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Na Mauritânia, o sabão amarelo é herói no combate ao coronavírus. Graças a uma artista portuguesa

A viver na Mauritânia há quase 16 anos, Isabel Fiadeiro criou desenhos para sensibilizar a população para os cuidados a ter face à pandemia. Um pedaço de sabão amarelo, uma chaleira e um vírus “simpático” ajudam a passar as mensagens

“Saboun”, o sabão amarelo de fabrico mauritano ISABEL FIADEIRO

No coração da Mauritânia, há uma pintora e desenhadora portuguesa na primeira linha do combate ao novo coronavírus. Isabel Fiadeiro, de 57 anos — 16 dos quais vividos em Nouakchott —, recorreu à sua arte para aconselhar boas práticas sanitárias em tempos de pandemia e criou “As Aventuras do Saboun no Reino do Corona”. Com estes desenhos explica, de forma lúdica, cuidados a ter no dia a dia, nomeadamente a importância da lavagem das mãos.

A saga tem três protagonistas: Saboun (o sabão amarelo mauritano) e o seu amigo Mak Grech (uma chaleira com um chuveiro de água a sair pelo bico, com nome parecido à designação do objeto no dialeto árabe mauritano, o hassania). E ainda o corona “que embora esteja sempre com cara de zangado é um vírus simpático, com botas de cowboy. E porquê? Porque os vírus fazem parte da vida na terra”, explica a autora ao Expresso.

“O sabão amarelo é feito na Mauritânia e é vendido por todo o país, em pequenas mercearias que existem a cada esquina. Custa muito pouco dinheiro e faz muita espuma. Realcei este sabão que toda a gente pode comprar, que é desprezado por muitos e visto como o sabão dos pobres, mas que é o ideal para lavar as mãos devido à quantidade de espuma que faz.”

Outra vantagem deste produto é que não prejudica o ambiente, realça a portuguesa. “Pode-se deitar a água com sabão na areia ou na terra sem causar danos ambientais.”

Sabão e água, a solução ideal para afastar problemas ISABEL FIADEIRO

“As Aventuras do Saboun” resultaram do autoconfinamento em que Isabel se colocou mal foi confirmado o primeiro caso de covid-19 no país, a 13 de março — até esta sexta-feira, havia um total de 1439, e 74 mortos. Por precaução, antecipou-se às medidas restritivas que o Governo haveria de adotar, fechou a galeria de que é proprietária em Nouakchott e ficou em casa.

Com mais tempo disponível, deu vida às “Aventuras do Saboun”, que foi publicando na sua página no Facebook. O sucesso dos desenhos chamou a atenção e acabaram por ser publicados num jornal oficial mauritano, chegando assim a muito mais gente.

Muitos e bons conselhos em três pequenas tiras de criatividade ISABEL FIADEIRO

Numa segunda frente do combate à pandemia, a portuguesa dinamiza também um projeto de produção de máscaras de algodão, laváveis e reutilizáveis, inspirado num movimento que nasceu no vizinho Senegal. “A ideia era criar máscaras a baixo custo para todos. Contactei uma cooperativa feminina que costuma participar nos mercados organizados pela minha galeria e propus-lhes que produzissem máscaras, uma vez que estavam sem trabalho.”

Isabel garantiu que as costureiras seriam pagas e procurou que as máscaras fossem vendidas a um preço acessível, para chegarem ao maior número de pessoas possível. “Tivemos muita sorte, porque de imediato a Alliance Française e a Agrisahel, uma associação agrária, fizeram-nos encomendas que permitiram fazer face às primeira despesas.”

As encomendas chegam através do Facebook ou do WhatsApp e, depois de prontas, as máscaras são levantadas na ZeinArt, a galeria de Isabel, uma das três existentes na capital mauritana.

Isabel Fiadeiro vive na Mauritânia desde 2004. É proprietária de uma galeria de arte em Nouakchott ISABEL FIADEIRO

A ZeinArt existe desde 2012 e, em tempos normais, funciona como ponto de encontro entre locais e estrangeiros. Ali são realizadas exposições de pintura e artesanato, feitas formações, organizados ateliês com artistas estrangeiros de visita ao país, promovido o intercâmbio de conhecimento.

No jardim da galeria é realizado um mercado onde artesãos dispõem de bancas individuais para vender os seus produtos — é o caso da cooperativa feminina que agora fabrica máscaras e que costuma ali vender sacos e lenços. A cada terça-feira, os artistas deixam na galeria os seus novos trabalhos e recebem o dinheiro das suas obras que foram vendidas na semana anterior.

Na seu espaço, Isabel não se limita a dar visibilidade aos trabalhos de artistas e artesãos. Ela recebe-os, discute os trabalhos, acompanha a fase dos acabamentos e ajuda na comercialização. Leva ao limite quem tem capacidade, vontade e trabalha bem. “O objetivo é mostrar o que se pode fazer localmente de boa qualidade e puxar pelos artistas e artesãos da Mauritânia”, diz a portuguesa.

“E como na Mauritânia estamos um pouco limitados ao nível do design, convido pessoas do Senegal, Mali, Togo para exporem as suas criações. A galeria serve como uma vitrina que a população e os artesãos podem visitar e ver coisas diferentes.”

A boca, uma das portas de entrada do novo coronavírus no corpo humano ISABEL FIADEIRO

Filha de uma espanhola e de um português, Isabel Fiadeiro nasceu em Londres e cresceu entre Lisboa e Portimão. Voltou à capital britânica já depois dos 30 anos para estudar Belas Artes, na Wimbledon School of Arts, estudos que concluiu no ano 2000. A descoberta da Mauritânia — para onde se mudou em definitivo em setembro de 2004 — pôs um ponto final à sua vida nómada.

Diz ter descoberto o país “por acaso”, durante uma viagem, em finais de 2003, que tinha como destino final a Guiné-Bissau. À passagem pelo Parque Nacional do Banco de Arguim, na costa atlântica, a Renault 4L avariou-se e ela ficou com tempo para apreciar o deserto e se apaixonar pelo país.

“Quando cheguei à Mauritânia fiquei tão fascinada que tive vontade de registar tudo o que estava a ver. Era tudo tão diferente e tão novo em relação àquilo que eu conhecia. Comecei a desenhar em cadernos, algo que nunca tinha feito. Nunca tinha desenhado a partir da observação, sempre trabalhei com a imaginação, com a memória.”

Este tipo de arte haveria de a levar a descobrir e a aderir aos Urban Sketchers, uma comunidade global de artistas que desenham locais onde vivem ou que visitam.

Diallo e Mamadou, costureiros em Nouakchott, desenhados por Isabel Fiadeiro ISABEL FIADEIRO

Os desenhos serviram para que se aguentasse no país durante os primeiros tempos. “Nunca pensei viver na Mauritânia e menos ainda abrir uma galeria de arte. Isso aconteceu porque não conseguia viver com o meu próprio trabalho de pintura, a não ser que enveredasse por um trabalho muito comercial que eu não tinha vontade de fazer.”

Olhando para uma experiência de quase 16 anos em solo mauritano, a artista enumera os três fatores que mais a atraíram. “Desde logo a paisagem, o deserto, todo aquele vazio que me fazia pensar na escala humana diante daquela imensidão e na pouca importância que temos.”

Em segundo lugar, “a lentidão”. “Praticamente saí de Londres para me instalar aqui, passei de um ritmo super acelerado para outro muitíssimo lento que, acho, no fim é a solução para tudo. Muitas pessoas perguntam-me se não exportamos e eu digo: ‘Não, o trabalho é manual, eu peço aos artesãos que trabalhem lentamente e bem’. E felizmente a maior parte das coisas vendem-se localmente.”

Por último, os mauritanos. “Ao fim destes 16 anos, tenho muitos amigos mauritanos, pertenço a algumas associações mauritanas que trabalham com a cultura popular. Sinto-me bem integrada.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de junho de 2020. Pode ser consultado aqui

O país mais envelhecido da América do Sul é o que se sai melhor no combate à covid-19

A localização e a demografia do Uruguai podiam condená-lo a tornar-se espaço propício à propagação do novo coronavírus, mas não é o que acontece. Sem ter decretado o confinamento obrigatório, o país que tem quase 1000 quilómetros de fronteira com o Brasil e a população mais envelhecida da América do Sul é aquele que melhor faz frente à pandemia na região. Ao Expresso, um académico uruguaio enumera as razões para esse sucesso

Bandeira do Uruguai sobre o mapa do país VECTORSTOCK

O país que mais êxito tem tido no combate à covid-19 na América do Sul — o Uruguai — é simultaneamente aquele que tem a maior percentagem de população envelhecida, um dos grupos de risco da doença. Dos quase 3,5 milhões de habitantes, 14% têm 65 ou mais anos. Entre os restantes territórios latino-americanos, apenas Porto Rico (pertencente aos EUA) tem uma taxa superior (21%) — Cuba iguala, com 14%.

Ao contrário do que acontece em Espanha e Itália — e Portugal em menor escala —, onde a alta taxa de infeção entre idosos contribuiu para números dramáticos, a quantidade de idosos uruguaios não o parece ter penalizado o país.

Esta quarta-feira, o Uruguai tinha 826 casos de infeção declarados, de que resultaram 23 mortes e 689 pessoas recuperadas. Numa altura em que a América do Sul herdou da Europa o título de epicentro global da pandemia e o Brasil — com quem o Uruguai partilha uma fronteira de 985 quilómetros — é dos casos mais descontrolados a nível mundial, o Uruguai é o país da região que melhor está a lidar com a doença.

“Existem razões estruturais de longa data e razões conjunturais relacionadas com a gestão feita pelo Governo que explicam, conjuntamente, os resultados observados até ao momento no Uruguai”, explica ao Expresso Ignacio Munyo, professor catedrático da Universidade de Montevideu.

“O país tem um sistema de saúde que chega a toda a população, com uma rede de cuidados primários importante e com extensa cobertura domiciliária — algo pioneiro na América Latina — e um sistema de vacinação profundo e antigo que permite aliviar a pressão sobre as unidades de cuidados intensivos.”

Paralelamente à universalidade do sistema de saúde, é crucial neste contexto o facto de 100% da população uruguaia ter acesso a água potável e saneamento básico, condições fundamentais para cumprir com uma das principais regras de proteção individual: a lavagem das mãos. A isto se soma, continua Munyo, “uma infraestrutura em telecomunicações (telefonia celular universal e excelentes ligações à Internet) e capacidade de processamento de dados que viabilizam rapidamente soluções tecnológicas” e possibilitam o acesso à informação e aos conselhos das autoridades.

Presidente sem tempo para estado de graça

Desde que foi detetada a presença do novo coronavírus no país — quatro casos confirmados a 13 de março —, o Uruguai conseguiu conter o surto sem decretar o confinamento obrigatório da população. O Governo fechou fronteiras, suspendeu voos, aulas, cerimónias religiosas, jogos de futebol e concertos, como o Montevideo Rock, mas permitiu que o comércio continuasse de portas abertas.

A 23 de março, o Presidente Luis Alberto Lacalle Pou explicava o porquê de não adotar medidas mais restritivas. “Qualquer pessoa que, de forma séria, proponha o isolamento social deve estar na disposição de aplicar medidas relativas ao crime de desacato, a que corresponde uma pena de prisão. Assim sendo, alguém está disposto a deter e levar diante de um juiz quem sai à rua para ganhar dinheiro, não para a semana, mas para o dia?”

“A cultura cívica e a integração social, juntamente com um Governo que foi muito claro e consistente do ponto de vista da comunicação, contribuiu para que a população do Uruguai obedeça voluntariamente ao pedido de quarentena inicial e distanciamento social posterior e que os cumpra de forma responsável”, comenta Munyo, que dirige o Centro de Estudos da Realidade Económica e Social (CERES).

Uma sondagem realizada a 22 e 23 de março, pela consultora uruguaia Cifra, concluía que 91% dos inquiridos aceitaram voluntariamente a recomendação de não sair de casa salvo em casos de necessidade, 88% diziam respeitar o distanciamento social e 84% tinham deixado de participar em encontros com familiares e amigos — algo antinatura num povo que se distingue por uma forma muito particular de convívio.

Uma das principais tradições culturais uruguaias são as ‘rondas de mate’. Familiares e amigos reúnem-se à volta de uma cuia de mate que vai passando de mão em mão (e a bombilla de boca em boca) para conviver até que a água se esgote. Este legado dos antigos nativos aymaras, quechuas e guaranis é característico de vários países da América do Sul.

No Uruguai, as ‘rondas de mate’ não foram proibidas, apenas desaconselhadas, mas até isso os uruguaios acataram. A taxa de incidência da doença tem-se mantido baixa — 23,78 por 100 mil habitantes (em Portugal é de 326,19) — e o sistema de saúde nunca esteve sob pressão. Esta segunda-feira foram retomadas as aulas presenciais de forma voluntária.

O novo coronavírus não permitiu que o Presidente uruguaio usufruísse dos tradicionais 100 dias de estado de graça. Lacalle Pou tomou posse a 1 de março e, em menos de 15 dias, tinha uma pandemia em mãos para gerir. “O Governo aplicou uma gestão exemplar da crise, ao nível dos melhores do mundo: rapidez na declaração da emergência sanitária, encerramento de fronteiras e suspensão de aulas e eventos público”, diz ao Expresso o especialista.

Resolver o assunto ‘à maneira uruguaia’

À frente de uma aliança de centro-direita de cinco partidos, Lacalle Pou, de 46 anos, não caiu na tentação de fazer tábua rasa das políticas de esquerda adotadas nos últimos 15 anos, anos em que o Uruguai foi liderado por Tabaré Vázquez (2005-2010 e 2015-2020) e José Mujica (2010-2015).

Apostou numa estratégia de equilíbrio entre duas necessidades imprescindíveis — combater a pandemia e proteger a economia —, desafiando apelos para que impusesse o confinamento obrigatório, inclusive por parte do seu antecessor, Tabaré Vázquez, médico de formação.

“Pedimos às pessoas que não saiam de casa se não for necessário”, reforçou a 2 de abril. “Não façam viagens ao interior do país, há muitos lugares onde o vírus não chegou. Vamos fazer isto à maneira uruguaia, com solidariedade, e pensando no bem comum.”

Nesse mesmo dia 2 de abril, no Parlamento, deputados afetos ao Governo e à oposição uniram-se para aprovar o ‘Fundo Solidário Covid-19’, financiado por contribuições obrigatórias de todos os funcionários públicos com salários acima dos 120 mil pesos uruguaios (2500 euros). Presidente, ministros e deputados sofrem um corte de 20%.

“O Uruguai possui a única democracia plena da região, com um sistema político responsável que dialoga permanentemente, o que se traduz em estabilidade social, que é o essencial para que tudo funcione. Somos uma exceção a nível regional”, concluiu o professor uruguaio.

“No último ano, antes do surgimento do novo coronavírus, o mundo encarava a América Latina como uma região extremamente instável do ponto de vista social. Imagens de multidões violentas nas ruas da Cidade do México, Caracas, São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, Santiago, Lima e Quito correram o mundo. Não foi o caso de Montevideu.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de junho de 2020. Pode ser consultado aqui

Panos brancos às janelas para sinalizar o drama da fome

A falta de comida tem levado populações a violar o confinamento. A América do Sul é agora o epicentro da pandemia

Parece uma rendição mas é, na realidade, um desesperado pedido de ajuda. Em bairros pobres da Guatemala, panos brancos pendurados fora das casas alertam para a falta de comida. O SOS dirige-se às autoridades, mas, em especial, a vizinhos desafogados que possam dispensar alimentos.

O recolher obrigatório e as restrições à circulação deixaram muitos guatemaltecos sem sustento, sobretudo quem trabalhava no sector informal. Além do branco da fome, panos vermelhos alertam para a falta de medicamentos, azuis para a urgência de alguém ser visto por um médico, pretos para alguém morto dentro de casa e púrpura para situações de violência doméstica.

Este código de cores nasceu no país após a imposição do primeiro cordão sanitário, a 5 de abril, no município de Patzún, onde houve um caso de transmissão comunitária do novo coronavírus. As bandeiras galgaram fronteiras e hoje, no vizinho El Salvador, há cidadãos que não cederam à vergonha da pobreza e estão na berma da estrada a abanar panos brancos, na esperança de que alguém pare o carro e lhes dê comida.

No ano passado, Guatemala e El Salvador foram dos países que mais alimentaram as caravanas de migrantes que partiram da América Central a pé rumo aos Estados Unidos. A miséria torna-os dos mais vulneráveis à pandemia de covid-19, cujo epicentro, diz a Organização Mundial da Saúde, foi da Europa para a América do Sul.

Com o Brasil destacado a nível mundial pelas piores razões, o Peru surge como segundo país mais afetado. A situação descontrolou-se após o confinamento ter sido violado por populações desesperadas pela falta de trabalho.

‘Piñeravírus’ no Chile

No Chile, que tem o maior PIB per capita da região, as carên­cias alimentares originaram protestos violentos. “O Piñeravírus [referência ao Presidente Sebastián Piñera] é mais mortal do que o coronavírus”, ouviu-se nas ruas. Para tentar conter uma explosão social, o Governo anunciou a distribuição de 2,5 milhões de cabazes de alimentos e outros bens essenciais.

Há menos de um ano, muitos países latino-americanos estavam tomados por manifestações por melhores condições de vida. Ao Expresso, Rossana Castiglioni, da Universidade Diego Portales, de Santiago do Chile, aponta dois fatores que podem levar ao recrudescimento dos protestos: “A capacidade de os sistemas de saúde absorverem uma procura crescente por cuidados especializados, camas de cuidados intensivos e ventiladores. E a capacidade de os países adotarem medidas que permitam mitigar os efeitos da crise económica, que ocorrerá de qualquer maneira, sobretudo junto dos mais vulneráveis. Sem políticas que resolvam a perda de rendimentos e o acesso a bens e serviços básicos, os conflitos podem escalar.”

Como em 2019, a fachada da Torre Telefónica, em Santiago, voltou recentemente a iluminar-se com um slogan projetado por um estúdio de arte local. Dizia apenas: “Fome.”

(FOTO Um trapo branco sinaliza um pedido de comida neste casebre em San Salvador JOSE CABEZAS / REUTERS)

Artigo publicado no “Expresso”, a 30 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Regresso ao trabalho de máscara posta e fé na recuperação económica

O alívio das regras de confinamento levou milhões de pessoas de volta aos seus locais de trabalho. Dos estúdios de tatuagens nos Estados Unidos à feira de Espinho, profissionais das mais diversas áreas arregaçam as mangas com todos os cuidados

FOTOGALERIA

VIETNAME. No mercado de flores Quang Ba, em Hanoi, a máscara de proteção não atrapalha o negócio MANAN VATSYAYANA / AFP / GETTY IMAGES
ALEMANHA. Aparentemente, a máscara não atrapalha esta professora, durante uma aula de matemática numa escola de Berlim CHRISTIAN ENDER / GETTY IMAGES
ANGOLA. A pandemia levou este vendedor ambulante de Luanda a adaptar a sua mercadoria às necessidades mais urgentes OSVALDO SILVA / AFP / GETTY IMAGES
BRASIL. Na cidade de Manaus, os coveiros deste cemitério estão protegidos da cabeça aos pés MICHAEL DANTAS / AFP / GETTY IMAGES
CHINA. Um quarteto da Orquestra Sinfónica de Shanxi toca diante do Exército de Terracota, em Xian. Com instrumentistas de sopros, o uso de máscara não seria possível GETTY IMAGES
COREIA DO SUL. Pessoal de serviço, e devidamente protegido, num jogo de futebol da K League, em Jeonju HAN MYUNG-GU / GETTY IMAGES
EMIRADOS ÁRABES UNIDOS. Apesar dos cuidados com a proteção individual dos funcionários, faltam os clientes nesta joalharia do Dubai KARIM SAHIB / AFP / GETTY IMAGES
ESPANHA. Cuidados redobrados nesta clínica dentária de Madrid PABLO CUADRA / GETTY IMAGES
EUA. Este norte-americano aproveitou o desconfinamento para fazer mais uma tatuagem, em Fort Lauderdale, na Florida CHANDAN KHANNA / AFP / GETTY IMAGES
FRANÇA. Neste jardim zoológico de Saint-Pere-en-Retz, perto de Nantes, a tratadora desta anta não dispensa máscara e luvas LOIC VENANCE / AFP / GETTY IMAGES
HOLANDA. Uma empregada de mesa com viseira serve clientes que jantam em ‘estufas de quarentena’, em Amesterdão ROBIN VAN LONKHUIJSEN / AFP / GETTY IMAGES
ÍNDIA. Um agricultor colhe morangos na região da Caxemira indiana. Apesar de andar só, não abdica da máscara SAQIB MAJEED / GETTY IMAGES
INDONÉSIA. Nesta loja de “smartphones” de Banda Aceh, a funcionária reforça a proteção da máscara com uma viseira CHAIDEER MAHYUDDIN / AFP / GETTY IMAGES
ISRAEL. Tudo preparado e todos protegidos para uma sessão do Supremo Tribunal ABIR SULTAN / AFP / GETTY IMAGES
ITÁLIA. Pescadores descarregam a carga de um barco acabado de atracar, em Terracina ANTONIO MASIELLO / GETTY IMAGES
NICARÁGUA. Dois lutadores posam para os fotógrafos, no porto Salvador Allende, em Manágua, na véspera de se defrontarem INTI OCON / GETTY IMAGES
PORTUGAL. Na centenária feira de Espinho, o uso da máscara é obrigatório para vendedores e clientes RITA FRANÇA / GETTY IMAGES
RÚSSIA. Cirilo I, primaz da Igreja Ortodoxa Russa, numa cerimónia na cidade de Iekaterinburgo, sem fé na proteção divina DONAT SOROKIN / GETTY IMAGES
SENEGAL. Em Dacar, uma equipa de filmagem capta imagens para a série televisiva “O Vírus”, sobre a vida em tempos de pandemia SEYLLOU / AFP / GETTY IMAGES
SUÍÇA. Em Lausana, mal as medidas de confinamento foram aliviadas, os cabeleireiros foram dos primeiros negócios a abrir portas FABRICE COFFRINI / AFP / GETTY IMAGES
TAILÂNDIA. Este taxista de Banguecoque ‘artilhou’ o seu veículo com uma divisória robusta para evitar a propagação do novo coronavírus MLADEN ANTONOV / AFP / GETTY IMAGES
URUGUAI. Na Praça Independência, em Montevideu, engraxador e cliente não descuram os cuidados de segurança ERNESTO RYAN / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Sérgio Godinho, Massive Attack e mais 238 artistas unem-se num apelo ao fim do bloqueio à Faixa de Gaza

A existência de casos de covid-19 na Faixa de Gaza motivou 240 artistas a publicar uma carta aberta. “O bloqueio de Israel impede a entrada de medicamentos e material médico, pessoal e ajuda humanitária fundamental”, alertam. “A pressão internacional é urgentemente necessária para tornar a vida em Gaza viável e digna”

A pandemia que tomou o planeta de assalto levou um pouco daquilo que é ‘a normalidade de Gaza’ aos quatro cantos do mundo: cidades confinadas, restrição de movimentos, encerramento de fronteiras, desemprego em alta, colapso económico, ansiedade, medo e incerteza em relação ao futuro.

Na origem da situação estão a ocupação israelita (1967-2005) e o bloqueio fronteiriço que dura desde 2007 – quando o grupo islamita Hamas tomou de assalto o poder –, com consequências dramáticas para quem lá vive: o desemprego entre os jovens ronda os 60% e mais de 80% da população vive dependente da ajuda internacional.

A isto se somam três guerras desencadeadas por Israel (2008/2009, 2012 e 2014) e agora a pandemia de covid-19, a que Gaza também não escapa, apesar do isolamento. Desde 21 de março foram contabilizados 20 casos positivos.

“Os relatos dos primeiros casos de coronavírus na densamente povoada Gaza são profundamente perturbadores”, alertam 240 artistas, portugueses e estrangeiros, numa carta aberta divulgada na quarta-feira. “O bloqueio de Israel impede a entrada de medicamentos e material médico, pessoal e ajuda humanitária fundamental. A pressão internacional é urgentemente necessária para tornar a vida em Gaza viável e digna. O cerco de Israel deve acabar.”

Entre os signatários portugueses estão o músico Sérgio Godinho, o rapper Chullage, a escritora Patrícia Portela, a pintora Teresa Cabral, o dramaturgo Tiago Rodrigues e o coreógrafo Rafael Alvarez.

Os subscritores internacionais incluem os músicos Peter Gabriel e Roger Waters, a banda Massive Attack, o compositor Brian Eno, a ativista Naomi Klein, o escritor Irvine Welsh e o ator Viggo Mortensen.

Ameaça mortal na maior prisão ao ar livre

“Bem antes da crise em curso, os hospitais de Gaza já estavam no ponto de rutura devido à falta de recursos essenciais negados pelo cerco israelita. O seu sistema de saúde não conseguiu dar resposta aos milhares de ferimentos por bala, obrigando a muitas amputações.”

A carta não se limita a expor a fragilidade de Gaza e do seu sistema de saúde. Vai mais longe e apela a um embargo militar internacional a Israel, “até que este país cumpra todas as suas obrigações à luz do direito internacional”.

“As epidemias (e pandemias) são desproporcionalmente violentas para as populações atormentadas pela pobreza, ocupação militar, discriminação e opressão institucionalizada”, alertam. “Com a pandemia, os quase dois milhões de habitantes de Gaza, predominantemente refugiados, enfrentam uma ameaça mortal na maior prisão ao ar livre do mundo.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui