Na Europa, o combate ao coronavírus catapultou alguns líderes políticos para níveis de popularidade impensáveis. Para outros, como no Reino Unido e Japão, a mudança de estratégia de combate à pandemia está a penalizar os índices de aprovação dos governantes. Já para Donald Trump, a pandemia é mais um palco para mostrar o seu lado combativo, a meio ano de tentar a reeleição nas eleições presidenciais marcadas para 3 de novembro
O novo coronavírus veio momentaneamente resolver problemas de popularidade a uns quantos líderes políticos. O caso mais flagrante talvez seja o do primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, que estava sob críticas por ter reagido tarde e de forma desastrada à época dos fogos florestais, que se tornou uma das mais devastadoras da história do país.
Uma sondagem realizada entre 22 e 25 de abril atribuiu ao conservador uma taxa de aprovação junto do eleitorado de 68%, a segunda mais alta para um chefe de Governo australiano desde 2008. E revelou que para 56% dos inquiridos, Morrison é o político certo à frente do Executivo, enquanto apenas 28% preferiam ter no cargo o trabalhista Anthony Albanese, líder da oposição.
No grupo dos líderes cuja popularidade cresceu na casa dos dois dígitos pela forma como estão a reagir ao coronavírus está o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau. Depois de um período de quarentena voluntária — determinado pelo teste positivo à covid-19 da sua mulher, após viagem a Londres —, o governante tem dado a cara todos os dias em briefings realizados em frente a sua casa, em Otava. E tem capitalizado com isso.
Segundo a última atualização do “Trudeau tracker”, do Instituto Angus Reid, o governante canadiano tinha, em abril, uma taxa de aprovação de 54%, quando em fevereiro estava nos 33%. Trudeau já não obtinha tão boa apreciação pública desde meados de 2017.
Há cerca de duas semanas, a revista norte-americana “The Atlantic” defendia que Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia, de 39 anos, “pode ser a líder mais eficaz do planeta”. Numa consulta de opinião realizada entre 21 e 27 de abril — quando o país estava ainda em fase de confinamento —, a popularidade da trabalhista atingiu os 65%, contra escassos 7% do líder da oposição conservadora, Simon Bridges.
“O estilo de liderança de Jacinda Ardern, focado na empatia, não tem ressonância apenas junto do seu povo — está a colocar o país na rota do sucesso contra o coronavírus”, lê-se na revista “The Atlantic”.
António Costa entre os mais reconhecidos
Na Europa — que sucedeu à China como epicentro da pandemia —, o combate ao novo coronavírus alterou a perceção pública de muitos governantes, transformando-os em homens de ação, com reflexo nas taxas de popularidade.
Em Itália, o primeiro-ministro Giuseppe Conte chegou aos 71% de aprovação; na Holanda, Mark Rutte tem 75%; na Áustria o chanceler Sebastian Kurz atingiu os 77%; na Dinamarca e na Alemanha, respetivamente, Mette Frederiksen e Angela Merkel ficaram apenas a um ponto dos 80%.
Também em Portugal, a crise pandémica elevou o chefe de Governo ao patamar dos líderes mais reconhecidos. Segundo a sondagem de domingo do “Jornal de Notícias” e da TSF, “António Costa continua a bater recordes de aprovação”, com 74% de apreciações positivas à forma como tem gerido esta crise de saúde pública — um aumento de 14% em relação há um mês.
Ainda que com resultados mais modestos, há dirigentes para quem esta crise ajudou a estancar a queda de popularidade que vinham a sofrer. Com muita contestação nas ruas de França há mais de um ano — centrada no movimento dos coletes amarelos —, Emmanuel Macron tem travado um duplo combate: contra a covid-19 e contra as más sondagens, que não lhe permitem descolar do rótulo de líder impopular.
Em março — foi no dia 11 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia —, o Presidente francês subiu ao verde, com 51% de aprovação. Foi sol de pouca dura, já que em abril a sua popularidade voltou a descer, para os 42%.
Quem também não sai do vermelho é o britânico Boris Johnson, que já viveu o problema da covid-19 na primeira pessoa. Passou três noites nos cuidados intensivos, de um total de sete dias de internamento no hospital St. Thomas, em Londres.
O Reino Unido iniciou o combate à pandemia apostando na imunidade de grupo — permitindo de forma consciente que milhões de pessoas fossem infetadas —, mas os custos humanos que a estratégia teria obrigaram o Governo a uma mudança de rumo. A situação tarda em estabilizar e, hoje, é o quarto país com mais casos positivos e o segundo com mais vítimas mortais, mais de 32 mil. Isso traz custos políticos para Boris Johnson.
Segundo o barómetro YouGov, o primeiro-ministro britânico não vai além dos 34% de aprovação pública. Ainda assim, recorda o jornal “The Daily Express”, “embora o índice geral de aprovação pareça baixo, ainda assim é 9% mais popular do que Theresa May”, sua antecessora, à época em que deixou funções em Downing Street.
Shinzo Abe em dificuldades olímpicas
No Japão, um dos primeiros países a reportar casos de covid-19, que de início, resistiu a aplicar medidas de confinamento, Shinzo Abe tem acumulado dores de cabeça, em especial após o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio para 2021. Esta segunda-feira, o primeiro-ministro prolongou o estado de emergência decretado para todos os municípios do país até 31 de maio, em virtude das dificuldades em controlar a pandemia.
Uma sondagem realizada para o jornal “Mainichi Shimbun”, em 18 e 19 de abril, revelou que apenas 39% dos inquiridos aprovam a gestão da crise do primeiro-ministro, uma queda de dez pontos comparativamente à auscultação de março.
Nos Estados Unidos, Donald Trump está “indo bem, apesar das notícias falsas!”, escreveu, no domingo passado, o Presidente na rede social Twitter.
Divulgada a 28 de abril, a última sondagem da Gallup — empresa experiente na quantificação da aprovação dos presidentes, desde 1938 — atribui a Trump 49% de aprovação e 47% de reprovação. Na pesquisa anterior, a 14 de abril, as percentagens eram, respetivamente, de 43% e 54%.
Donald Trump começou mal o combate ao coronavírus, tendo mesmo ignorado, ainda em janeiro, alertas feitos por um conselheiro sobre o novo vírus. Mas as acusações que faz à China, responsabilizando-a de não ter ter estancado a pandemia à nascença, bem como à Organização Mundial de Saúde, que diz ser cúmplice de Pequim, contribuem para uma imagem combativa. E que Trump quererá manter a escassos seis meses de tentar a reeleição.
(IMAGEM PXHERE)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 5 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui