Arquivo de etiquetas: Mulheres

Protestos no Irão: regime responde com repressão no país e bombardeamentos no Iraque

A resposta do regime de Teerão à mais recente vaga de contestação popular não se circunscreve às fronteiras do país. Desde há quase uma semana que o Irão está a bombardear bases de militantes curdos iranianos no norte do Iraque. Teerão acusa esta minoria de mais de dez milhões de pessoas de estar ativamente envolvida nos protestos

Os protestos no Irão levam quinze dias nas ruas e, a atentar nas palavras do Presidente da República Islâmica, o pior pode estar para vir. “Estamos todos tristes com este trágico incidente”, disse Ebrahim Raisi, referindo-se à morte de Mahsa Amini, a iraniana de 22 anos que perdeu a vida na sequência de ferimentos infligidos quando estava sob custódia da polícia. Porém, “o caos é inaceitável”.

Em entrevista a uma televisão pública, quarta-feira, o Raisi procurou equilibrar sentimento e firmeza. “A linha vermelha do Governo é a segurança do nosso povo. Não se pode permitir que haja pessoas a perturbar a paz da sociedade provocando tumultos.”

As palavras de Raisi podem servir de aviso a qualquer cidadão que saia à rua para contestar o regime, mas também podem ter um alvo particular. “Existem provas que demonstram que partidos separatistas curdos (mais especificamente o Komala), que têm várias atividades terroristas contra o Irão no currículo, estão envolvidos ativamente nos protestos”, especialmente nas províncias ocidentais, desvenda ao Expresso o iraniano Mohammad Eslami, investigador na Universidade do Minho.

“Até ao momento, membros desses grupos que planeavam realizar ataques terroristas foram presos no Irão transportando bombas e armas.” No Irão, o Partido Komala do Curdistão Iraniano, fundado em 1969, tem o rótulo de “organização terrorista”.

Mahsa era curda

A especial participação dos curdos nos protestos pode ter explicação. Mahsa Amini, a mulher cuja morte está na origem das manifestações, pertencia à minoria curda do país, estimada em mais de dez milhões de pessoas. Apesar de ter morrido em Teerão — onde foi detida pela “polícia da moralidade” por usar o hijab (lenço) de “forma imprópria” —, a jovem vivia na sua cidade natal, Saqqez, na província do Curdistão (noroeste), encostada ao Iraque.

Os protestos em curso, que já contagiaram mais de 160 cidades iranianas, têm mobilizado os curdos em particular, mesmo fora do país. O vídeo abaixo mostra uma manifestação em Rojava, o Curdistão sírio.

A participação dos curdos e os receios de uma escalada dos protestos para um registo mais violento levaram o regime iraniano a visar o coração da “ameaça”. Desde há quase uma semana, o Irão tem em curso uma campanha de bombardeamentos a bases de militantes curdos iranianos localizadas no Iraque. A operação tem como nome de código “Profeta de Deus”.

Quarta-feira, a agência iraniana IRNA noticiava que ”alegadamente, os Guardas da Revolução usaram 360 mísseis guiados de precisão, bem como drones suicidas”. No mesmo dia, a agência Reuters noticiava que os ataques atingiram pelo menos dez bases perto de Erbil e Sulaimaniya e que havia notícia de 13 mortos e 58 feridos.

https://twitter.com/Tasnimnews_Fa/status/1575173859233259520

“Não permitiremos a formação de nenhuma ameaça à nossa volta”, afirmou Abbas Nilforoushan, vice-comandante de operações dos Guardas da Revolução, unidade de elite das forças armadas iranianas, citado pelo órgão de informação curdo “Rudaw”.

“Onde quer que os contrarrevolucionários estabeleçam bases e se tornem fonte de operações contra a segurança da República Islâmica e do povo iraniano e tentem coordenar ou liderar movimentos terroristas, serão alvejados. As bases que atingimos recentemente tiveram o papel principal nos motins dos últimos dias.”

“As autoridades iranianas estão a tentar fingir que todas as revoltas foram lideradas pelas forças Komala e que as exigências do povo iraniano estão limitadas aos seus direitos civis”, conclui o professor Eslami. “Na verdade, a associação [aos protestos] de tropas Komala que assumiram a liderança dos distúrbios na maioria das cidades, especialmente nas províncias ocidentais, tornou o controlo dos protestos mais difícil para as autoridades iranianas. Esta é a razão para os ataques dos Guardas da Revolução às bases Komala no Curdistão iraquiano.”

(FOTO Manifestação em Melbourne, na Austrália, em solidariedade com os protestos no Irão, a 29 de setembro de 2022 MATT HRKAC / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de setembro de 2022. Pode ser consultado aqui

Acabaram as áreas separadas para mulheres e homens nos restaurantes

Depois de conquistarem o direito de conduzirem e de viajarem para o estrangeiro sem autorização de um homem da família, as sauditas viram mais uma barreira em seu redor ser derrubada. Em cafés e restaurantes, deixam de estar separadas dos clientes masculinos

Neste McDonald’s, em Riade, uma divisória separa áreas de atendimento para mulheres e homens PATRICK BAZ / AFP / GETTY IMAGES

O ultraconservadorismo na Arábia Saudita acaba de sofrer mais um golpe. Cafés e restaurantes deixam de ser obrigados a providenciar salas de refeição e entradas separadas para as mulheres.

A decisão foi anunciada no domingo pelo Ministério dos Assuntos Municipais e Rurais que determinou que a restauração não necessita mais de “especificar espaços privados”.

Até agora, as sauditas estavam proibidas de usufruir das áreas frequentadas por clientes masculinos, sendo relegadas para zonas reservadas a famílias. Em pequenos cafés, sem espaço para áreas privadas, as mulheres estavam proibidas de entrar.

Mas a interdição já apresentava fissuras. Alguns cafés e restaurantes de hotéis de luxo de Riade, ou de cidades costeiras como Jeddah (oriente) ou Khobar (oriente) já autorizavam as mulheres a sentarem-se lado a lado com homens desconhecidos.

O fim da segregação de género nos restaurantes é a última de um conjunto de medidas que têm contribuído para acabar com as restrições de género na Arábia Saudita. Em agosto, as mulheres com mais de 21 anos passaram a poder tirar o passaporte — e sair do país — sem o consentimento do seu tutor masculino. Dois meses antes, já tinha sido abolida a proibição de conduzirem.

As sauditas já conquistaram também a possibilidade de ir a concertos e eventos desportivos antes reservados aos homens. E, nas escolas, as meninas passaram a ter educação física.

O toque do príncipe Salman

Este empoderamento das sauditas seguiu-se à nomeação de Mohammed bin Salman como príncipe herdeiro, a 21 de junho de 2017. Apostado em diversificar a economia, tornando-a menos dependente do petróleo, Salman tem promovido reformas sociais visando desenvolver o sector público e atrair investimentos estrangeiros.

As mulheres têm beneficiado com isso, pelo menos em teoria já que, apesar das mudanças na lei, muitos sauditas encaram a segregação de género como preceito religioso ou tradição cultural — algo que não se altera por decreto.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de dezembro de 2019. Pode ser consultado aqui

É a coisa mais simples do mundo mas ainda não o era para elas — ir à bola. Elas foram e estas são 15 imagens disso (e o jogo ficou 14-0)

Pela primeira vez em 40 anos, a República Islâmica do Irão permitiu a entrada às mulheres num estádio de futebol. Em Teerão, no relvado do Estádio Azadi, a seleção da casa e a do Camboja disputaram uma partida de qualificação para o Mundial da FIFA de 2022. Nas bancadas, a vitória foi delas — no campo, o Irão venceu por 14-0

ATTA KENARE / AFP / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
ATTA KENARE / AFP / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
AMIN M. JAMALI / GETTY IMAGES
ATTA KENARE / AFP / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de outubro de 2019. Pode ser consultado aqui

A ilusão das mulheres do Golfo

A princesa jordana que fugiu para Londres é só a ponta de um icebergue. O patriarcado impera e a igualdade é apenas uma miragem

No Médio Oriente, uma mulher em fuga à família, para lá dos contornos pessoais da história, ganha muitas vezes relevância pelo contexto sociocultural em que se move. Foi assim no início do ano, quando a jovem saudita Rahaf Mohammed al-Qunun escapou à família durante umas férias no Dubai. Numa escala em Banguecoque (Tailândia), barricou-se num quarto de hotel e começou a pedir ajuda, através da rede social Twitter, para conseguir asilo na Austrália.

Acusou a família de maus-tratos e disse não querer continuar a viver num país onde tinha de pedir permissão para trabalhar e onde não podia escolher com quem casar. O Canadá abriu-lhe as portas e Rahaf mostrou-se esperançosa de que a sua história contribuísse para “uma mudança das leis”. Na semana passada, um conjunto de decretos reais abalou o sistema de tutela masculina que continua a submeter a vida das sauditas à vontade dos homens da família. Entre outros direitos, as sauditas passam a poder viajar para o estrangeiro sem autorização masculina.

O caso de Rahaf não é único. Outros há em que as consequências de atos de mulheres em desespero extravasam o seio da família e atingem o interesse do Estado. Foi o que aconteceu recentemente após a fuga de uma princesa jordana para o Reino Unido.

Haya, a princesa rebelde

Haya bint Hussein, 45 anos, é filha do rei Hussein da Jordânia, falecido em 1999, e meia-imã do atual rei Abdullah II. É também a esposa mais jovem do emir do Dubai, Mohammed bin Rashid al-Maktum, de 70 anos. Formada em Filosofia e Economia na Universidade de Oxford, ex-presidente da Federação Internacional de Desportos Equestres e líder de organizações humanitárias apoiadas pela ONU, a princesa vive há dois meses em Londres com os dois filhos menores. Interpôs uma ação num tribunal da cidade, solicitando “proteção contra casamento forçado”. Num comunicado conjunto, o casal informou que a ação visa só o bem-estar dos filhos e não um eventual divórcio. A audiência está marcada para 11 de novembro.

“Na Jordânia, há muito apoio à princesa Haya. Há uma reação emocional que decorre da tristeza que ainda provoca a morte da sua mãe [Alia al-Hussein] num trágico acidente [de helicóptero, em 1977]”, diz ao Expresso a jordana Lamis Andoni, perita em assuntos do Médio Oriente. “Há também um apoio feminista, por parte de pessoas solidárias que acreditam na história dela.”

Efeitos chegam… à Palestina

As razões da fuga de Haya circulam no domínio dos rumores. Quem a defende diz que quer proteger os filhos de casamentos forçados. Os seus detratores insinuam uma relação próxima com um guarda-costas britânico. Quaisquer que sejam os motivos para a desavença entre o casal, “não é provável que este caso afete a relação entre a Jordânia e os Emirados Árabes Unidos” (EAU, de que o Dubai é um de sete emirados). “Essa relação baseia-se em questões prioritárias de segurança nacional e cooperação económica para os dois países”, comenta ao Expresso David Mack, investigador do Middle East Institute, Washington D.C., e ex-embaixador dos EUA nos Emirados.

Mas a relação já teve melhores dias. Acrescenta Andoni: “A Jordânia e os EAU são aliados, mas mesmo antes deste caso já havia tensão provocada por Mohamed bin Zayed [príncipe herdeiro dos EAU], que tem exercido grande pressão sobre a Jordânia”. “Mohamed bin Zayed faz parte do plano de Donald Trump para a Palestina. Ele quer que o rei da Jordânia o aceite incondicionalmente. Arábia Saudita e Emirados estão a pressionar a Jordânia. Mohamed bin Salman [príncipe herdeiro saudita] não tem estado tão ativo como anteriormente, mas ambos continuam a não questionar o que Trump quer fazer com o chamado ‘Acordo do Século’”, prossegue o especialista.

O plano do Presidente dos EUA não é ainda do domínio público. Mas, diz Andoni, “os pontos de vista da sua equipa são muito claros na sua essência”. Trump recusa-se a apoiar de forma inequívoca a solução de dois Estados (Israel e Palestina) e abstém-se de condenar a construção de colonatos judeus em terras palestinianas. Ao não prever expressamente um Estado palestiniano, o plano põe em causa a estabilidade da Jordânia — separada da Cisjordânia pelo rio Jordão —, onde mais de metade da população é palestiniana. A rainha Rania é disso exemplo: nasceu no Kuwait no seio de uma família da Cisjordânia.

Para os sectores israelitas mais nacionalistas, a Palestina já existe: é a Jordânia, que tem um tratado de paz com Israel. A solução passa, então, por empurrar as populações árabes para a Jordânia, para que Israel fique com o controlo da Palestina histórica. “A Jordânia não pode dar-se ao luxo de concordar com todos os elementos do plano de Trump”, diz a jordana.

Os dois rostos do Dubai

O impacto da fuga de Haya na política externa da Jordânia é um dos lados da moeda. Na outra face está a imagem que casos como este (ver caixa) transmitem do Dubai, território que se afirma com construções cada vez mais modernas e arrojadas, como o Burj Khalifa, com 828 metros de altura, ou a Palmeira Jumeirah, ilha em forma de palmeira com hotéis e apartamentos luxuosos. Ao contrário do “irmão” Abu Dhabi, o Dubai não assenta a sua economia no petróleo e no gás, mas no imobiliário e no turismo.

“Em termos socioculturais, o Dubai e o resto dos EAU são conservadores, embora não tão intolerantes quanto a Arábia Saudita”, diz Mack. “Os forasteiros tendem a deslumbrar-se com os novos prédios e o estilo de vida cosmopolita exibido pelos estrangeiros, que ali são a grande maioria.” Confundi-lo com a essência do país resulta numa ilusão, tal como pensar que nos palácios do Dubai a vida das princesas é um conto de fadas.

FUGIDAS ÀS GARRAS DO PAI

Princesa Latifa

Filha do emir do Dubai e da argelina Houria Lamara, fugiu em fevereiro de 2018, aos 32 anos. Foi de carro para Omã, onde usou uma moto de água para subir para um barco. Foi intercetada ao largo de Goa, na Índia. Gravara um vídeo para o caso de ser apanhada. Dizia querer viver livre

Princesa Shamsa

Irmã de Latifa, em 2000 aproveitou férias numa propriedade inglesa da família para fugir (tinha 19 anos). Uma busca ordenada pelo pai localizou Shamsa em Cambridge, após escutas telefónicas. Metida à força num carro, seguiu de helicóptero para França e de avião privado para o Dubai

(FOTO Sheikh Mohammed Bin Rashid Al Maktoum e a princesa Haya Bint Al Hussein, numa fotografia de 2016 ALI HAIDER / EPA-EFE / SHUTTERSTOCK)

Artigo publicado no “Expresso”, a 10 de agosto de 2019

Revolução de mulheres à solta no Twitter

Uma jovem saudita fugiu do país expondo a atual fragilidade do Reino

Imagem de um vídeo de Rahaf Mohammed al-Qunun, feito dentro do quarto onde se barricou, no aeroporto de Banguecoque TWITTER RAHAF MOHAMMED

Três meses após o macabro assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, que implicou o regime da Arábia Saudita, fragilizando-o na cena internacional, aquele que é um dos países mais poderosos e conservadores do mundo está novamente posto à prova. Rahaf Mohammed al-Qunun, de 18 anos, filha do governador de Al-Sulaimi (norte), ousou fugir do Reino e de um futuro traçado pelos rígidos códigos sociais que subordinam a vida das mulheres à vontade dos homens da família.

Determinada a exilar-se na Austrália, após acusar a família de maus tratos, foi intercetada na Tailândia, onde o passaporte lhe foi confiscado. Para resistir ao repatriamento forçado barricou-se num quarto de hotel no aeroporto de Banguecoque e exigiu falar com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. “Se a jovem não quer partir, não será enviada contra a sua vontade”, declarou o chefe da polícia tailandesa de Imigração. A ONU acabaria por entrevistá-la, validar a sua história e levá-la para “local seguro”. Tudo isto em 48 horas.

“Há certamente um ‘efeito Khashoggi’ neste caso”, comenta ao Expresso a ativista dos direitos humanos suíço-iemenita Elham Manea. “Em 2017, num caso semelhante, Dina Ali ia para a Austrália e foi parada no aeroporto de Manila [Filipinas]. Foi arrastada contra a vontade para um avião que a levou de volta para a Arábia Saudita. O mundo limitou-se a assistir. Ninguém sabe o que lhe aconteceu depois…”

A arma do telemóvel

“Sem o ‘efeito Khashoggi’, a fuga teria passado despercebida à comunidade internacional e a ONU não teria agido de forma rápida e decisiva”, diz ao Expresso Manuel Almeida, investigador no Centro do Médio Oriente, da Escola de Economia e Ciência Política de Londres. “A morte do jornalista fica apenas atrás do 11 de Setembro como mancha permanente na reputação saudita.”

À hora de fecho desta edição, Rahaf continuava sob tutela da ONU, à espera de notícias da Austrália. Ontem, massacrada com ameaças de morte, suspendeu a conta no Twitter, o canal com o mundo sem o qual, uma semana após ter fugido, não manteria acesa a esperança num futuro em liberdade. Diante de jornalistas tailandeses, o encarregado de negócios saudita afirmaria que, em vez do passaporte, as autoridades locais deveriam ter-lhe apreendido… o smartphone.

A odisseia de Rahaf é rápida de contar. De férias com a família no Kuwait — onde, ao contrário da Arábia Saudita, as mulheres não necessitam de autorização masculina para viajar sozinhas —, Rahaf comprou uma viagem com destino à Austrália. Travada na escala em Banguecoque faz hoje uma semana abriu uma conta no Twitter quando se sentiu apertada pelas autoridades. Foi o tiro de partida para uma revolução em sua defesa, que galgou as fronteiras digitais graças, em especial, ao empenho de várias mulheres.

Atenta aos tweets desesperados da jovem, Sophie McNeill, uma jornalista australiana da televisão ABC, foi ao seu encontro conseguindo que ela lhe abrisse a porta do quarto. Rahaf haveria de agradecer-lhe essa “proteção”. No Twitter, a feminista egípcia Mona Eltahawy deu visibilidade ao caso, levando um exército de seguidores a fazer pressão junto de organizações, embaixadas e deputados de todo o mundo. E após Rahaf obter proteção da ONU, três jovens sauditas foram importantes para não deixar o caso morrer. Desde a Austrália, a Suécia e o Canadá, foram-se revezando na gestão do Twitter.

Manuel Almeida não prevê que o caso de Rahaf tenha consequências diretas no sistema de tutela masculina em vigor. “Mas acredito que o país caminha a passos largos para a sua abolição. Na Arábia Saudita, há mais mulheres do que homens a estudar, e obtêm melhores resultados em ciências, engenharia e matemática. Há mais mulheres a formarem-se e um número crescente a entrar no mercado de trabalho. Com o tempo, o sistema de tutela masculina será insustentável política, económica e socialmente.”

Artigo publicado no Expresso, a 12 de janeiro de 2019. Pode ser consultado aqui