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Norte e Sul querem firmar a paz. Estavam em guerra?

A relação entre as Coreias é uma ferida aberta desde os tempos da Guerra Fria. Cicatrização vai demorar

Península da Coreia: a norte, a República Popular Democrática da Coreia; a sul, a República da Coreia FREE*SVG

1. Porquê assinar um tratado de paz?

Porque, desde que terminou a guerra entre ambas (1950-1953), as duas Coreias assinaram um armistício (cessação temporária de hostilidades), mas nunca um tratado de paz. Isso significa que, tecnicamente, continuam em guerra. Esta semana, durante uma visita à Austrália, o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, afirmou que as Coreias, a China e os Estados Unidos chegaram a um “acordo de princípio” para alcançar um encerramento formal do conflito.

2. Porque foi Moon a fazer o anúncio?

O Presidente da Coreia do Sul está pessoalmente apostado em resolver o problema, na crença de que será um passo decisivo para trazer Pyongyang para as conversações sobre a sua desnuclearização. Moon está a meses de deixar o cargo. A 9 de março haverá presidenciais e ele não pode recandidatar-se (a reeleição não é permitida na Coreia do Sul). Em setembro, diante da Assembleia-Geral da ONU, disse: “Mais do que tudo, uma declaração de fim da guerra marcará um ponto de partida fundamental na criação de uma nova ordem de ‘reconciliação e cooperação’ na península coreana.”

3. O que pode levar a que não aconteça?

Sanções internacionais, por exemplo. Uma pré-condição colocada pela Coreia do Norte para dialogar sobre o fim do conflito é o abandono da atitude “hostil” dos Estados Unidos. Este requisito foi interpretado como exigência do levantamento das sanções. Ora, domingo passado (Dia Internacional dos Direitos Humanos), véspera do anúncio de Moon Jae-in, Washington informou que imporia novas sanções contra a Coreia do Norte — as primeiras da era Biden.

4. Porque são os EUA parte da questão?

Os Estados Unidos participaram na Guerra da Coreia ao lado de Seul. Hoje, têm cerca de 28.500 soldados estacionados a sul do paralelo 38 (que separa os dois países) e realizam exercícios militares anuais conjuntos com os sul-coreanos. Para a Coreia do Norte, esses treinos mais não são do que preparativos para uma invasão do Norte.

5. Quão realista é a reunificação?

“A perspetiva da reunificação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é diferente em ambos os lados”, explicou ao Expresso Jenny Town, diretora do site “38 North”, de análise sobre a Coreia do Norte. “A Coreia do Norte ainda olha para o acordo de 2000, que apontava para uma confederação: um país, dois governos. A Coreia do Sul tende a olhar para um hipotético país único.”

Artigo publicado no “Expresso”, a 18 de dezembro de 2021. Pode ser consultado aqui

As 20 perguntas para 2020 (de Trump ao Brexit, de Lula a Hong Kong)

Alguns dos principais temas que dominaram a agenda noticiosa internacional de 2019 transitam para o novo ano sem uma evolução clara. Da incerteza do Brexit à imprevisibilidade da Coreia do Norte, das indefinições políticas em Espanha e Israel à contestação popular nas ruas nos quatro cantos do mundo

Donald Trump irá ser reeleito ou destituído?

É certo que o 45.º Presidente dos Estados Unidos vai enfrentar o Senado num julgamento onde se decidirá se é ou não destituído do cargo. Isto porque a Câmara dos Representantes já aprovou dois artigos de impeachment: obstrução ao Congresso e abuso de poder. Tudo indica, porém, que a maioria republicana no Senado vai segurá-lo (teria de haver 20 senadores a virar a casaca para alcançar os dois terços que a destituição exige). Economia robusta, promessas cumpridas e uma base de apoio quase intacta, além de não haver opositor óbvio, dão-lhe francas possibilidades de ser reeleito em 2020.

A tensão vai regressar à península da Coreia?

Muito possivelmente. A boa relação entre Donald Trump e Kim Jong-un tem vindo a degradar-se indisfarçavelmente. A Coreia do Norte deu um ultimato aos EUA para que, até ao final deste ano, recompensem as suas demonstrações de boa fé e levantem sanções económicas. Se isso não acontecer, Pyon­gyang ameaça retomar os testes com armas nucleares, uma dinâmica militar que em 2017 colocou o mundo em alerta máximo, receoso de nova guerra na península coreana.

O ‘Brexit’ vai mesmo acontecer?

Vai. A maioria conquistada pelo Partido Conservador a 12 de dezembro é um mandato democrático que mata o sonho de impedir a saída do Reino Unido da UE. Esta acontece no próximo dia 31 de janeiro, às 23 horas (meia-noite em Bruxelas), data consagrada em lei e confirmada com a aprovação do acordo de saída de Boris Johnson, que também proíbe prolongamentos do período de transição para lá do final de 2020. Depois da saída restarão, pois, 11 meses para negociar uma nova relação com os 27, que, dirão alguns, é o verdadeiro critério para se dizer que o ‘Brexit’ está concluído. O primeiro-ministro assegura que irá conseguir.

A China vai ceder às exigências dos manifestantes em Hong Kong?

A algumas, pelo menos. De outra forma os manifestantes continuarão nas ruas. Há atual­mente quatro exigências por cumprir por parte do Executivo local. Se uma delas — a eleição do Chefe de Governo por sufrágio direto e universal — é complicada, por implicar alterações de fundo à dinâmica política do território, já a amnistia aos manifestantes presos ou a alteração da retórica do Governo, para o qual os protestos são “motins”, pode ser mais fácil de concretizar. Resta saber se são cedências suficientes para acalmar as ruas.

Macau vai deixar de ser um território pacífico?

Dependerá muito da permeabilidade do Governo de Macau — que vive sob a fórmula “um país, dois sistemas” — a eventual legislação pró-Pequim, como aconteceu em Hong Kong com a lei da extradição, que espoletou as manifestações em curso. Dependerá também, em menor grau, da evolução da situação em Hong Kong. Em agosto, a PSP de Macau não autorizou uma concentração convocada para condenar a violência policial em Hong Kong porque poderia “passar a mensagem errada à sociedade”.

Os protestos dos Coletes Amarelos irão acabar?

“Info alerta: Macron não vai abandonar o projeto de reforma das reformas”, lia-se a 18 de dezembro no “GJ Magazine”, órgão central dos manifestantes que desde outubro de 2018 desafiam o Governo francês nas ruas de todo o país. Declaram “inaceitável a violência da polícia a mando de Macron e Castaner” [Christophe Castaner, ministro do Interior] e prometem que “as pessoas vão invadir o Eliseu e ejetar Macron”. A violência dos confrontos com a polícia escalou ao longo do tempo e nas manifestações mais recentes, convocadas contra a proposta presidencial para as reformas, os Coletes Amarelos contaram com o apoio de todos os sindicatos, mesmo os que até agora tinham permanecido do lado do Executivo.

Israel vai conseguir formar Governo?

Vai tentar, pelo menos. A 2 de março, o país realizará as suas terceiras eleições legislativas em menos de um ano, sem que as duas anterio­res (em abril e setembro) tenham resultado na formação de um Executivo. Nem Benjamin Netanyahu (de direita) — o israelita que mais tempo leva como primeiro-ministro — nem Benny Gantz (centrista) tiveram argumentos para constituir uma coligação maioritária. O eleitorado israelita está muito dividido, pelo que a manutenção do atual xadrez partidário poderá indiciar a continuação do bloqueio.

O Irão vai retomar o programa nuclear?

Já retomou, ainda que não tenha rasgado o acordo internacional de 2015 que limita as suas atividades nucleares. A retirada dos EUA desse pacto e a reintrodução de sanções económicas decretadas por Donald Trump colocaram Teerão na posição de contra-ataque. Atividades recentes em reatores nucleares iranianos fazem temer o pior, ainda que no contexto atual soem mais como forma de pressão sobre a União Europeia, a quem o Irão exige rotas alternativas àquelas penalizadas pelos EUA para poder vender o seu petróleo. Apesar do sufoco económico, é de prever que Teerão encare 2020 com paciência, na esperança de que em novembro o inquilino da Casa Branca seja substituído.

Os sauditas pararão os bombardeamentos no Iémen?

Não é expectável. A Arábia Saudita desencadeou essa ofensiva militar com o objetivo de derrotar os huthis e entregar o poder ao Presidente reconhecido internacionalmente, mas os rebeldes (aliados do Irão), que controlam a capital, não dão mostras de desgaste. Esta situação pode eternizar-se, refém de um conflito maior entre os dois gigantes do Médio Oriente (Arábia Saudita e Irão), que têm no Iémen uma frente (indireta) de batalha.

Merkel vai governar até ao final do mandato, em 2021?

A tendência para ler os acontecimentos políticos na Alemanha como ameaça à longevidade do quarto mandato da chanceler tem sido prática corrente desde que a GroKo (grande coligação) tomou posse, em janeiro de 2018, após as negociações entre os partidos mais votados nas eleições de 24 de setembro de 2017. A perda de eleitorado dos dois partidos do Governo nas eleições regionais (os democratas-cristãos da CDU e os sociais-democratas do SPD) tem sido crescente e a convulsão interna e crise de liderança do SPD têm contribuído para a fragmentação dos votos. A dificuldade de projetar um futuro político sem Merkel ajuda a desenvolver cenários catastróficos, não consentâneos com o ADN da república desde 1947.

Os protestos pelo clima irão radicalizar-se?

Há quem defenda que a Extinction Rebellion já contém no nome a potência para a radicalização. O movimento foi criado há pouco mais de um ano, em Londres, e espalhou-se depressa por todo o mundo, com a adesão de milhões de pessoas. Rebelião implica oposição. Se os objetivos reivindicados em defesa do planeta vierem a ser sistematicamente ignorados, é bem possível que os métodos dos ativistas conheçam uma escalada. Cada movimento com o seu método, todos contribuem para uma consciência coletiva que não tem retorno. O #FridaysForFuture, por exemplo, originou um diálogo intergeracional até agora inexistente. Há milhões de pessoas empenhadas, que poderão vir a ficar frustradas.

A rainha Isabel II vai ceder o trono ao herdeiro?

Só se morrer. A jubilação de monarcas de idade avançada, verificada em anos recentes em Espanha, Bélgica ou Holanda, não é tradição no Reino Unido. Ali, abdicação é termo que evoca a crise de 1936, quando Eduardo VIII, tio da atual rainha, prescindiu do trono para casar com a mulher que amava, e que o sistema rejeitava por se tratar de uma americana divorciada. Aos 93 anos, Isabel II vai calmamente passando deveres públicos aos filhos e até aos netos (não faz, por exemplo, viagens intercontinentais), sobretudo ao herdeiro Carlos, mas mantém-se em plenas funções e é a maior referência do país. Em situação de incapacidade por doença, tal como para o caso de monarcas menores de idade, estão previstos mecanismos de regência.

A UE vai conseguir marcar pontos na regulação da proteção de dados?

A pessoa escolhida pela Comissão Europeia para trabalhar a transição digital é nada menos que Margrethe Vestager, ex-comissária para a concorrência, que vê reforçados os seus poderes como vice-presidente executiva e que vai coordenar toda a política da UE para preparar a era digital. Mantém funções na área da concorrência, na qual, na última legislatura, se transformou numa espécie de pop star planetária ao desafiar o direito dos gigantes tecnológicos à isenção de contribuições. Vestager é a protagonista de um dos maiores desafios que enfrenta a atual Comissão Europeia: recuperar o tempo perdido na adaptação do mercado à era digital, tirar o máximo partido da inteligência artificial e dos grandes volumes de dados, melhorar a cibersegurança “e garantir a todo o custo a nossa soberania tecnológica”, protegendo os direitos dos cidadãos. No panorama mundial, a UE tem meios para o fazer e tem oportunidade de fazer a diferença.

A China e a Rússia vão continuar a aumentar o seu poder em África?

A Rússia é alvo de sanções da UE e dos EUA, o que a leva a investir cada vez mais nas trocas comerciais com os países africanos. A energia nuclear para produção de eletricidade está no topo dos investimentos de Moscovo nalguns deles, como foi abordado na Cimeira Rússia-África, em Sochi, em outubro. Em 2016 a Rússia fez um acordo com a Zâmbia para apoiar o desenvolvimento deste sector, está a financiar mais de 80% dos fundos para construir a segunda central nuclear do continente — no Egito —, que vai custar mais de €22,5 mil milhões. A China é o maior credor de África e continua a apostar neste mercado em crescimento. Recorde-se que nos primeiros 17 anos deste século as autoridades de Pequim emprestaram cerca de €130 mil milhões a países e empresas africanas.

O novo Governo de Espanha vai passar e durar?

Primeiro, é preciso que exista. Sem maioria absoluta, o socialista Pedro Sánchez, vencedor das legislativas de 10 de novembro, procura apoios. Ao pacto firmado com a aliança esquerdista Unidos Podemos (de Pablo Igle­sias) deverá somar o apoio de vários partidos regionais, entre os quais é indispensável a Esquerda Republicana da Catalunha. Isso abre um dossiê complexo, sobretudo se esta força independentista fizer exigências incompatíveis com a Constituição, que não permite a realização de um referendo sobre a questão catalã (nem Pedro Sánchez o deseja). Do outro lado, a direita (Partido Popular, Ciudadanos e Vox) extrema o discurso sobre a unidade de Espanha. Se lograr formar um Executivo, a estabilidade do mesmo será bem mais difícil de assegurar do que, por exemplo, o da lusitana ‘geringonça’.

A nova Comissão Europeia vai apoiar refugiados e migrantes?

Apoiar, por exemplo, através de ajudas financeiras aos países que mais lidam com a situação (€2 milhões adicionais vão ser entregues à Bósnia-Herzegovina), sim; mas a UE não irá pressionar Estados-membros como a Hungria ou a República Checa a aceitarem mais pessoas nem abandonar as muito criticadas colaborações com a Turquia ou a Líbia no sentido de conter o fluxo de migrantes. Entre as prioridades da nova Comissão está a “instituição de um novo sistema de candidatura a asilo”, “continuar a salvar vidas e a deter os fluxos” e “mais ajuda à integração”.

João Lourenço conseguirá lidar com a crise angolana?

É muito difícil. João Lourenço lidera um país de desigualdades gritantes, onde a desvalorização do kwanza faz disparar a dívida, onde o abanão económico dizimou 300 mil postos de trabalho em três meses e onde muitas famílias não têm dinheiro para comprar o básico. O plano do Presidente passa pela industrialização do país, porque “a população está cansada da simples exploração e exportação dos seus recursos minerais em estado bruto”, disse no Fórum Económico Rússia-África, e pela alienação de quase 200 empresas públicas.

Lula da Silva permanecerá em liberdade?

O futuro do ex-Presidente do Brasil só ficará decidido depois de os seis processos que ainda correm na justiça transitarem em julgado. A decisão do Supremo Tribunal de Justiça — que decretou a libertação de Lula em novembro, por considerar que a prisão só deve ocorrer depois de terem sido esgotados todos os recursos — deve prevalecer até à resolução destes seis processos. No entanto, é preciso estar atento ao futuro do ministro da Justiça, Sergio Moro, o juiz que ganhou fama no combate à corrupção e que teve um papel determinante na fase inicial do processo Lava Jato. Os seus pares, incluindo Deltan Dallagnol, continuam sem conseguir perceber porque é que Moro aceitou ser ministro de Jair Bolsonaro. Tanto ou mais do que o caso Lula, o desfecho da investigação sobre o assassínio de Marielle Franco pode ensombrar a governação de Moro.

A onda de protestos na América do Sul vai continuar?

É um subcontinente cheio de recursos naturais, mas política e socialmente volátil. A onda de protestos que se iniciou no Chile e já chegou à Colômbia, passando pelo Haiti, Equador e Bolívia, é um rastilho que ainda não ardeu todo. James Bosworth, analista de risco político, escreveu na “Business Insider” que os motivos que levaram aos protestos não se esgotaram nestes primeiros meses de sobressaltos e as ruas podem até ficar mais violentas em 2020: “Os cidadãos de muitos países da América Latina estão zangados com os seus sistemas políticos, com a corrupção, com a falta de segurança, com o crescimento económico baixo, a desigualdade e o custo de vida crescente.”

O Papa Francisco vai avançar mais na ordenação de casados?

A resposta mais provável é não. Mas tudo depende do documento a ser divulgado até ao final deste ano, ou já em 2020, com a interpretação de Francisco sobre a ordenação de homens casados, dando sequência ao relatório aprovado no Sínodo da Amazónia. Esta proposta estipula que sejam pessoas respeitadas e reconhecidas pela comunidade da região, de preferência indígenas. A ordenação de casados no contexto da especificidade da geografia amazónica pode até avançar, mas resta saber se a interpretação do Papa abre espaço para que a prática seja alargada a outras latitudes do catolicismo. Com o objetivo de incentivar e promover a participação feminina na igreja, foi defendida no sínodo a valorização do papel da mulher, tendo levado o Papa a reabrir a comissão de peritos que estuda o diaconado feminino na história da Igreja.

Texto escrito com Ana França, Cristina Peres, Manuela Goucha Soares e Pedro Cordeiro.

Artigo publicado no “Expresso”, a 28 de dezembro de 2019. Pode ser consultado aqui

Sonho distante

A reunificação da península coreana está refém do desinteresse dos jovens e do abismo entre um Norte fechado e obcecado com o nuclear e um Sul moderno e desenvolvido. Reportagem na Coreia do Sul

É noite escura na praia de Gyeongpo e há fogo de artifício no ar. Nada de especial se celebra nesta cidade sul-coreana, Gangneung, mas é hábito entre os seus habitantes lançarem-se foguetes durante os passeios noturnos no areal. Um jovem casal faz um piquenique frugal próximo da linha de mar. Mais adiante, uma família delicia-se com as corridas de uma criança pequena com um palito de fogo de artifício na mão.

Não muito longe dali, no paredão de frente para a ponte iluminada, cinco rapazes estão em silêncio junto a tantas outras canas de pesca. No chão, um smartphone vai debitando uma suave música ambiente. Há também garrafas de refrigerante abertas e uma frigideira sobre um fogareiro para uma patuscada mais dali a pouco. São amigos e todos eles estudantes de língua e cultura alemã na Universidade de Gangwon. Aquela pescaria é a melhor forma de iniciarem as férias de verão.

Portugal fica longe, mas estes jovens não ficam indiferentes à nacionalidade de quem os interpela. “Oooh, Cristiano Ronaldooooo”, dizem vários descompassadamente. Começam a disparar conhecimentos sobre o futebol português, mas não se ficam pela bola. “Há tempos vi um filme sobre Portugal. Gostei muito”, diz um deles. Não se lembra do nome, mas é ágil a procurar a resposta no telemóvel. No ecrã surge o trailer de “Comboio Noturno Para Lisboa”.

Os jovens revelam mais interesse em falar de Portugal do que do futuro do seu país. E não se mostram especialmente entusiasmados perante a ideia da reunificação com o norte da península. “Não gosto dos norte-coreanos”, atira um de pronto, logo interrompido por outro: “São a nossa cultura! Mas são um bocado malucos, não confio neles”. Um terceiro faz a síntese: “Nós queremos a união, mas há uma grande diferença entre um país e o outro. Não funciona.”

Bibliografia sobre a Coreia do Norte, numa livraria de Seul MARGARIDA MOTA

Norte e sul-coreanos vivem separados há praticamente 70 anos. Hoje quase só os mais velhos sentem essa distância como uma ferida no coração. Para as gerações mais novas, a reunificação é um assunto longínquo, histórias de família que ouviram contar, mas que pouco ou nada mexem com as suas emoções. “É verdade que os mais jovens não se importam com a reunificação. Esse assunto interessa sobretudo aos mais velhos”, diz Kwan-Sei Lee, vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente, da Universidade de Kyungnam. “A educação e sensibilização dos mais jovens para a questão da reunificação tem sido uma preocupação. Para os mais jovens, o mais importante é irem para a universidade, formarem-se e arranjarem empregos bem remunerados.”

O ‘divórcio’ entre Norte e Sul iniciou-se em 1948 quando a península coreana, ocupada pelo Japão desde 1910, pagou a fatura da derrota nipónica na II Guerra Mundial e foi dividida em dois — a República Popular Democrática da Coreia (Norte) e a República da Coreia (Sul). Esse afastamento acentuou-se dois anos depois, com a Guerra da Coreia (1950-1953), que mergulhou a península no caos e condenou muitas famílias à separação total — nalguns casos, marido e mulher, proibidos de trocarem cartas, de se falarem ao telefone, mais ainda de se encontrarem cara a cara.

Corrida contra o tempo

Outrora 130 mil, hoje são pouco mais de 60 mil os sul-coreanos que, segundo o Ministério da Unificação, fazem parte de famílias divididas. Aguardam por um contacto com alguém que está no Norte ou, tão-somente, pela possibilidade de lá irem visitar a campa de um familiar que já partiu. Desses 60 mil, 63% têm mais de 80 anos. Anualmente, morrem à volta de 3000, o que torna esta questão uma corrida contra o tempo.

No passado, Norte e Sul já organizaram vários encontros de famílias divididas. São sempre momentos fortemente emotivos que indiciam um bom momento na relação entre os dois países. Talvez por isso, desde que Kim Jong-un foi entronizado Líder Supremo da Coreia do Norte, em finais de 2011, nenhum encontro se realizou. Desde 1948 que os Kim governam a Coreia do Norte ao estilo de uma república dinástica. O poder vai passando de pai para filho e o mandato só termina com a morte do titular: primeiro Kim Il-sung (de 1948 a 1994), depois Kim Jong-il (até 2011) e agora Kim Jong-un.

No país do qual pouco se sabe, mas que no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU de 2016 surge com uma esperança média de vida à nascença de 70,5 anos (contrastando com os 82,1 da Coreia do Sul), o poderio militar é cada vez mais sofisticado e ameaçador. “Kim Jong-un tem uma postura bastante diferente da do pai e do avô. Enquanto estes tinham alguma margem para negociar, ele acabou com a ambiguidade do programa nuclear norte-coreano reafirmando-o como um fim em si e não como uma moeda de troca”, explica Ko Yunju, vice-diretor-geral do Gabinete dos Assuntos do Nuclear Norte-Coreano, do Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-coreano.

“Na revisão constitucional de 2012, Kim Jong-un introduziu a frase de que a Coreia do Norte é um ‘Estado com armamento nuclear’. Na carta do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, também estipulou a Linha Política Byung-Jin que busca, simultaneamente, o desenvolvimento económico e a defesa nuclear. Ele está a acelerar o programa nuclear e a aproximar-se da fase final do desenvolvimento de armas nucleares.”

Quem anda pelas ruas de Seul à procura de um ambiente de tensão ou de indícios de um conflito iminente corre o risco de achar que se enganou no país. Não há outdoors com mensagens bélicas a demonizar o Norte nem avisos com instruções de “como agir” na eventualidade de Pyongyang disparar um míssil na direção do Sul. Mais depressa se encontram propostas de viagem até à fronteira com a Coreia do Norte.

Nos escaparates de uma pequena agência turística perto da Praça de Seul, não faltam brochuras de tours até à zona desmilitarizada (DMZ), a “terra de ninguém” com quase 250 quilómetros de comprimento (de costa a costa) e quatro quilómetros de largura e que é o símbolo do único país dividido e tecnicamente em guerra à face da Terra — entre Norte e Sul apenas foi assinado o armistício de Panmunjom, nunca um tratado de paz.

A partir de 38 dólares (32 euros), os programas proporcionam visitas, por exemplo, ao 3º Túnel, escavado pelos norte-coreanos após o armistício a pensar num ataque surpresa contra o Sul. Nalguns pontos, recorrendo a binóculos, é possível avistar o misterioso país com algum pormenor. Aquela que é a fronteira mais militarizada do mundo é um verdadeiro museu a céu aberto para turistas, com observatórios, túneis, memoriais, checkpoints e povoações com importância histórica. Desembolsando um pouco mais, há a possibilidade de alguns tours serem feitos na companhia de um desertor norte-coreano.

Se o leitor ficou curioso, o YouTube disponibiliza um vídeo da visita do comediante norte-americano Conan O’Brien à DMZ. Pesquise por “Conan Stars In North Korea’s First Late Night Talk Show”. Especialmente hilariante é a visita à sala de conferências na Zona de Segurança Conjunta, onde norte e sul-coreanos se encontram sempre que necessário e possível, e onde a linha de fronteira — o paralelo 38 — passa pelo centro da mesa colocada no meio da sala.

No exterior, separados por escassos metros, militares dos dois lados, falantes da mesma língua, não trocam palavra nem olhar. Numa cultura onde, como diz o professor Kim Seong-Kon, ex-reitor da Universidade Nacional de Seul, “se chora por tudo e por nada” — de felicidade, de tristeza, de raiva, de gratidão —, os sul-coreanos usam óculos escuros para esconder as emoções. E intimidar os do Norte.

Pensar numa Coreia unificada implica arranjar fórmula para ultrapassar o abismo Norte-Sul em matéria de dinâmica política e desenvolvimento social. Se, em Pyongyang, criticar as autoridades ou clamar por liberdades pode condenar quem o faz a trabalhos forçados, em Seul protesta-se “por tudo e por nada”.

No centro da capital sul-coreana, a Avenida Sejong é uma passarela para manifestações sobre os mais diversos assuntos, umas individuais outras coletivas, umas mediáticas outras mais discretas. Junto à estátua do rei Sejong — o monarca que reinou entre 1418 e 1450 e criou o hangeul, o alfabeto coreano —, um homem está só no seu protesto. Sentado no chão, não fala uma palavra que não seja coreano. “Não a Trump. Não ao THAAD”, lê-se num cartaz em inglês ao seu lado.

Para que a mensagem passe com clareza, puxa de um caderno e abre numa folha onde um texto manuscrito em inglês diz: “Os Estados Unidos deslocaram o THAAD para a Coreia do Sul ilegalmente. Dizem que é necessário para defender dos mísseis da Coreia do Norte. Mas, na verdade, visa atacar a Coreia do Norte. O THAAD provoca a guerra na Coreia. Nós queremos uma Coreia pacífica. Não queremos a instalação do THAAD”.

“Não a Trump. Não ao THAAD”, lê-se num dos cartazes deste manifestante solitário, no passeio da Avenida Sejong, em Seul MARGARIDA MOTA

THAAD é a sigla inglesa de Terminal de Defesa de Área de Alta Altitude e refere-se a um escudo antimíssil formado por radares de longo alcance e baterias de interceção de mísseis a grande altitude. Fabricado pela norte-americana Lockheed Martin, começou a ser instalado pelos EUA na Coreia do Sul no tempo da antiga Presidente Park Geun-hye (2013-2017) para defender o país de um eventual ataque do Norte.

Os sul-coreanos prezam a aliança com os norte-americanos, mas não a desejam a qualquer preço. Uma das primeiras medidas que Moon Jae-in ordenou após tomar posse como Presidente do país, a 10 de maio passado, foi suspender o processo de instalação do THAAD até à conclusão de um estudo de impacto ambiental. Porém, a recente batalha verbal entre Kim Jong-un e o homólogo norte-americano, Donald Trump, com ameaças de guerra de parte a parte, obrigou os sul-coreanos a fazerem cedências: o estudo ambiental continua, mas, dada a ameaça iminente de uma ação armada norte-coreana, o THAAD vai ser instalado na sua totalidade.

Continuando a descer a Avenida Sejong, a Praça Gwanghwamun — onde se ergue a estátua do mítico almirante Yi Sun-Sin — está ocupada por um conjunto de pequenas tendas pontiagudas que abrigam outro protesto ao estilo de uma exposição permanente. Aberta dia e noite, sete dias por semana, não deixa que uma grande tragédia recente caia no esquecimento: o naufrágio do ferry “Sewol”, a 16 de abril de 2014, onde morreram 304 pessoas, 250 das quais eram alunos e outros 11 professores na Escola Secundária Danwon, da cidade de Ansan. Iam numa viagem de férias para a ilha de Jeju.

Mais de três anos depois, há perguntas que continuam sem resposta relativas às razões do naufrágio e, sobretudo, do falhanço da operação de resgate. Jeong-yeon Lee, uma enfermeira de 50 anos, é voluntária, três dias por semana, numa das tendas da exposição. Tenta captar a atenção de quem passa e apela a que assine uma petição onde se pede uma investigação ao caso e a punição dos responsáveis. “Continuamos sem saber porque é que o ferry se afundou”, diz. “A guarda costeira resgatou a tripulação, não os passageiros. E a Presidente [Park Geun-hye] não deu qualquer ordem durante sete horas. Desapareceu!” Muitos cidadãos acusam a então chefe de Estado de obstrução às tentativas de investigação da tragédia.

Revolução das velas

Jeong-yeon Lee tem dois filhos adolescentes. “A maioria das vítimas é da idade deles. Ainda não apareceram cinco corpos. Encontrem-nos!”, exige com uma expressão de revolta. A enfermeira acredita que o novo Presidente, Moon Jae-in, um antigo advogado na área dos Direitos Humanos, vai levar o caso até às últimas consequências. “Ele prometeu!” Numa tenda ao lado, voluntários fazem pins em forma de laços amarelos, o símbolo da campanha. Noutra, forrada com as fotografias das vítimas, convida-se o visitante a entrar, a orar e a colocar uma flor sobre uma espécie de altar.

Memorial às vítimas do naufrágio do ferry “Sewol”, a 16 de abril de 2014, a esmagadora maioria delas estudantes MARGARIDA MOTA

Desde 14 de julho de 2014 que a Praça Gwanghwamun está ocupada por voluntários e familiares das vítimas do “Sewol”. Já fizeram greves de fome, marcharam até à Casa Azul (a sede da presidência sul-coreana), foram recebidos pela Papa Francisco quando da sua visita à Coreia do sul, em agosto de 2014, e alimentaram a Revolução das Velas, o maior movimento de contestação social da era democrática, que começou a “iluminar” a Coreia do Sul em finais de 2016.

Acusada de governar sob influência de uma guru e suspeita de receber dinheiro de grandes grupos industriais, a Presidente Park Geun-hye viu sair às ruas de todo o país, todos os sábados e durante semanas a fio, milhões de sul-coreanos com uma vela na mão. Acusavam a Presidente de estar a arruinar a democracia, permitindo que a sua amiga e confidente Choi Soon-sil interferisse em assuntos de Estado, e exigiam a sua demissão. Ela era também a odiada governante que falhara na gestão do naufrágio do “Sewol” e abrira as portas do país à instalação do polémico THAAD.

A contestação acabaria por levar à impugnação da Presidente no Parlamento, a 9 de dezembro de 2016, a um ano de terminar o mandato. Hoje está presa e a aguardar julgamento por abuso de poder, suborno e coerção. Se as gigantescas manifestações populares de junho de 1987 — sensivelmente a um ano dos Jogos Olímpicos de Seul — puseram fim à ditadura militar, forçando à realização de eleições democráticas, quase 30 anos depois milhões de sul-coreanos festejaram o impeachment de Park Geun-hye como um sinal de maturidade democrática.

Hoje, junto ao memorial às vítimas do “Sewol”, uma vela gigante feita de arame enfeitada com laços amarelos alude a esse movimento histórico. E inspira outras lutas sectoriais. É terça-feira e cerca de 8000 operários da construção civil seguem, avenida acima, na direção da Praça Gwanghwamun. Exigem que as empresas do sector contratem mais coreanos e não mão de obra ilegal. Vêm de todo o país. No final do dia, terminada a jornada de luta, espalham-se pelos espaços verdes e pelos passeios em cimento das imediações do Cheonggyecheon, o riacho urbanizado que atravessa o centro de Seul, e ali ficam a dormir ao relento. O regresso a casa fica para o dia seguinte.

Na Avenida Sejong, em Seul, uma vela gigante feita de arame e enfeitada com laços amarelos não deixa que a revolução das velas caia no esquecimento MARGARIDA MOTA

Quando reflete sobre a evolução democrática do seu país, o cientista político Yeonho Lee, diretor do Centro Jean Monnet, da Universidade de Yonsei, diz que lhe vem à mente a odisseia de Bartolomeu Dias por terras africanas, em busca do Preste João e do reino cristão. “O mesmo tipo de experiência se passa hoje na Ásia: os europeus estão a encontrar aqui os seus valores, o capitalismo de mercado e a democracia política”, diz.

“A Coreia do Sul conquistou a democracia e o crescimento económico num período de tempo muito curto. Só iniciámos o processo de modernização ao estilo ocidental em 1945, após libertarmo-nos da ocupação japonesa. Os valores europeus floresceram na Ásia Oriental.” No Índice de Democracia de 2015 da revista “The Economist”, a Coreia do Sul surgia em 22º lugar (Portugal era 33º). A nível económico, em 2016, tinha o 29º PIB per capita mais alto do mundo.

Arranha-céus na capital sul-coreana MARGARIDA MOTA

Em 30 anos de democracia, os primeiros 10 foram de transição. A partir de 1997, a Coreia do Sul começou a produzir bens de primeira classe e a esculpir marcas globais, como a Samsung (líder mundial no segmento dos smartphones), a KIA e a Hyundai, na área automóvel, e a LG Electronics, no sector dos equipamentos eletrónicos e eletrodomésticos. Estas marcas são a espinha dorsal de uma economia exportadora, que é membro do G20.

Internet, prós e contras

Mais do que um país que vive assustado pela iminência de um conflito com o Norte, a Coreia do Sul é um país que procura destacar-se fora de portas pela excelência. O aeroporto de Incheon foi considerado o melhor do mundo por 12 anos consecutivos. O país tem a internet mais rápida de todo o planeta e WiFi sem interrupções nas carruagens de metro. Em Seul, a existência de um Centro de Prevenção de Dependência da Internet revela, porém, que aceder à net com tanta facilidade e rapidez pode também ser fonte de problemas…

Se o leitor tem ativadas, no seu “smartphone, as notificações da CNN é possível que, em julho, tenha recebido uma sugestão de leitura intitulada “50 razões pelas quais Seul é a melhor cidade do mundo”. Da lista não constam, mas poderia, o cuidado na recolha de lixo e a disciplina dos cidadãos nas filas dos transportes públicos desta cidade onde vivem aproximadamente tantas pessoas como em Portugal.

Seis jovens viajam no metro de Seul, cada qual agarrado ao seu “smartphone” MARGARIDA MOTA

A mais de 10 mil quilómetros de distância, faltam pontes entre Portugal e a Coreia do Sul que ajudem a aproximar os povos e a esclarecer alguns equívocos, designadamente a perceção de muitos portugueses de que todos os sul-coreanos se chamam Kim… O exagero não é descabido. Segundo o professor Kim Seong-Kon, presidente do Instituto de Tradução de Literatura da Coreia e ex-reitor da Universidade Nacional de Seul, um quarto dos 50 milhões de habitantes do país chama-se, efetivamente, Kim. Há ainda muitos Lee e Park, sendo este último o nome mais comum, como é o caso do atual embaixador em Portugal, Park Chul-min.

Kim, Lee e Park são apelidos e não nomes próprios. De acordo com a tradição coreana, o nome de família vem em primeiro lugar. Colocado no fim, significa uma cedência à convenção ocidental, como é o caso de Ban Ki-moon, o ex-secretário-geral das Nações Unidas. Com o mesmo apelido, o Presidente Moon Jae-in segue a regra coreana.

Mas ainda que a questão dos nomes fique esclarecida, afinal, o que distingue verdadeiramente um coreano de um chinês ou de um japonês? “É verdade que aos olhos dos ocidentais todos os asiáticos parecem iguais”, explica o professor Kim Seong-Kon. “Para um ocidental é difícil distinguir o kung fu chinês do karate japonês ou do taekwondo coreano.

Mesmo os templos budistas dos três países parecem iguais. Nós partilhamos muitas coisas e temos muitas coisas em comum, no entanto há diferenças culturais. Diz-se, por exemplo, que a literatura chinesa é masculina, a japonesa feminina e a coreana fica no meio, metade masculina, metade feminina. Outra diferença: aquando dos protestos das velas, no centro de Seul para depor a Presidente, no ano passado, um milhão de manifestantes concentrou-se na Praça de Seul. No Japão, isso seria impensável. A sociedade coreana é muito orientada para os grupos, enquanto o Japão é um país individualista. Exemplo disso é a diferença entre os jogos solitários da japonesa Nintendo e os jogos de internet para vários jogadores em que os coreanos são muito bons.”

No início do século XX, após estalar a guerra russo-japonesa (1904-1905), o escritor e jornalista norte-americano Jack London aceitou cobrir o conflito para o jornal “San Francisco Examiner”. A passagem pela Ásia levou-o também à Coreia, onde não foi indiferente à tendência dos coreanos para os ajuntamentos: “Os coreanos parecem gostar de se reunir e assistir a espetáculos juntos. Quando há uma batalha entre as tropas japonesas e as tropas russas no seu solo, os coreanos fogem para a montanha, levando consigo magotes de refugiados. Em menos de meia hora, porém, eles voltam para assistir à batalha. Não iriam perder as cenas emocionantes.”

O Expresso viajou a convite da Korea Foundation

Artigo publicado na E, a 26 de agosto de 2017, e republicado no “Expresso Online”, a 3 de setembro de 2017. Pode ser consultado aqui