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Netanyahu telefona a Passos para justificar ofensiva de Israel

O chefe do Governo de Israel ligou hoje para o primeiro-ministro português para o informar da situação da guerra entre Israel e Gaza. Benjamin Netanyahu telefonou ainda a mais seis governantes europeus

O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, recebeu hoje um telefonema do seu homólogo israelita, Benjamin Netanyahu, sobre a ofensiva que Israel está a levar a cabo, desde quarta-feira, contra a Faixa de Gaza.

Na sua página oficial do Facebook, Netanyahu revela o telefonema adiantando que comunicou a Passos Coelho que “nenhum país do mundo pode tolerar que a sua população viva sob a ameaça constante de mísseis”.

Benjamin Netanyahu diz ainda que telefonou igualmente aos primeiros-ministros do Reino Unido, David Cameron, da Polónia, Donald Tusk, e da Bulgária, Boyko Borissov. E acrescenta que espera continuar as suas conversações com os líderes mundiais nos próximos dias.

O primeiro-ministro israelita já tinha telefonado, também hoje, à chanceler Angela Merkel, ao chefe do Governo italiano Mario Monti, e aos seus homólogos da Grécia Antonis Samaras e da República Checa Petr Necas.

“Durante a sua conversa com a chanceler alemã Merkel, o primeiro-ministro disse que nenhum país do mundo poderá estar de acordo com uma situação em que a sua população viva sob a ameaça constante de mísseis”, adiantara horas antes Israel, na página oficial do gabinete de Benjamin Netanyahu.

Barack Obama foi o primeiro chefe de Estado a quem Netanyahu telefonou, na quarta-feira à noite. O governante israelita expressou o seu “profundo apreço pelo apoio do Presidente Obama ao direito de Israel se defender”.

Obama e Netanyahu falaram-se ontem, pela segunda vez desde o início da crise. O israelita agradeceu o apoio dos EUA na compra de baterias usadas no escudo antimíssil (Cúpula de Ferro) com que Israel se está a defender dos ‘rockets’ disparados pelo Hamas desde Gaza. 

Artigo escrito com Anabela Natário.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de novembro de 2011. Pode ser consultado aqui

Comunidade judaica reconhecida há 100 anos

A Comunidade Israelita de Lisboa foi oficialmente reconhecida em maio de 1912. Hoje, os judeus assinalam a data numa cerimónia especial na Sinagoga de Lisboa

Sinagoga de Lisboa ANTÓNIO PEDRO FERREIRA

Em Lisboa, quem sobe a Rua Alexandre Herculano em direção ao Largo do Rato mal se apercebe que no n.º 59 funciona a Sinagoga de Lisboa. Quando foi inaugurada, em 1904, a religião judaica era permitida em Portugal, mas não oficialmente reconhecida. Por isso, a fachada da Sinagoga ficou de costas para a rua, para permitir que a prática do judaísmo se fizesse de forma discreta, longe dos olhares reprovadores.

Tudo mudou em 1912 quando um alvará do Governo Civil com data de 9 de maio aprovou os Estatutos da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) — assim batizada e não Comunidade Judaica de Lisboa, porque, à época, a palavra “judeu” tinha uma conotação pejorativa.

Essa data histórica é hoje, quinta-feira, assinalada numa cerimónia que terá lugar na Sinagoga, às 19h, com a presença do secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, e do Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa.

“O reconhecimento da CIL foi muito importante”, explica ao Expresso Esther Mucznik, vice-presidente do organismo. “Passou a ser possível aos cidadãos portugueses optarem por outra religião que não o catolicismo. Foi um passo em frente na liberdade religiosa e também na possibilidade de integração social dos judeus.”

“Até então, os cultos não católicos eram assimilados aos cultos estrangeiros”, continua Esther. “Falava-se em ‘colónia judaica’ como se falava na ‘colónia inglesa’ ou na ‘colónia alemã’. Ainda hoje, as pessoas mais antigas da Comunidade falam em ‘colónia judaica’. A própria palavra ‘colónia’ indica um corpo estranho que se veio implantar. Mas com o reconhecimento legal, passa a haver cidadãos portugueses de confissão judaica.”

Com o pensamento na Alemanha e na Polónia

Além da Sinagoga e dos cemitérios judaicos, a CIL dispõe de todo um conjunto de serviços de apoio à prática do judaísmo, como o serviço de alimentação kosher, por exemplo, e atividades de divulgação da religião e cultura judaicas bem como da língua hebraica, abertos a não judeus.

Esther Mucznik não tem dúvidas de que a II Guerra Mundial foi o período mais difícil dos 100 anos de vida da CIL. “A Comunidade não foi inquietada, no sentido de que Portugal não foi invadido por Hitler e também os judeus não sofreram essa ocupação. Mas muitos judeus que passaram por aqui e que estavam aqui tinham os seus familiares na Polónia, Alemanha, Áustria, etc.”, diz.  

“Foi talvez a época mais difícil, em que a comunidade desempenhou um papel muito importante. Era um interlocutor entre as organizações judaicas internacionais que financiavam a ajuda aos refugiados. Era a Comunidade que dava essa ajuda. E ao mesmo tempo, era também o interlocutor do regime. Foi uma época muito rica, mas também muito dolorosa – ainda que não comparável com as comunidades que foram ocupadas e dizimadas, como é óbvio.”

Yitzhak Rabin na Sinagoga

Para a dirigente da CIL, houve duas visitas à Sinagoga particularmente marcantes. Em 1993, Mário Soares tornou-se o primeiro Presidente da República a visitar o templo, quando de uma homenagem a Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus que, em 1940, desafiando as ordens do Governo de Lisboa, concedeu milhares de vistos a refugiados que queriam fugir da França ocupada.

Outra visita inesquecível aconteceria no ano seguinte tendo como protagonista o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin, que, nesse ano, receberia o Prémio Nobel da Paz e que seria assassinado, em Telavive, a 4 de novembro de 1995, por um judeu extremista que se opunha aos Acordos de Paz de Oslo (1993).

Hoje, Esther Mucznik considera que a comunidade judaica não é alvo de antissemitismo. “É evidente que na sociedade portuguesa continua a haver muitos preconceitos e estereótipos. E isso existe porque há uma grande ignorância sobre o que é ser judeu. Às vezes, sentimos isso de uma forma involuntária e inconsciente — mas não necessariamente porque as pessoas sentem ódio aos judeus.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 31 de maio de 2012. Pode ser consultado aqui

AJUDA PORTUGUESA CHEGA AO AFEGANISTÃO

Na escola secundária de Pol-e-Charki, a 5 km de Cabul, a maioria dos alunos tem aulas ao relento, uns debaixo de uma cobertura de zinco, outros a céu aberto, com as carteiras dispostas no meio do recreio. No passado dia 27, uma grande quantidade de material escolar oferecido por particulares, empresas e instituições portuguesas foi distribuída por militares lusos. A escola acolhe cerca de 5500 jovens e crianças, distribuídos por 140 turmas. Graças à ajuda do contingente português, a escola dispõe já de 32 salas de aula. Fica a faltar um espaço de lazer e… luz, saneamento e água potável.

FOTO CONTINGENTE PORTUGUÊS

Artigo publicado no “Expresso”, a 6 de agosto de 2011. Pode ser consultado aqui

MNE iraniano responde a embaixador israelita

O embaixador de Israel criticou a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão a Lisboa. O governante iraniano acusou-o de “falta de educação”

“É uma falta de educação do embaixador para com o país que o acolhe!” Foi desta forma que, ao início da manhã, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Manoutchehr Mottaki, reagiu ao diplomata israelita acreditado em Lisboa que ontem criticou a decisão de Portugal de receber o governante iraniano, considerando-a “surpreendente e dececionante”.

“Os países são independentes e não têm de pedir permissão a ninguém para desenvolverem as suas relações externas”, continuou Manuchehr Mottaki. “Os israelitas pensam que mandam em todos os pontos do mundo”, afirmou durante um pequeno-almoço com jornalistas. “Devemos lutar contra esta ambição gananciosa deste regime sionista.”

O embaixador israelita, Ehud Gol, criticara a visita, argumentando ser contrária à posição europeia de condenação do regime de Teerão.

Neste capítulo, o ministro iraniano mostrou-se esperançado em que o conselho da UE ao nível dos chefes da diplomacia, previsto para o final do mês, “não repita o mesmo erro do Conselho de Segurança da ONU [que a 9 de Junho aprovou o quarto pacote de sanções contra o Irão] e que mostre vontade em continuar as negociações”.

(MAPA TORSTEN / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de julho de 2010. Pode ser consultado aqui

Hitler salvou-nos de ataque espanhol

Investigador espanhol divulga provas documentais de que Franco quis invadir Portugal no começo da II Guerra Mundial

Há 70 anos que se suspeitava que a Espanha franquista projectara invadir Portugal. Primeiro, os falangistas vitoriosos desafiaram o caudilho a “fazer um passeio triunfal até Lisboa”, em Março de 1939. Depois, com a II Guerra Mundial, Franco aproximou-se perigosamente de Hitler. Contudo, faltavam provas credíveis dessas intenções.

Graças ao investigador espanhol Manuel Ros Agudo, confirma-se que, em Dezembro de 1940, Portugal esteve a um passo de ser invadido. O documento, dos arquivos da Fundação Francisco Franco, descoberto em 2005, “é precioso”, comentou ao Expresso o historiador Fernando Rosas. “Prova que os espanhóis não só tinham um plano de invasão, como o tencionavam executar à margem dos alemães”.

Datado de Dezembro de 1940, o “Plano de Campanha nº 1 (34)” — elaborado pelo Estado-Maior espanhol — foi, esta semana, apresentado por Ros Agudo numa conferência no Instituto de Defesa Nacional. Em 120 páginas, previa-se um ataque surpresa, levado a cabo por uma força de 250 mil homens, coordenado com uma ofensiva hispano-germânica sobre Gibraltar (operação Félix). A invasão de Portugal destinava-se a impedir que os britânicos reagissem, ocupando os portos do seu velho aliado.

Portugal opta pela neutralidade

Franco parecia não ter pejo em invadir um país que o apoiara logisticamente durante a Guerra Civil (1936-1939) e com quem celebrara um Pacto de Amizade e Não-Agressão, em 1939. Anos antes, na prestação de provas para o generalato, a sua tese fora um plano de invasão de Portugal. Desde Março de 1939 que Salazar enviara o embaixador Teotónio Pereira para junto de Franco, para contrariar a influência dos falangistas pró-ibéricos junto do ditador. Quando a guerra começa, Portugal opta pela neutralidade e a Espanha pela não-beligerância.

A 23 de Outubro de 1940, após a queda da França, Franco e Hitler encontraram-se em Hendaya. Em troca da entrada na guerra, Franco pedia Gibraltar, o Marrocos francês, parte da Argélia, a ampliação da Guiné espanhola e Fernando Pó, explicou ao Expresso Ros Agudo.

As pretensões imperiais de Franco colidiam com os domínios coloniais franceses. Hitler não quis hipotecar o colaboracionismo do marechal Pétain. “Hitler salvou a Espanha de entrar na guerra e, indirectamente, salvou Portugal de ser invadido”.

Para o historiador, só meia dúzia de pessoas saberia do plano: “Franco e os seus mais directos colaboradores. Nem Hitler nem Mussolini sabiam”, diz o autor de “A Grande Tentação: Os Planos de Franco para Invadir Portugal” (Casa das Letras, 2009).

O desejo constante da anexação

Este professor de História Contemporânea na Universidade CEU San Pablo de Madrid justifica o plano por “razões defensivas e não anexionistas, no contexto da II Guerra”. Mas para Fernando Rosas, tal como o “perigo espanhol” é “uma ideia sempre presente no nosso imaginário”, a anexação de Portugal é uma constante na cultura da elite espanhola, desejosa de “corrigir os lapsos que, nos séculos XIV e XVII, tinham permitido a independência de Portugal”.

A Guerra Civil espanhola exacerbou estes sentimentos. Em Lisboa, o perigo espanhol foi “agitado por Salazar para dizer que o desígnio ibérico dos vermelhos era a maneira de o velho perigo espanhol, agora sob a bandeira do comunismo, engolir Portugal”. Mas a propaganda anexionista da Falange também inquietava o ditador português, ao ponto de, no discurso de celebração da vitória franquista, na Assembleia Nacional, a 22 de Maio de 1939, se limitar a dizer: “Ganhámos. Eis tudo!”

Como recorda Ros Agudo no seu livro, um ano depois, os falangistas da Divisão Azul, enviada para a frente russa, cantavam: “Só esperamos a ordem / que nos dê o nosso General / para apagar a fronteira / de Espanha com Portugal”.

Conclui Fernando Rosas: “Costumo dizer aos meus alunos que Portugal manteve a neutralidade por vários factores: servia à Inglaterra, serviu ao Eixo em certa altura, servia às elites económicas portuguesas. Mas tivemos sorte quando os alemães, em 1941, foram para a Jugoslávia e depois para a URSS. E porque Franco não entrou na guerra.”

Artigo publicado no “Expresso”, a 31 de Outubro de 2009 e republicado no “Expresso Online”, a 3 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui