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O efeito Bin Laden no combate à pandemia

A taxa de vacinação contra a covid-19 no Paquistão é muito baixa. Para tal contribui a escassez de doses, mas também um sentimento antiocidental em torno das campanhas de inoculação. A operação militar norte-americana que identificou e executou Osama bin Laden numa cidade paquistanesa, há dez anos, dá algumas respostas…

Campanha sobre cuidados a ter durante a pandemia, desenvolvida pelo Crescente Vermelho do Paquistão LINKEDIN PAKISTAN RED CRESCENT

A corrida contra o tempo implícita nas campanhas de vacinação contra a covid-19 que decorrem por todo o mundo tem obstáculos acrescidos no Paquistão. Neste país de mais de 225 milhões de pessoas, a resistência às vacinas é uma realidade, alimentada por rumores que atribuem a origem da pandemia a uma conspiração estrangeira e encaram as vacinas como venenos.

“Há uma resistência popular às vacinas, especialmente nas áreas rurais”, diz ao Expresso Jassim Taqui, analista político paquistanês. “As pessoas acreditam numa teoria da conspiração que sustenta que as vacinas, tanto as chinesas como as ocidentais, visam esterilizar os muçulmanos para que a sua população seja sistematicamente limitada ou para alterar a sua genética, transformando as novas gerações em animais semelhantes aos macacos.”

Estas crenças levam muitos paquistaneses a viver a pandemia em negação. Mas algo mais contribui fortemente para esse ceticismo: o efeito Osama bin Laden.

A 2 de maio de 2011, o então líder da Al-Qaeda foi morto durante um ataque de forças especiais norte-americanas à casa onde vivia, na cidade paquistanesa de Abbottabad. Para localizar o terrorista, a CIA organizara, previamente, uma falsa campanha de vacinação contra a hepatite B na localidade onde se suspeitava que Bin Laden estivesse escondido. O objetivo era tão somente recolher amostras de ADN de crianças que se suspeitava serem próximas do homem mais procurado do mundo.

“A falsa campanha de vacinação que levou à morte de Osama bin Laden desempenhou um papel fundamental na resistência às vacinas ocidentais no Paquistão e, em geral, a todas as outras vacinas. Mesmo pessoas instruídas questionam a eficácia das vacinas, uma vez que não há indicações ou dados que sugiram que a inoculação garante a imunidade ou que os vacinados não voltem a ser atacados pela covid-19”, explica Jassim Taqui.

Foi o caso do primeiro-ministro Imran Khan e do Presidente Arif Alvi, a quem o coronavírus foi diagnosticado poucos dias após receberem a primeira dose da vacina. “As pessoas acreditam que os países que produziram essas vacinas são motivados, em parceria com a Organização Mundial do Comércio [OMC], por benefícios monetários enormes provenientes da comercialização dessas vacinas e não pelo combate à pandemia.”

Retaliação sobre a Save the Children

Descoberto o embuste em redor da operação de captura de Bin Laden, o Governo paquistanês expulsou do país a organização Save the Children, apesar de esta ONG negar que o médico paquistanês que orquestrou a falsa vacinação trabalhasse para si.

Paralelamente, sectores extremistas da sociedade paquistanesa cavalgaram a onda anti-vacinas, acusaram os voluntários ao serviço das campanhas de imunização de serem agentes da CIA e incentivaram a um sentimento antiocidental.

Em junho de 2012, a liderança dos talibãs paquistaneses emitiu um decreto religioso (fatwa) contra o programa de vacinação do Governo. Desde então, tornaram-se frequentes ataques contra equipas de vacinação, que já levaram à morte de dezenas de pessoas, a maioria pessoal de saúde do sexo feminino e agentes da segurança que trabalhavam no apoio às ações de vacinação.

Tudo contribui para que, dez anos depois da falsa campanha que detetou Bin Laden, os paquistaneses não esqueçam o estratagema e desconfiem da boa vontade de quem lhes bate à porta com o intuito de injetarem-lhes um líquido no corpo.

“Penso que [o episódio Bin Laden] prejudicou a confiança nas vacinas não só no Paquistão, mas em todo o mundo, onde existe desconfiança entre populações e governos, especialmente em zonas de conflito”, diz ao Expresso o epidemiologista paquistanês Rana Jawad Asghar, professor na Universidade de Nebraska (EUA).

Consequências também nos EUA

A 6 de janeiro de 2013, vários reitores de escolas de saúde pública dos EUA escreveram uma carta ao então Presidente Barack Obama comparando o uso de campanhas de vacinação pela CIA à infiltração, décadas antes, de espiões americanos na Peace Corps, agência federal dos EUA, criada em 1961 pelo Presidente John F. Kennedy, para ajudar os países em desenvolvimento.

Cerca de meio ano depois, o então diretor da CIA, John Brennan, proibiu o uso de programas de vacinação nas operações de espionagem. Mas pelo menos no Paquistão, o mal estava feito.

Em finais de janeiro passado, sensivelmente na mesma altura em que foram confirmados os primeiros casos de covid-19 no Paquistão, uma sondagem da Gallup Paquistão concluiu que 49% dos inquiridos não tencionavam tomar a vacina. E dos 46% que aceitavam, apenas 4% preferiam uma vacina produzida na Europa ou EUA.

Foi em contexto de grande ceticismo em relação à covid-19 que, a 3 de fevereiro, arrancou a campanha de vacinação no Paquistão. Na véspera, chegara ao país um carregamento de 500 mil doses da vacina chinesa da Sinopharm, uma gota nas necessidades do país, mas que permitiu iniciar o processo.

“De início, as autoridades sanitárias confiaram totalmente nos chineses, pensando que receberiam as vacinas de graça. Isso não aconteceu. Os chineses exigem dinheiro, embora afirmem que deram ao Paquistão meio milhão de vacinas como presente”, diz Jassim Taqui.

“Depois, o Governo decidiu comprar vacinas a empresas russas e britânicas. Atualmente, o Paquistão criou um laboratório conjunto com a China para encher localmente as vacinas [da chinesa CanSinoBio, de uma dose apenas]. E paga aos chineses por isso.”

4,84

em cada 100 paquistaneses já tomaram a vacina (até 13 de junho). Em Portugal, esse rácio é de 67,09

Rana Jawad Asghar identifica três razões para a baixa taxa de vacinação. “Antes de mais, o Paquistão teve problemas com o fornecimento de vacinas. Isso, por sua vez, obrigou o Governo a não convidar ativamente as pessoas a vacinarem-se, pois temia não poder atender à procura se muitas pessoas o solicitassem. Em segundo lugar, a desinformação sobre vacinas é galopante não apenas no Paquistão, mas em todo o mundo. A falta de informação nas áreas pobres e rurais pode ser uma terceira causa, menos importante.”

No Paquistão, as dificuldades em torno da vacinação têm sido nefastas para o combate contra outras doenças, para além da covid-19. Dadas como erradicadas em grande parte do mundo, a poliomielite e a febre tifoide continuam ativas no país.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de junho de 2021. Pode ser consultado aqui

Filho de Bin Laden apela à união jiadista na Síria

Na velha tradição do pai Osama, Hamza bin Laden divulgou uma gravação áudio onde defende que a guerra na Síria é “o melhor campo de batalha” para “a libertação da Palestina”

Osama bin Laden morreu há cinco anos, mas deixou sucessores em matéria jiadista. Um dos seus 24 filhos, Hamza bin Laden, gravou uma mensagem de áudio, divulgada na internet, onde apela à união jiadista na Síria que considera ser o “melhor campo de batalha” para “libertar Jerusalém”.

“A estrada para a libertação da Palestina é hoje muito mais curta do que antes da sagrada revolução síria”, disse. No conflito sírio, a Frente Al-Nusra é o grupo mais próximo da Al-Qaeda. Este grupo jiadista combate o regime de Bashar al-Assad e também o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh).

“A ummah [nação islâmica] devia concentrar-se na jihad [guerra santa] no Levante e unir as suas hostes de mujahidin [combatentes] nessa zona”, disse o filho do fundador da Al-Qaeda. “Não há mais desculpas para aqueles que insistem em divisões e disputas numa altura em que todo o mundo mobilizou-se contra os muçulmanos.”

Hamza bin Laden nasceu em 1991 e, cre-se, era o favorito de Osama. À semelhança do que acontecia com o pai, o seu paradeiro não é conhecido. A mãe, Khairiah Sabar, era uma das três esposas que viviam com Osama na cidade paquistanesa de Abbottabad, onde foi abatido por forças especiais dos EUA, a 2 de maio de 2011.

Esta não é a primeira vez que Hamza bin Laden faz ouvir a sua voz. Em agosto de 2015, contas jiadistas no Twitter divulgaram uma mensagem em que apelava a ataques contra o Ocidente, especificando algumas cidades-alvo: Londres, Washington, Paris e Telavive.

A mensagem de Hamza bin Laden segue-se a uma outra no mesmo sentido gravada por Ayman al-Zawahiri, o médico egípcio que sucedeu a Osama na liderança da Al-Qaeda, e divulgada no domingo. Após vários meses de silêncio, Al-Zawahiri — que, no passado, criticou o extremismo do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) — disse: “Atualmente, a unidade é uma questão de vida e morte. Ou nos unimos para vivermos com dignidade enquanto muçulmanos, ou lutamos e separamo-nos e somos comidos um por um”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de maio de 2016. Pode ser consultado aqui

Falsa campanha de vacinação para chegar a Bin Laden

Mal suspeitou da presença de Bin Laden em Abbottabad, a CIA organizou uma campanha de vacinação fictícia contra a hepatite B. Uma investigação do jornal inglês “The Guardian”

A morte de Osama bin Laden continua a alimentar o argumento para um bom filme de espionagem. Segundo uma investigação do diário “The Guardian”, a CIA organizou uma campanha de vacinação falsa na cidade onde o líder da Al-Qaeda vivia, com o intuito de recolher ADN de um dos seus filhos.

A estratégia passaria por, recolhido o ADN, compará-lo a uma amostra de ADN de uma irmã de Bin Laden que faleceu em Boston, no ano passado. A confirmar-se a compatibilidade, provaria a presença da família em Abbottabad.

De acordo com o jornal inglês, uma enfermeira chamada Mukhtar Bibi conseguiu entrar na casa de Bin Laden para administrar as vacinas. A técnica terá levado consigo uma mala de mão equipada com um dispositivo eletrónico. “Não é claro que tipo de dispositivo era, nem se ela o conseguiu deixar na casa”, escreve o “The Guardian”. “Também não se sabe se a CIA conseguiu obter ADN de Bin Laden, embora uma fonte sugira que a operação não teve sucesso.”

Cartazes enganadores

O plano de vacinação foi concebido após os serviços secretos norte-americanos terem seguido Abu Ahmad al-Kuwaiti, um mensageiro da Al-Qaeda denunciado por vários detidos em Guantánamo, até à residência de Bin Laden. Seguiu-se um período de observações à casa, por satélite e a partir de um posto da CIA em Abbottabad, ao que se segue a ideia da campanha.

Para organizá-la, a CIA recrutou o médico paquistanês Shakil Afridi, um funcionário governamental com responsabilidades na área tribal de Khyber, junto à fronteira com o Afeganistão. Afridi deslocou-se a Abbottabad em março, dizendo possuir fundos para o desenvolvimento de uma campanha de vacinação grátis contra a hepatite B.

Por toda a cidade, foram afixados cartazes publicitando a iniciativa médica, dando destaque a uma vacina produzida pela farmacêutica Amson, sedeada nos arredores de Islamabade.

Funcionários dos serviços de saúde do governo regional foram pagos para participar na campanha, ignorando o seu real objetivo. Para tornar a campanha mais credível, a vacinação foi iniciada numa zona pobre de Abbottabad.

Corte nos milhões para o Paquistão

Esta campanha surgiu da necessidade de confirmar a presença de Bin Laden na área, antes da realização de uma operação militar de risco e previsivelmente polémica — no interior de outro país e à revelia das autoridades nacionais.

A posterior detenção do médico paquistanês, pelos serviços secretos paquistaneses (ISI), agravou as já de si deterioradas relações entre Washington e Islamabade.

No passado fim de semana, os Estados Unidos anunciaram um corte em 800 milhões de dólares (566 milhões de euros) na ajuda militar ao Paquistão — correspondente a cerca de um terço do valor total anual. O Paquistão “tomou algumas medidas que nos deram razões para suspendermos parte da ajuda”, afirmou Bill Daley, chefe de gabinete da Casa Branca.

Osama bin Laden foi assassinado a 2 de maio, dentro da casa onde morou nos últimos seis anos de vida, perto da capital do Paquistão. Na sequência de um raide militar norte-americano.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de julho de 2011. Pode ser consultado aqui

“Bin Laden nunca usou mulheres nas suas batalhas”

Ferida no raide de Abbottabad, a quinta esposa de Bin Laden está sob custódia do Paquistão. Homem que arranjou o casamento alerta para o perigo de ser entregue aos EUA

A família de Osama bin Laden INFOGRAFIA DAILY MAIL

“Pia, zelosa, nova, de boas maneiras, oriunda de uma família decente e, acima de tudo, paciente. Ela terá de assumir as minhas circunstâncias excecionais.” Quando Osama Bin Laden decidiu casar-se pela quinta vez, não se inibiu de discriminar as características desejadas para a sua futura esposa.

A ‘encomenda’ foi feita a um sheikh iemenita, residente em Cabul e próximo do líder da Al-Qaeda. Estava-se em setembro de 1999 e Bin Laden, com 44 anos, vivia no Afeganistão, a coberto do regime talibã que governava o país. Rashad Mohammed Saeed Ismael, o tal sheikh iemenita, pregava na capital afegã.

O pedido chegou um dia por telefone. Rashad logo identificou o par ideal para Bin Laden: Amal Ahmed al-Sadah, de 17 anos, filha de um operário da construção civil. Fora sua aluna e vivia na sua cidade natal: Ibb, no sudoeste do Iémen.

Casamento no coração da luta talibã

O iemenita procurou a rapariga, explicou-lhe quem era Bin Laden e descreveu-lhe o seu modo de vida saltimbanco. A jovem aceitou e a sua família recebeu um dote de 5000 dólares. Seguiu para o Paquistão onde, dias depois, Bin Laden acorreu para a levar para o Afeganistão. Casaram-se em Kandahar, ainda hoje o coração da insurgência talibã.

A 2 de maio de 2011, Amal ficou ferida durante o raide norte-americano à casa onde vivia, em Abbottabad, no Paquistão, juntamente com Bin Laden. Juntamente com Safiyah, a filha de 10 anos, está agora sob custódia das autoridades paquistanesas.

Rashad, que se afirma como um forte apoiante da Al-Qaeda no Iémene, exige que Amal regresse ao país onde nasceu. “No Islão, temos uma prática chamada ardth [honra familiar]. Quando uma mulher como Amal fica viúva, é dever de todos os muçulmanos cuidar dela e assegurar-lhe segurança. O povo do Iémene quer que ela regresse a casa.”

Honra das mulheres é intocável

Rashad acredita que o destino da família de Bin Laden pode ter consequências mais gravosas do que a própria morte do líder da Al-Qaeda. “Nós [Al-Qaeda no Iémene] recebemos a notícia da morte de Bin Laden com felicidade porque sabíamos que ele queria morrer como um mártir às mãos dos americanos. Mas o destino da sua família é uma questão de honra das mulheres, algo que consideramos intocável.”

Há quem receie que se Amal voltar ao Iémene possa ser utilizada como peão, no âmbito da revolução em curso no país e ser entregue pelo contestado Presidente Ali Abdullah Saleh aos Estados Unidos.

Para Rashad, qualquer ação dos EUA contra Amal ou a sua família “causará uma explosão entre o ocidente e o mundo islâmico. As mulheres não são combatentes. A América sabia que Bin Laden nunca usou mulheres nas suas batalhas”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de maio de 2011. Pode ser consultado aqui

Al-Qaeda, 20 anos a espalhar medo

Nasceu no Paquistão e disseminou-se pelo mundo. O Expresso faz um ‘dicionário’ da organização terrorista

Osama bin Laden (à esquerda) e Ayman al-Zawahiri, durante uma entrevista ao jornalista paquistanês Hamid Mir, a 8 de novembro de 2001 HAMID MIR / WIKIMEDIA COMMONS

A 11 de Agosto de 1988, uma reunião entre Osama Bin Laden, Ayman al-Zawahiri e Sayyed Imam Al-Sharif (dr. Fadl), em Peshawar (Paquistão), criou a Al-Qaeda (AQ) — “a base”. Bin Laden era o garante de uma riqueza extraordinária; Al-Zawahiri, líder da Jihad Islâmica Egípcia, personificava uma crença inabalável no radicalismo islâmico; e o intelectual egípcio dr. Fadl a base filosófica da “jihad”. Vinte anos depois, a AQ tornou-se a organização terrorista mais temida de sempre. De A a Z, o Expresso caracteriza essa hidra.

Aden Foi nesta cidade portuária do Iémen que a AQ atentou pela primeira vez: a 29 de Dezembro de 1992, um ataque contra o Gold Mihor Hotel matou duas pessoas.

Bin Laden Oriundo de uma família rica, próxima da realeza saudita, o líder da AQ nasceu a 10 de Março de 1957, em Riade.

Constelação AQ Mais do que uma organização altamente centralizada, a AQ consiste numa galáxia de grupos regionais que partilham uma ideologia, objectivos estratégicos, “modus operandi” e um ódio fanático aos EUA, a Israel e aos regimes muçulmanos que traem o verdadeiro Islão. Os atentados em Nova Iorque (2001), Bali (2002), Casablanca (2003) e Londres (2005) atestam a eficácia global da AQ.

Documentário Produzido pela BBC, ‘O Poder dos Pesadelos’ (2004) defende que a ameaça do radicalismo islâmico é um mito perpetrado, designadamente, pelos neoconservadores americanos, por forma a unir o povo após o falhanço das ideologias.

Embaixadas A 7 de Agosto de 1998, ataques simultâneos às representações diplomáticas dos EUA em Nairobi (Quénia) e Dar-es-Salaam (Tanzânia) fizeram 224 mortos. Bill Clinton mandou bombardear os campos de treino da AQ no Afeganistão.

Financiamento Criado em 1984, por Abdullah Azzam e Bin Laden, o “Maktab al-Khidamat” foi uma espécie de precursor da AQ. Este escritório angariava fundos e recrutava “mujahedines” estrangeiros para lutar contra os soviéticos no Afeganistão.

Guerra ao terrorismo Esta expressão engloba as acções legais, políticas ou militares adoptadas pelo Governo dos EUA. Oficialmente, visam a contenção de ameaças terroristas.

Hierarquia Se Bin Laden é o rosto da AQ, Ayman al-Zawahiri é o principal estratega. Desconhece-se o paradeiro de ambos.

Internet O ciberespaço é um elemento-chave no processo de treino, planeamento e logística da AQ. Há quem considere a AQ a primeira rede de guerrilha direccionada para a internet.

“Jihad” Recorrendo à “guerra santa”, a AQ — uma organização sunita de inspiração wahabita (uma interpretação conservadora do Islão) — prossegue o fim da influência estrangeira nos países muçulmanos e a instituição de um califado universal.

“Kamikaze” Por razões teológicas, a AQ sempre se opôs à utilização de mulheres em ataques-suicidas. Quando, no Iraque, Al-Zarqawi acolheu voluntárias suicidas, a AQ nunca comentou.

Lawrence Wright Premiado com um Pulitzer, este especialista no mundo muçulmano escreveu um livro sobre o 11 de Setembro (‘A Torre Ameaçadora’) que resulta de entrevistas a “jihadistas”, espiões, peritos, funcionários, amigos, mulheres e amantes de protagonistas. Revela também as fraquezas da AQ.

Manchester Foi nesta cidade britânica que, em Abril de 2000, a Polícia apreendeu um manual da AQ. Nele havia recomendações sobre como conduzir operações de combate, escapar a uma situação de captura ou comportar-se em cativeiro.

Nedal “Laden” ao contrário foi um vírus criado por um “ciberjihadista” chamado ‘Melhacker’. Quando a invasão do Iraque se tornou iminente, ele infectou milhares de “e-mails” nos EUA.

Operação Cannonball Com início previsto para 2006, esta acção da CIA visava a captura de Bin Laden. A rivalidade entre as agências de informação norte-americanas ditou o fracasso.

Pearl A 1 de Fevereiro de 2002, o norte-americano Daniel Pearl, que tinha sido raptado, foi decapitado em Karachi. O jornalista do ‘Wall Street Journal’ investigava alegados laços entre a AQ e a secreta paquistanesa.

Qatar Acolhe a sede da Al-Jazira, a televisão árabe que, após o 11 de Setembro, ganhou mediatismo ao difundir mensagens de Bin Laden. O braço da AQ para os “media” é, porém, a As-Sahab, uma produtora de conteúdos com a chancela AQ.

Reino Unido Os ataques suicidas contra o sistema de transportes de Londres, a 7 de Julho de 2005, matando 52 pessoas, confirmou a Europa como um alvo da AQ. No ano anterior, a 11 de Março, em Madrid, dez explosões em comboios tinham provocado 191 mortos.

Sudão Este país africano deu guarida a Bin Laden entre 1991 e 1996. Após pressão dos EUA, o saudita foi expulso, rumando, de seguida, ao Afeganistão.

Talibã O regime dos “estudantes de Teologia” providenciou um santuário à AQ. Suspeita-se que Bin Laden esteja escondido nas montanhas junto à fronteira entre Paquistão e Afeganistão.

USS Cole Contrária à presença militar norte-americana em solo muçulmano, a 12 de Outubro de 2000, a AQ realizou uma acção suicida que visou o contratorpedeiro USS Cole, no porto de Aden. Morreram 17 marinheiros.

Vídeos Entre boatos que o dão como morto, de tempos a tempos, Bin Laden — que, crê-se, tem uma deficiência glandular chamada doença de Addison — renova as suas ameaças em vídeos e gravações áudio. Desde o 11 de Setembro, já foram difundidas mais de 20 mensagens.

World Trade Centre O mítico edifício de Nova Iorque foi, por duas vezes, alvo da AQ. A 26 de Fevereiro de 1993, uma bomba matou seis pessoas e feriu mais de 1000. A 11 de Setembro de 2001, dois aviões suicidas embateram nas torres-gémeas de 110 pisos, matando 3000. O ataque terá custado 500 mil dólares.

“X-files” Em 1996, a CIA criou a Unidade Bin Laden para seguir o rasto do terrorista saudita. O grupo de trabalho foi desarticulado em 2005. Bin Laden permanece um dos dez terroristas mais procurados pelo FBI.

Yanbu O ataque de quatro atiradores à Petroquímica Yanbu, na Arábia Saudita, a 1 de Maio de 2004, colocou a indústria petrolífera na mira da AQ. Outros ataques seguir-se-iam, com uma tónica semelhante: matar estrangeiros, mas não muçulmanos.

Zarqawi Até ser morto, em 2006, o jordano Abu Musab al-Zarqawi — líder da Al-Qaeda no Iraque — foi um dos principais instigadores da insurgência islamista. Já a ligação de Saddam Hussein a Bin Laden nunca foi provada.

Artigo publicado no “Expresso”, a 9 de agosto de 2008 e republicado no “Expresso Online”, a 2 de maio de 2011. Pode ser consultado aqui