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‘Vasco da Gama’: missão cumprida!

Chega hoje a Portugal a ‘Vasco da Gama’, após uma missão de quatro meses nas costas da Somália. A fragata foi o navio-almirante da operação Atalanta, organizada pela União Europeia, visando o apoio humanitário ao povo somali e o combate a ações de pirataria no oceano Índico. Fotogaleria

A ‘Vasco da Gama’ contabilizou 87 dias no mar
A fragata integrou a força naval da União Europeia (EUNAVFOR) no âmbito da operação Atalanta
Esta operação surgiu na sequência do aumento de atos de pirataria e assaltos à mão armada ao largo da costa da Somália a navios mercantes, de pesca e de recreio
A Operação Atalanta visa, prioritariamente, fazer escolta a navios mercantes que transportam ajuda humanitária do Programa Alimentar Mundial para o povo somali. Na foto, o navio Petra I
Sem Estado desde 1991, a Somália é um país assolado pela seca e disputado por milícias islâmicas (Al-Shabaab e Hizbul Islam)
A bordo da ‘Vasco da Gama’, seguia uma guarnição de 190 elementos
O navio tem embarcado um helicóptero – com o nome de guerra Bacardi – e uma equipa de fuzileiros
O helicóptero efetuou 144 horas de voo, em ações de patrulha e vigilância, reconhecimento e recolha de informações e ações de disrupção e abordagem
A peça de 100 milímetros, vulgo “canhão”, com que, sempre que oportuno, se treinam os atiradores e o equipamento
Operação de abastecimento a partir do navio norte-americano Leroy Grumman
A 19 de junho, a ‘Vasco da Gama’ intercetou, em pleno Golfo de Aden, uma embarcação do tipo skiff suspeita de atos de pirataria
Com o helicóptero no ar, a embarcação foi intercetada
De seguida, os fuzileiros da ‘Vasco da Gama’ efetuaram a abordagem
A bordo da skiff encontravam-se quatro pessoas e diverso material suscetível de ser utilizado em atos de pirataria
A operação visa também fazer a escolta aos navios de apoio logístico da AMISOM
A AMISOM é a missão da União Africana para a Somália. Apenas os soldados da AMISOM entram território somali
A ‘Vasco da Gama’ efetuou duas escoltas a um navio da AMISOM, entre Mombaça e Mogadíscio
A missão da fragata portuguesa decorreu num período em que as monções ainda não se faziam sentir, altura em que os atos de pirataria eram intensos
Pelo Golfo de Aden passa 95% do volume de comércio dos Estados membros da UE e 20% do comércio global
Os atos de pirataria nas costas da Somália já superaram a quantidade de ataques no Mar da China e no Estreito de Malaca
A 24 de maio, a tripulação exerceu o seu direito de voto, no âmbito das eleições legislativas, nas Seychelles
O dia-a-dia a bordo da fragata foi registado num blogue
No blogue, há entrevistas aos tripulantes, descrições do quotidiano e registos de iniciativas, como a formação de um Núcleo Sportinguista da ‘Vasco da Gama’
A operação Atalanta iniciou-se em 13 de dezembro de 2008. Tem um prazo de três anos

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de agosto de 2011. Pode ser consultado aqui

Livros e lápis para meninos afegãos

A 27 de julho, o contingente português no Afeganistão distribuiu material escolar numa escola carenciada, perto de Cabul. Os bens foram recolhidos em Portugal. Fotogaleria

A Escola Secundária de Pol-e-Charki tem cerca de 5500 alunos, de ambos os sexos
Os alunos estão divididos por 140 turmas, ainda que não haja salas de aula para todos…
Muitos alunos têm aulas ao ar livre, uns protegidos por uma cobertura de zinco, outros debaixo de Sol
A escola não tem eletricidade nem saneamento básico. Não existe qualquer espaço de lazer
O material escolar foi angariado em Portugal, junto de empresas, instituições e particulares
O comandante do contingente português, coronel Pedro Lopes, faz uma entrega simbólica ao diretor da escola
Situada a 5 km de Cabul, a aldeia de Pol-e-Charki é habitada sobretudo por militares afegãos
No campo militar de Pol-e-Charki, o contingente português dá formação a recrutas afegãos
Segundo a ONU, no Afeganistão, a média de anos de escolaridade é de 3,3
Para muitas afegãs, ir à escola implica desafiar os códigos sociais vigentes
Em 155º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, o Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo
A esperança de vida à nascença de um afegão é de 44,6 anos

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de julho de 2011. Pode ser consultado aqui

Aldeia afegã recebe ajuda portuguesa (vídeo)

O Expresso acompanhou os militares portugueses no Afeganistão numa ação de cariz humanitário. Bens recolhidos em Portugal foram entregues numa aldeia, a norte de Cabul. Reportagem no Afeganistão

Roupa, calçado, brinquedos, material escolar e cobertores, recolhidos em Portugal, beneficiaram uma aldeia pashtune, a norte de Cabul.

Os bens foram angariados pela Capelania da Base do Alfeite, Cáritas de Riachos, Casa do Pessoal da RTP/RDP, Escola Básica Galopim de Carvalho de Queluz e por familiares e amigos dos militares portugueses em missão no Afeganistão.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de abril de 2011. Pode ser consultado aqui

“Dizem que vamos de férias para o Afeganistão…”

Na hora do regresso a casa, soldado português que serviu pela primeira vez no teatro afegão partilha memórias e a sua frustração perante as dúvidas que existem em Portugal sobre a missão no Afeganistão. Reportagem no Afeganistão

A bordo do A310 operado pela HiFly, estacionado no aeroporto internacional de Cabul, a azáfama é grande entre os militares portugueses que terminam missão no Afeganistão. “Olhem, diz ali para apertarmos os cintos”, comenta um soldado de forma descontraída. “Deve ser por causa da crise em Portugal!” A gargalhada contagia a parte traseira do avião, onde se acomodam os praças do contingente nacional.

Apesar dos cerca de 7000 quilómetros de distância, os militares em missão no teatro afegão estão informados acerca das dificuldades que o país atravessa. Através da RTP Internacional e dos contactos diários com as famílias, facilitados pelas novas tecnologias, sabem que “o país está mal”, comenta um jovem soldado, ansioso pelo regresso a casa, após a sua primeira missão no Afeganistão. “Sabe que nos cortaram nos vencimentos quando estávamos aqui?”

Grécia e Irlanda pouparam militares

Após os cortes salariais que atingiram os salários da Função Pública em finais do ano passado, e que abrangeram também os militares, estes foram surpreendidos em fevereiro com a notícia de um novo corte em 10% (com retroativos a janeiro) no Suplemento de Missão — uma ajuda de custo que beneficia os militares destacados em missões humanitárias e de paz.

Igualmente em crise, Grécia e Irlanda, por exemplo, não adotaram igual medida. “Eu sei que o país está em crise e que todos temos de ajudar”, continua o soldado. “Mas gostava de saber o que vão fazer com o dinheiro que nos cortaram. Olhe, mais valia darem-no ao povo afegão, que vive com tantas dificuldades…”

No Exército, este militar recebe 583 euros por mês — um luxo, comparado com os 150 euros que lhe ofereceram na última proposta de trabalho recebida antes de decidir ingressar no Exército. “Tenho sorte em trabalhar e morar na região de Lisboa. Agora imagine os meus colegas do Norte. Com o que ganham não conseguem ir a casa…”

Perigos quotidianos

Filho de mãe desempregada e com irmãos mais novos dependentes, este soldado com 21 anos feitos no Afeganistão diz ser “o pilar da casa”. Não esconde que se voluntariou para servir no Afeganistão seduzido pelos 2500 euros do Suplemento de Missão. “Há muita gente no nosso país que diz que vimos para aqui só para ganhar dinheiro e passar férias. Claro que o dinheiro é importante! Mas não fazem a mínima ideia dos perigos que corremos todos os dias!”

Ao longo de seis meses, este militar desempenhou as funções de “apontador”. Durante as saídas dos veículos Hummer — em missões de proteção aos mentores portugueses que dão assistência na formação de soldados afegãos, por exemplo, ou de proteção ao Expresso em situações de reportagem —, o “apontador” é o militar que segue todo o percurso com metade do corpo fora da viatura, agarrado à metralhadora e com concentração absoluta em relação a tudo o que possa constituir uma ameaça ao veículo.

“Sinto que vim bem preparado para o Afeganistão. Mas no terreno é sempre diferente.” O perigo é real e, na berma da estrada, debaixo de um monte de pedras, de pedaços de lixo ou de um animal morto pode estar um explosivo de fabrico artesanal fatal, já para não falar dos bombistas suicidas, uma ameaça diária.

Regressar com a roupa do corpo

Na hora de fazer a mala para regressar a casa, o jovem ofereceu toda a sua roupa civil a trabalhadores afegãos de Camp Warehouse. “Dei tudo o que tinha: roupa de desporto, o pijama e até cuecas. Não fui só eu, outros militares fizeram o mesmo. Vou embora outra pessoa. Vi coisas que me marcaram muito. No inverno nevou bastante e vi crianças descalças com os pés na neve, sem terem o que calçar…”

Durante a longa viagem de regresso a Portugal — interrompida por uma escala em Bucareste para reabastecimento —, o jovem descreve as situações que mais o marcaram e mostra fotografias de momentos de convívio e de ações de formação com as tropas norte-americanas. “Gostei muito desta experiência!”

E partilha os seus planos para o futuro: “Com o dinheiro que ganhei no Afeganistão quero ir aos Estados Unidos e à Suíça tentar arranjar trabalho na área que mais gosto. Se não conseguir, regresso a Portugal e volto a voluntariar-me para o Afeganistão”.

(Militares portugueses, no aeroporto internacional de Cabul, a minutos do regressarem a casa MARGARIDA MOTA)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 19 de abril de 2011. Pode ser consultado aqui

Antes da missa… há ensaio!

Aos domingos, às 18h, há missa na capela adstrita ao contingente português, em Camp Warehouse. Um coro de militares anima a celebração. Reportagem no Afeganistão

A noite caiu fria e, no céu, relâmpagos aparatosos ameaçavam com uma carga de água sobre Cabul. À saída do refeitório português, o sargento-chefe Botelho não podia ser mais sincero: “Hoje, não me apetecia muito ir ao ensaio, mas o Capelão já me viu no refeitório…”

O contingente português tem um coro que anima a missa aos domingos na capela de Camp Warehouse. “Devia ter-nos ouvido há umas semanas… Éramos muitos e já cantávamos a várias vozes. Mas, entretanto, mais de metade do coro já se foi embora…”

Capela do contingente português, em Camp Warehouse MARGARIDA MOTA

Quando o Botelho entra na Capela, já alguns elementos do coro estão de cancioneiro na mão a escolher os cânticos para a próxima missa. O Capelão Silva dá liberdade de escolha, preocupado apenas em verificar se as músicas preferidas são adequadas ao tempo da Quaresma.

Guitarristas novatos 

Começa o ensaio e é notório que os coralistas — seis vozes no total, duas delas femininas — têm a maioria dos cânticos sabidos. A maior dificuldade passa por sincronizar as vozes com as três guitarras, duas delas acabadas de chegar ao grupo.

Teixeira, em início de missão como chefe da oficina portuguesa do Campo, empenha-se a marcar acordes nas partituras. Gato, que costuma fazer uma perninha como DJ no bar português — o mais concorrido de Camp Warehouse — não engata com as repetições dos cânticos. “É preciso eu pegar na guitarra para tocar isso em condições?”, ameaça o Reis. “Cheguei a ter aulas. Aprendi cinco notas…”

Lopes, que tem conhecimentos musicais e participa no grupo tocando flauta de bisel, sugere introduções musicais para os cânticos. E assume o papel de maestro quando vozes e guitarras não se entendem no andamento.

Dono de uma voz forte e afinada, Botelho quase desespera: “E pensava eu que isto ia ser rápido…” Do meio da confusão rítmica, alguém desabafa: “Vá lá pessoal, já vi funerais mais animados do que isto…”

Aos poucos, músicos e coralistas acertam no compasso. “Parecemos os U2!”, dispara um. Mas pelo sim pelo não, e porque este domingo é a última missa para alguns militares, de malas feitas para regressar a casa, o Capelão Silva agenda outro ensaio para uma hora antes da eucaristia. “Apareçam, temos de passar os cânticos outra vez!”

Capela, uma herança espanhola

A capela de Camp Warehouse foi construída pelo contingente espanhol e herdada pelos portugueses após nuestros hermanos saírem do Campo. Desde então, o templo foi beneficiado com a colocação de um sino, encomendado a uma empresa de Braga, e de vitrais, pintados pelos militares portugueses.

A ladear o altar, há uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e um Santo da devoção dos croatas. O contingente croata também se serve da Capela para organizar as suas cerimónias.

Vitral da capela MARGARIDA MOTA

Para além dos ensaios do coro, na Capela há catequese e sessões de formação humana e religiosa. No dia 24 de dezembro de 2010, teve lugar uma celebração, animada pelo Coro, que reuniu os Capelães português, francês, croata e a pastora protestante do contingente alemão.

Num cenário tão duro quanto o Afeganistão, é legítimo pensar que, em momentos, alguns crentes possam questionar a sua própria fé: “Muito pelo contrário”, responde o Capelão Silva. “Muitos aproximam-se da Igreja e a sua crença (tratando-se de praticantes ou não) vem ao de cima. Há militares que nas suas terras não vão à missa e aqui até participam no coro. Vão a Fátima antes de vir em missão. Pedem para benzer o terço que os acompanha para todo o lado durante a missão.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de abril de 2011. Pode ser consultado aqui