israel, e 30 horas de debate no Knesset, a maioria que apoia o Governo liderado por Benjamin Netanyahu, o mais à direita de sempre em 75 anos de vida do país, aprovou um diploma que limita a possibilidade do Supremo recorrer à “doutrina da razoabilidade” para bloquear decisões do Governo que considere serem irracionais ou implausíveis.

O advogado não partilha da reação dramática que se observa nas ruas de muitas cidades de Israel, nem tão pouco das análises que projetam nesta legislação uma ameaça à separação de poderes ou até o princípio do fim da democracia em Israel. “O voto foi contra decisões que não são razoáveis pelo sistema judicial”, diz, acrescentando que a prerrogativa da razoabilidade não é clara.

“Não depende de métodos objetivos, mas apenas de subjetivos. Depende apenas do ponto de vista e da perspetiva do juiz. Num dia, um juiz decide que vai ajudar as minorias e noutro decide que não. É este basicamente o problema”, explica. “O Supremo tem a autoridade, mas não tem a responsabilidade. E o Governo tem a responsabilidade, mas não tem a autoridade. É uma distorção.”

Supremo Tribunal tem mais armas

Itay Mor salienta ainda que o Supremo dispõe de mais sete critérios para desqualificar uma decisão governamental: se uma determinada decisão violar a lei, se for contrária à ideia de igualdade ou se não for equilibrada. “Por exemplo, se um membro de uma minoria cometer um crime e o Governo decidir que todos os membros dessa minoria vão para a cadeia.”

O diploma foi viabilizado pelos 64 deputados da maioria (eleitos nas fileiras de partidos de direita, da extrema-direita e religiosos), tendo os membros afetos à oposição abandonado o hemiciclo na hora do voto.

A importância desta votação ficou patente no facto de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter participado dos trabalhos escassas horas após ter estado internado para colocação de um pacemaker. Foi no hospital que, no domingo, o Presidente do país, Isaac Herzog, se reuniu com o chefe do Governo, de 73 anos, para tentar, sem sucesso, um adiamento por 15 meses.

“Esta votação é importante não pelas suas implicações legais, mas antes sociais. A situação social em Israel é muito tensa”, diz Itay Mor. “Não conheço pessoalmente Netanyahu, mas creio que ele entende a importância social deste voto. Não temos de gostar dele, mas devemos respeitá-lo porque é um profissional e faz o que pode.”

O Supremo Tribunal de Israel é composto por 15 juízes que são escolhidos por um Comité de Seleção Judicial. Este integra três juízes do próprio Supremo (um deles o presidente), o ministro da Justiça e outro membro do Governo, dois deputados (da oposição) e dois representantes da Ordem dos Advogados. Nove membros no total, sendo que apenas quatro foram eleitos pelo povo.

“O povo de Israel não escolhe diretamente os juízes, que têm muito poder para tomar decisões cruciais. A prerrogativa da razoabilidade não é o único problema no sistema judiciário, mas é uma das ferramentas que o Supremo usa para desqualificar decisões do Governo sem obter o consentimento do Parlamento, que representa o povo”, diz o jurista. “Atualmente, em Israel, o sistema judicial tem muito mais poder do que o Parlamento e o Governo. E ninguém pode criticá-lo.”

Da elite e de esquerda

Mor diz que há uma grande discussão no país sobre a origem dos juízes e a representatividade “quase homogénea” no Supremo Tribunal de Israel. “Não há diversidade, não há juízes de diferentes áreas ou minorias da sociedade. Os juízes do Supremo representam uma percentagem muito pequena da elite da sociedade israelita. E isso é algo que a coligação governamental quer mudar para dar mais poder, no processo de eleição dos juízes, às forças políticas. Mas isso é na eleição, porque, uma vez eleitos, os juízes são totalmente independentes.”

Há também uma leitura política a fazer. “Em Israel, o Supremo Tribunal tende a ter uma abordagem mais de esquerda. Por isso, quando a esquerda não está no governo, tem o Supremo.”

O projeto de lei aprovado na segunda-feira foi apenas o primeiro de uma reforma judicial mais ampla que o Governo espera levar a cabo. “Numa jogada extraordinária, demos o primeiro passo do histórico processo de correção do sistema judicial e restituição dos poderes retirados ao Governo e ao Knesset ao longo de muitos anos”, regozijou-se Yariv Levin, o ministro da Justiça, que pertence ao partido Likud (direita).

O Knesset entra agora em férias e só após o verão haverá mais debates — previsivelmente sem acordo entre maioria e oposição —, mais votações e contestação nas ruas em torno de possíveis novas leis. O advogado é da opinião que “a reforma da justiça de que a coligação fala, no fim, pressupõe também mudanças no Comité” que seleciona os juízes.

Tudo acontece num país altamente polarizado, patente no facto de ter realizado cinco eleições legislativas entre 2019 e 2022. “Há uma enorme tensão nas ruas entre as pessoas”, conclui Itay Mor. “Se alguém de esquerda começar a falar com outra de direita, começam a discutir com muita facilidade. É uma situação muito inflamável.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 25 de julho de 2023. Pode ser consultado aqui

Israel está a ferro e fogo. Oito perguntas e respostas para melhor entender esta crise

Milhares de israelitas estão nas ruas em cumprimento de uma greve geral que tem na origem um polémico processo de reforma judicial. Para esta segunda-feira à tarde está agendado um protesto de cariz contrário. Há receios de violência nas ruas de Israel

Protesto contra a reforma judicial, a 4 de março de 2023, junto ao centro Azrieli, em Telavive AMIR TERKEL / WIKIMEDIA COMMONS 

Que se passa em Israel?

As ruas de várias cidades estão tomadas por milhares de pessoas que cumprem, esta segunda-feira, um dia de greve geral. Decretada pelo Histadrut, o maior sindicato do país, contagiou outros sindicatos sectários e está a paralisar o país a vários níveis. O aeroporto Ben Gurion, em Telavive, foi encerrado, as universidades anunciaram uma greve por tempo indeterminado, a cadeia de supermercados Big e os restaurantes McDonald’s fecharam portas. São apenas alguns exemplos. Escreve o jornal digital “The Times of Israel” que a embaixada israelita em Nova Iorque também aderiu.

Qual é a origem desta greve?

Este protesto é o mais recente recurso a que recorreu a população de Israel para se manifestar contra um polémico processo legislativo que decorre há mais de três meses — a reforma judicial promovida por Benjamin Netanyahu. Os protestos redobraram de intensidade este fim de semana, em virtude de uma decisão política tomada pelo primeiro-ministro.

Que decisão foi essa?

Domingo à noite, Netanyahu demitiu o ministro da Defesa, Yoav Gallant, membro do seu partido (Likud, direita), horas após este ter defendido publicamente a suspensão da reforma. “A segurança do Estado de Israel sempre foi e sempre será a missão da minha vida”, reagiu Gallant nas redes sociais. Não faltam alertas de que esta polémica demissão pode abrir fendas no aparelho de segurança do país, designadamente levar militares ou outros profissionais de sectores sensíveis a recusarem-se a desempenhar as suas funções. Já esta segunda-feira, o Presidente Isaac Herzog apelou a Netanyahu para que ponha fim “de imediato” à reforma que está a dividir o país.

Como reagiram ‘as ruas’ à demissão?

Os protestos intensificaram-se e poderão resultar em violência. Para esta segunda-feira, às 18h locais (17h em Portugal Continental), em Jerusalém, está marcado um protesto de cariz contrário, de apoio ao primeiro-ministro e à reforma judicial. Segundo o diário “Haaretz”, nas redes sociais grupos de extrema-direita estão a apelar ao uso de “explosivos, armas e facas” no protesto de segunda-feira à tarde.

Por que razão a reforma judicial é polémica?

Basicamente, ameaça a separação de poderes, subordinando o poder judicial ao poder executivo. Por exemplo, o Governo passaria a nomear os juízes do Supremo Tribunal, que é, atualmente, o garante do cumprimento das Leis Básicas de Israel (o correspondente a uma Constituição, que o país não tem) e o único contrapeso ao poder executivo.

Netanyahu insiste nessa reforma por alguma razão especial?

Essencialmente por razões pessoais. O chefe do Executivo está a ser julgado por corrupção, em vários processos. Os processos na justiça não impedem que continue a exercer a função de primeiro-ministro. Está no cargo desde dezembro passado, à frente de uma coligação do Likud com a extrema-direita e os partidos de judeus ultraortodoxos.

Que margem de manobra tem o primeiro-ministro?

As últimas notícias dão conta de que deverá ceder às ruas e anunciar a suspensão do processo de reforma judicial. Mas isso poderá ter custos políticos. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, o líder de um partido extremista, cujo resultado nas últimas eleições permitiu que Netanyahu regressasse ao poder, ameaçou demitir-se do Governo. Se Ben-Gvir arrastar com ele o apoio do seu partido a Netanyahu, o Governo pode cair.

Como está a relação de forças no Parlamento?

Netanyahu conta com o apoio de 64 deputados num total de 120. Além do Likud, partido que lidera e que é uma formação histórica desde a fundação de Israel, integram a coligação de governo partidos religiosos ultraortodoxos (Judaísmo Unido da Torá, Shas) e formações de extrema-direita (Sionismo Religioso, Força Judaica e Noam). A atual crise em Israel é também um braço de ferro entre uma população que, dizem as estatísticas, continua a ser maioritariamente laica e um Governo cada vez mais refém do fundamentalismo judaico e sionista.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de março de 2023. Pode ser consultado aqui

Netanyahu adiou polémica reforma judicial “para dar uma oportunidade real ao diálogo” e “evitar a guerra civil”

No fim de um dia de greve geral “histórica” em Israel, em protesto contra a proposta de reforma judicial de iniciativa do governo, o primeiro-ministro de Israel adiou a discussão da nova legislação para daqui a um mês, sensivelmente. “Quando há uma opção para evitar a guerra civil por meio do diálogo, eu reservo um tempo para o diálogo”, disse Netanyahu

Manifestação contra os planos do governo de Benjamin Netanyahu padra a Justiça, a 26 de março de 2023, em Telavive OREN ROZEN / WIKIMEDIA COMMONS

No término de um dia de de greve geral “histórica”, como o qualificou o Histadrut, o grande sindicato israelita, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dirigiu-se ao país para comunicar o adiamento das leituras finais de uma polémica reforma judicial que está em discussão no Parlamento (Knesset), “para dar uma oportunidade real ao diálogo”.

“Quando há uma opção para evitar a guerra civil por meio do diálogo, eu reservo um tempo para o diálogo.”

Num discurso transmitido pela televisão, Netanyahu disse estar “consciente das tensões” e que “está a ouvir o povo”. “Bibi”, como também é conhecido, disse não estar “disposto a aceitar uma minoria de extremistas desejosa de espartilhar o nosso país em pedaços e a guiar-nos para a guerra civil, apelando à recusa do serviço militar, o que é um crime terrível”.

O primeiro-ministro particularizou um assunto sensível para a segurança de Israel: a recusa de alguns reservistas em participar em exercícios militares, como forma de protesto. “O Estado de Israel não pode prosseguir com pessoas que se recusam a servir no exército. Recusar é o fim do nosso país”, disse.

Netanyahu, que é o israelita que mais tempo desempenhou o cargo de primeiro-ministro, disse que vai “revirar todas as pedras até encontrar uma solução”.

Saudações e reservas

A intervenção de Netanyahu gerou consequências imediatas, com o Histadrut a cancelar a greve geral que tinha convocado para esta terça-feira.

No domínio político, o Presidente Isaac Herzog saudou a interrupção da revisão judicial como “a coisa certa a fazer”. “Agora é a hora de um diálogo honesto e que baixe as chamas.”

O líder da oposição, Yair Lapid, disse estar disponível para “entrar em discussões” com a coligação governamental, mas apenas se “a legislação for realmente interrompida”. Sobram muitas reservas em Israel.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de março de 2023. Pode ser consultado aqui

Netanyahu respeita decisão do Supremo e despede ministro e aliado

O primeiro-ministro de Israel destituiu um rabino dos cargos de ministro do Interior e da Saúde, após uma posição nesse sentido do Supremo Tribunal. Aryeh Deri, que lidera o partido religioso ultraortodoxo Shas, continuará, porém, a ser vice-primeiro-ministro. A outra formação ultraortodoxa que integra o governo já disse que vai continuar a trata-lo por ministro

Logotipo do Shas WIKIMEDIA COMMONS

O primeiro-ministro de Israel despediu, este domingo, um dos seus principais aliados políticos do cargo de ministro, na sequência de um pronunciamento do Supremo Tribunal que desqualificou o rabino Aryeh Deri para cargos ministeriáveis em virtude de uma condenação recente na justiça.

No conselho de ministros semanal, realizado este domingo, Benjamin Netanyahu expressou “grande pesar no coração” por ter de tomar a decisão e prometeu apoio a Deri, uma “âncora de experiência, inteligência e responsabilidade”.

“A decisão do Supremo Tribunal ignora a vontade da nação, e eu tenciono encontrar todos os meios legais possíveis para permitir que contribua para o país”, disse Netanyahu.

Deri, que lidera o partido religioso ultraortodoxo Shas, detinha as pastas do Interior e da Saúde, que passam agora para as mãos de outros membros do partido. “Não houve qualquer dúvida em momento algum”, disse Deri sobre suspeitas de que poderia não acatar a ordem do Supremo Tribunal.

Segundo o órgão de informação digital israelita “Times of Israel”, o líder do Shas vai continuar a desempenhar o cargo de vice-primeiro-ministro. A publicação refere que pouco após dispensar Deri, Netanyahu abandonou o conselho de ministros, deixando Deri a presidir à reunião.

O líder do outro partido religioso que integra o Governo israelita, o Judaismo Unido da Torá, afirmou que ele e o partido continuarão a tratar Deri como ministro. “No que respeita aos nossos ministérios [aqueles que o partido controla], Deri continuará a ser ministro e é dessa forma que nos relacionaremos com ele”, afirmou Yitzhak Goldknopf, ele próprio ministro (da Construção e da Habitação).

Qualquer um destes partidos é fundamental à sobrevivência do Governo de Netanyahu, que assumiu funções há menos de um mês trazendo alguma acalmia a Israel, após cinco eleições realizadas em quatro anos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de janeiro de 2023. Pode ser consultado aqui