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Drones e robôs no lado certo do combate à covid-19

A pandemia do novo coronavírus acelerou a utilização de tecnologias. Da Argentina a Hong Kong, há robôs ao serviço em hospitais, farmácias e parques públicos e drones em missão de vigilância, higienização e transporte de material médico

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ÍNDIA. Num hospital de Bangalore, um profissional de saúde testa um robô equipado com câmara térmica que vai fazer a triagem preliminar dos pacientes à chegada ao hospital para impedir a disseminação de covid-19 MANJUNATH KIRAN / AFP / GETTY IMAGES
CHILE. Um drone do município de Zapallar entrega um saco com medicamentos a um casal de idosos que vive em isolamento social por causa da pandemia REUTERS
ITÁLIA. Sem necessidade de proteção especial, este robô ajuda a tratar de doentes covid recolhendo informação junto dos pacientes, num hospital de Varese FLAVIO LO SCALZO / REUTERS
ALEMANHA. Drone para transporte de equipamento médico nos céus de Berlim HANNIBAL HANSCHKE / REUTERS
SINGAPURA. Um cão robô patrulha um parque para dissuadir ajuntamentos EDGAR SU / REUTERS
MALÁSIA. Drone ao serviço da polícia de Kuala Lumpur e da imposição das regras de confinamento LIM HUEY TENG / REUTERS
ITÁLIA. À entrada desta farmácia de Turim, um robô mede a temperatura aos clientes STEFANO GUIDI / GETTY IMAGES
FRANÇA. Um drone pulveriza uma rua da cidade de Cannes com substâncias desinfetantes ERIC GAILLARD / REUTERS
SINGAPURA. Este robô lembra aos corredores, através de mensagens sonoras, que devem manter uma distância segura EDGAR SU / REUTERS
PERU. Enquanto estão na fila para serem testados à covid-19, em Lima, estes cidadãos são desinfetados por um drone SEBASTIAN CASTANEDA / REUTERS
CHINA. Neste restaurante de Xangai, é um robô que leva a comida à mesa ALY SONG / REUTERS
REINO UNIDO. Um robô usado para fazer entregas tem a vida facilitada por estes dias, com as ruas e passeios da cidade inglesa de Milton Keynes vazios LEON NEAL / GETTY IMAGES
MARROCOS. Um funcionário de uma “startup” dirige um drone equipado com uma câmara térmica, perto de Rabat FADEL SENNA / AFP / GETTY IMAGES

EUA. Um robô entrega comida ao domicílio, na Beverly Boulevard, em Los Angeles, após ser decretado o encerramento de todos os serviços não-essenciais AARONP / BAUER-GRIFFIN / GETTY IMAGES

CHINA. Um robô-polícia acompanha três profissionais de saúde, no aeroporto de Wuhan, após o levantamento das restrições à circulação na cidade onde o novo coronavírus primeiro apareceu ALY SONG / REUTERS
ALEMANHA. Junto às caixas de um supermercado da cidade de Lindlar, este robô humanóide apresenta informação sobre medidas de proteção em relação à covid-19 WOLFGANG RATTAY / REUTERS
ÁFRICA DO SUL. Usado para sulfatar propriedades agrícolas, este drone está a ser atestado para desinfetar áreas populosas, na cidade de Tshwane ALET PRETORIUS / GETTY IMAGES
HONG KONG. No aeroporto internacional, a higienização das casas de banho está por conta de robôs equipados com luz ultravioleta TYRONE SIU / REUTERS
ARGENTINA. Nos autocarros de Buenos Aires, há robôs a participar na desinfeção AGUSTIN MARCARIAN / REUTERS
ITÁLIA. No parque Valentino, em Turim, um “carabinieri” opera um drone para vigiar o cumprimento das regras de confinamento MASSIMO PINCA / REUTERS
JAPÃO. Neste hotel de Tóquio, que está a ser usado para acomodar doentes com sintomas leves de covid-19, há dois robôs ao serviço: Pepper dá as boas vindas e Whiz limpa o chão PHILIP FONG / AFP / GETTY IMAGES
INDONÉSIA. Não é um robô, é um homem vestido com um fato de autómato a impor a distância física, numa rua da cidade de Bandung R. FADILLAH SIPTRIANDY / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Os drones vieram para ficar e talvez até para nos trazer as compras a casa. Será que queremos?

A pandemia acelerou o processo de integração dos drones no espaço aéreo civil. Hoje andam no ar em ações de vigilância, a desinfetar áreas urbanas e a transportar medicamentos. O Expresso falou com um investigador que deita água na fervura da euforia e alerta para os perigos da utilização de drones em grande escala

Tempos de crise incentivam a procura de soluções inovadoras para as novas dificuldades da vida, e a pandemia provocada pelo novo coronavírus não é exceção. Da necessidade de — mais confinados — continuarmos ligados uns aos outros resultou a popularidade de serviços de videoconferências como o Zoom. Da urgência em travar a disseminação do vírus brotaram discussões sobre aplicações nos telemóveis para vigiar contactos com doentes de covid-19. E da necessidade de controlar a pandemia, muitos drones (veículos aéreos não-tripulados) passaram a andar em espaço aéreo onde, até há muito pouco, havia apenas helicópteros e aviões.

“A tecnologia é vista cada vez mais como a panaceia para todos os problemas”, diz ao Expresso Bruno Oliveira Martins, investigador do Peace Research Institute de Oslo (PRIO), na Noruega. “Neste clima de estado de emergência generalizado, os drones têm sido utilizados num grande número de funções. Quem tem observado o seu desenvolvimento nos últimos anos sempre antecipou que à medida que a tecnologia fosse evoluindo haveria novas funções que poderiam ser desempenhadas. Neste momento, tudo isso está a materializar-se, um pouco por todo o mundo.”

Em Portugal, a PSP e a GNR usaram drones para controlar o cumprimento do estado de emergência, entre 18 de março e 1 de maio, captando imagens e emitindo mensagens sonoras. Na Coreia do Sul e na Índia, aparelhos com borrifadores acoplados são utilizados para desinfetar áreas urbanas. Na China e Arábia Saudita, drones equipados com câmaras térmicas permitem detetar pessoas com alta temperatura corporal. Na Polónia e no Gana, já foram usados para transportar testes à covid-19.

Com grande naturalidade é fácil imaginar, neste contexto de pandemia, drones em massa nos céus de qualquer cidade em atividades de entregas ao domicílio. “Mas será que queremos mesmo isso?”, questiona o investigador. “Para que os drones voem, precisam de localização por satélite, por norma GPS, deixam uma enorme pegada digital. Eu não tenho a certeza de querer ter as minhas compras numa base de dados…”

O investigador recorda a edição de 6 de maio de 2017 da prestigiada revista “The Economist”, que considerava que os dados pessoais tinham ultrapassado o petróleo como “recurso mais valioso do mundo”. No desenho que ilustrava a capa, seis gigantes tecnológicas (Amazon, Uber, Microsoft, Google, Facebook e Tesla) surgiam instaladas em plataformas petrolíferas.

“A circulação dos nossos dados numa economia paralela, que se alimenta deste capitalismo de vigilância, é extremamente difícil de perceber para o cidadão comum”, explica. “A ideia de que há um sistema de email gratuito é falsa. O Gmail não é gratuito — não o pagamos com dinheiro, pagamo-lo com os nossos dados pessoais, que depois são comercializados nesse mercado paralelo que se alimenta de milhões e milhões e milhões de dados para desenvolver novas tecnologias. A maior parte das pessoas não tem consciência disto.”

Hora de ponta à volta do edifício

Além da pegada digital, Bruno Oliveira Martins identifica dois outros obstáculos à massificação de drones-estafeta. “Até podemos pensar que, precisados de ir à farmácia, seria excelente se um drone trouxesse o medicamento a casa. Mas se vivermos num prédio com mais 50 pessoas e todas pensarem da mesma maneira, inevitavelmente vão acontecer acidentes.”

Por outro lado, para haver trânsito de drones em grande escala, “o espaço aéreo teria de ser compartimentado, com corredores utilizados por drones para um determinado serviço e uns metros acima para outros serviços, o que é extremamente complicado”.

Todo este tecno-otimismo deve, pois, ser tratado com moderação, já que, à semelhança de qualquer fármaco produzido para curar maleitas, também os drones têm contra-indicações. “A proliferação de drones no espaço aéreo civil abre um sem-número de questões, sobretudo ao nível da privacidade e do armazenamento e tratamento de dados”, diz o investigador do PRIO. “Muitas vezes, tendemos a prestar menos atenção a estas questões, porque colocamos muito otimismo na tecnologia.”

Mais ainda num contexto de ameaça à saúde pública, em que os drones são percecionados como estando do lado certo do combate. “Sempre que existe um sentimento generalizado de insegurança, as pessoas estão dispostas a baixar a guarda ou a tolerar coisas que não aceitariam num contexto de normalidade”, explica Bruno Oliveira Martins.

CNPD rejeitou pedido do Governo

No caso português, o investigador destaca o papel da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) relativamente ao uso de drones durante o estado de emergência. “Quando a PSP pediu autorização ao Ministério da Administração Interna [MAI] para utilizar drones, solicitou na prática um cheque em branco. Quando o MAI consultou a CNPD, esta deu parecer negativo. Depois, quando o MAI autorizou a utilização de drones, fê-lo para fins muito mais delimitados. Vemos neste processo bastante simples como as coisas podem descambar.”

Bruno Oliveira Martins alerta para o perigo de, passado o período de exceção, a situação não voltar exatamente ao ponto em que estava antes da emergência, e exemplifica com a política de assassínios seletivos usada sobretudo por Estados Unidos e Israel. Se há anos era prática excecional, realizada em grande secretismo e para alvos de altíssimo valor, hoje tornou-se prática comum. “É um exemplo de algo que era altamente excecional e se normalizou. Passada a exceção, não se voltou ao ponto em que se estava antes.”

Prevenir abusos passa por estar vigilante — dos partidos políticos ao cidadão comum —, ainda que, nos dias que correm, todos sejam, de alguma forma, parte do problema. “Com os nossos Instagram, Facebook, Twitter, o recurso ao Google Maps para tudo e para nada, nós próprios alimentamos a cultura de vigilância”, conclui o investigador.

“Hoje é extremamente difícil vivermos desligados e isso faz com que percamos a sensibilidade em relação a questões que são efetivamente complicadas. Por essa razão, todos temos o dever de tentar ter um espírito crítico em relação a estas questões.”

(VECTORPORTAL)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Um aparente e implausível caso de sucesso no combate à covid-19

Na região meridional do continente africano, o Lesoto ainda não comunicou qualquer infeção pelo novo coronavírus. Uma responsável das Nações Unidas explica ao Expresso o que pode estar na origem deste estranho registo limpo num dos países mais pobres do mundo

Bandeira do Lesoto, sobre o mapa do país FREE*SVG

Em todo o mundo, são já poucos os países sem casos de covid-19 confirmados. Cerca de dez são ilhas no Oceano Pacífico — como Tuvalu, Samoa ou Kiribati — e dois são estados com regimes autoritários, como a Coreia do Norte e também o Turquemenistão, onde os cidadãos estão proibidos de usar máscara e de falar sobre a pandemia, sob pena de serem detidos.

Mas se em todos estes países a inexistência de covid-19 pode ser fácil de justificar — uns pela sua insularidade longínqua, outros pela falta de credibilidade das suas estatísticas —, há outro país oficialmente limpo mais difícil de compreender: o Lesoto.

Tanto os números oficiais da Organização Mundial de Saúde como a base de dados da Universidade Johns Hopkins (de Baltimore, Estados Unidos) — uma das mais credíveis em matéria de atualização da evolução desta pandemia — não atribuem a este país africano qualquer caso positivo.

“É muito difícil acreditar que não haja casos no Lesoto, uma vez que o país está completamente rodeado pela África do Sul, onde há milhares de casos confirmados”, diz ao Expresso Kathleen McCarthy, representante do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas no Lesoto. Com pouco mais de 10 mil casos, a África do Sul é mesmo o país africano mais afetado pela covid-19 até à data.

“As fronteiras com a África do Sul são conhecidas por serem muito porosas e é um facto bem conhecido que há pessoas que a atravessam ilegalmente e entram no país sem ficarem de quarentena ou sem serem testadas”, acrescenta.

A limitada capacidade do Lesoto ao nível do sector da saúde faz com que este pequeno reino esteja totalmente dependente do país vizinho para analisar os testes à covid-19 em laboratório, por exemplo. “Até ao momento, o país apenas enviou umas 30 amostras para a África do Sul para serem sujeitas a testes, e todas terão dado negativo”, acrescenta Kathleen McCarthy.

Duas emergências simultâneas

Com um território que é um terço do português, o Lesoto tem 2,2 milhões de habitantes, 57% dos quais, segundo as Nações Unidas, vivem abaixo do limiar de pobreza.

“No PAM estamos particularmente preocupados com as consequências humanitárias que a covid-19 já está a ter num dos países mais pobres do mundo”, alerta a responsável da ONU. “O Lesoto tem a segunda taxa mais alta de HIV do mundo [o primeiro é a Suazilândia] e está agora a lidar com duas emergências nacionais” — uma que resulta do novo coronavírus e a outra declarada em outubro de 2019, decorrente de uma seca muito grave.

A 6 de maio passado, as autoridades do Lesoto puseram fim a cinco semanas de confinamento no país. “Os impactos socioeconómicos da covid-19 são devastadores e estima-se que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aumente de cerca de 500 mil para perto de 900 mil até setembro deste ano”, projeta Kathleen McCarthy. É o receio de que à pandemia da covid-19 se siga uma pandemia da fome.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Coronavírus, um amigo para líderes políticos em apuros

Na Europa, o combate ao coronavírus catapultou alguns líderes políticos para níveis de popularidade impensáveis. Para outros, como no Reino Unido e Japão, a mudança de estratégia de combate à pandemia está a penalizar os índices de aprovação dos governantes. Já para Donald Trump, a pandemia é mais um palco para mostrar o seu lado combativo, a meio ano de tentar a reeleição nas eleições presidenciais marcadas para 3 de novembro

O novo coronavírus veio momentaneamente resolver problemas de popularidade a uns quantos líderes políticos. O caso mais flagrante talvez seja o do primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, que estava sob críticas por ter reagido tarde e de forma desastrada à época dos fogos florestais, que se tornou uma das mais devastadoras da história do país.

Uma sondagem realizada entre 22 e 25 de abril atribuiu ao conservador uma taxa de aprovação junto do eleitorado de 68%, a segunda mais alta para um chefe de Governo australiano desde 2008. E revelou que para 56% dos inquiridos, Morrison é o político certo à frente do Executivo, enquanto apenas 28% preferiam ter no cargo o trabalhista Anthony Albanese, líder da oposição.

No grupo dos líderes cuja popularidade cresceu na casa dos dois dígitos pela forma como estão a reagir ao coronavírus está o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau. Depois de um período de quarentena voluntária — determinado pelo teste positivo à covid-19 da sua mulher, após viagem a Londres —, o governante tem dado a cara todos os dias em briefings realizados em frente a sua casa, em Otava. E tem capitalizado com isso.

Segundo a última atualização do “Trudeau tracker”, do Instituto Angus Reid, o governante canadiano tinha, em abril, uma taxa de aprovação de 54%, quando em fevereiro estava nos 33%. Trudeau já não obtinha tão boa apreciação pública desde meados de 2017.

Há cerca de duas semanas, a revista norte-americana “The Atlantic” defendia que Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, de 39 anos, “pode ser a líder mais eficaz do planeta”. Numa consulta de opinião realizada entre 21 e 27 de abril — quando o país estava ainda em fase de confinamento —, a popularidade da trabalhista atingiu os 65%, contra escassos 7% do líder da oposição conservadora, Simon Bridges.

“O estilo de liderança de Jacinda Ardern, focado na empatia, não tem ressonância apenas junto do seu povo — está a colocar o país na rota do sucesso contra o coronavírus”, lê-se na revista “The Atlantic”.

António Costa entre os mais reconhecidos

Na Europa — que sucedeu à China como epicentro da pandemia —, o combate ao novo coronavírus alterou a perceção pública de muitos governantes, transformando-os em homens de ação, com reflexo nas taxas de popularidade.

Em Itália, o primeiro-ministro Giuseppe Conte chegou aos 71% de aprovação; na Holanda, Mark Rutte tem 75%; na Áustria o chanceler Sebastian Kurz atingiu os 77%; na Dinamarca e na Alemanha, respetivamente, Mette Frederiksen e Angela Merkel ficaram apenas a um ponto dos 80%.

Também em Portugal, a crise pandémica elevou o chefe de Governo ao patamar dos líderes mais reconhecidos. Segundo a sondagem de domingo do “Jornal de Notícias” e da TSF, “António Costa continua a bater recordes de aprovação”, com 74% de apreciações positivas à forma como tem gerido esta crise de saúde pública — um aumento de 14% em relação há um mês.

Ainda que com resultados mais modestos, há dirigentes para quem esta crise ajudou a estancar a queda de popularidade que vinham a sofrer. Com muita contestação nas ruas de França há mais de um ano — centrada no movimento dos coletes amarelos —, Emmanuel Macron tem travado um duplo combate: contra a covid-19 e contra as más sondagens, que não lhe permitem descolar do rótulo de líder impopular.

Em março — foi no dia 11 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia —, o Presidente francês subiu ao verde, com 51% de aprovação. Foi sol de pouca dura, já que em abril a sua popularidade voltou a descer, para os 42%.

Quem também não sai do vermelho é o britânico Boris Johnson, que já viveu o problema da covid-19 na primeira pessoa. Passou três noites nos cuidados intensivos, de um total de sete dias de internamento no hospital St. Thomas, em Londres.

O Reino Unido iniciou o combate à pandemia apostando na imunidade de grupo — permitindo de forma consciente que milhões de pessoas fossem infetadas —, mas os custos humanos que a estratégia teria obrigaram o Governo a uma mudança de rumo. A situação tarda em estabilizar e, hoje, é o quarto país com mais casos positivos e o segundo com mais vítimas mortais, mais de 32 mil. Isso traz custos políticos para Boris Johnson.

Segundo o barómetro YouGov, o primeiro-ministro britânico não vai além dos 34% de aprovação pública. Ainda assim, recorda o jornal “The Daily Express”, “embora o índice geral de aprovação pareça baixo, ainda assim é 9% mais popular do que Theresa May”, sua antecessora, à época em que deixou funções em Downing Street.

Shinzo Abe em dificuldades olímpicas

No Japão, um dos primeiros países a reportar casos de covid-19, que de início, resistiu a aplicar medidas de confinamento, Shinzo Abe tem acumulado dores de cabeça, em especial após o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para 2021. Esta segunda-feira, o primeiro-ministro prolongou o estado de emergência decretado para todos os municípios do país até 31 de maio, em virtude das dificuldades em controlar a pandemia.

Uma sondagem realizada para o jornal “Mainichi Shimbun”, em 18 e 19 de abril, revelou que apenas 39% dos inquiridos aprovam a gestão da crise do primeiro-ministro, uma queda de dez pontos comparativamente à auscultação de março.

Nos Estados Unidos, Donald Trump está “indo bem, apesar das notícias falsas!”, escreveu, no domingo passado, o Presidente na rede social Twitter.

Divulgada a 28 de abril, a última sondagem da Gallup — empresa experiente na quantificação da aprovação dos presidentes, desde 1938 — atribui a Trump 49% de aprovação e 47% de reprovação. Na pesquisa anterior, a 14 de abril, as percentagens eram, respetivamente, de 43% e 54%.

Donald Trump começou mal o combate ao coronavírus, tendo mesmo ignorado, ainda em janeiro, alertas feitos por um conselheiro sobre o novo vírus. Mas as acusações que faz à China, responsabilizando-a de não ter ter estancado a pandemia à nascença, bem como à Organização Mundial de Saúde, que diz ser cúmplice de Pequim, contribuem para uma imagem combativa. E que Trump quererá manter a escassos seis meses de tentar a reeleição.

(IMAGEM PXHERE)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 5 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Conferência de doadores vai tentar angariar 7500 milhões de euros para desenvolver vacina

A verba cobrirá apenas “necessidades iniciais”, alertam seis líderes europeus numa carta conjunta. “Fabricar e entregar medicamentos à escala global exigirá recursos bem acima dessa meta”. A conferência de doadores, que decorre esta segunda-feira, é liderada pela União Europeia. António Costa representa Portugal

A corrida por uma vacina contra a covid-19 tem, esta segunda-feira, um impulso importante com a realização, esta segunda-feira, de uma conferência “online” de doadores (com início às 14 horas de Portugal Continental). A iniciativa, onde Portugal estará representado pelo primeiro-ministro António Costa) visa angariar 7500 milhões de euros para aplicar numa resposta global à covid-19.

“Nenhum de nós está imune à pandemia e nenhum de nós pode derrotar este vírus sozinho”, declararam, numa carta conjunta, o Presidente de França, a chanceler da Alemanha, os primeiros-ministros de Itália e Noruega, bem como os presidentes da Comissão e do Conselho Europeu.

“Os fundos que arrecadarmos” — que serão canalizados para reconhecidas organizações da área da saúde como CEPI, Gavi, Vaccines Alliance, Global Fund e Unitaid — “darão início a uma cooperação global sem precedentes entre cientistas e reguladores, indústria e governos, organizações internacionais, fundações e profissionais de saúde”, defendem os líderes europeus.

Emmanuel Macron, Angela Merkel, Giuseppe Conte, Erna Solberg, Ursula von der Leyen e Charles Michel, respetivamente, defenderam que este “desafio global” passa por “reunir as melhores e mais preparadas mentes do mundo para encontrar as vacinas, tratamentos e terapias de que necessitamos para tornar o nosso mundo novamente saudável”.

Em causa está não só o desenvolvimento rápido de uma vacina e tratamentos à covid-19 como também a garantia de acesso e da sua distribuição onde haja necessidade.

Na carta, os líderes europeus declararam apoio à Organização Mundial de Saúde (OMS) e anunciaram parcerias com organizações experientes como a Fundação Bill e Melinda Gates e o Wellcome Trust.

“Se conseguirmos desenvolver uma vacina que seja produzida pelo mundo e para todo o mundo, isso será um bem público global único do século XXI”, defenderam os líderes europeus, que alertam: “Sabemos que esta corrida será longa. A partir de hoje, correremos na direção do nosso primeiro objetivo, mas em breve estaremos prontos para uma maratona. A meta atual cobrirá apenas as necessidades iniciais: fabricar e entregar medicamentos à escala global exigirá recursos bem acima dessa meta.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui