O recolher obrigatório e o cancelamento de dezenas de voos obrigaram milhares de pessoas a passar a noite no aeroporto do Cairo. Sair à rua era arriscar a vida e os bens. Reportagem no Egito, com fotos de Jorge Simão

O Aeroporto Internacional do Cairo está transformado, por estes dias, no maior dormitório do mundo. Esta noite, à semelhança da noite anterior, milhares de pessoas não tiveram alternativa senão deitarem-se no gelado chão de mármore do aeroporto para tentar iludir o sono. O recolher obrigatório decretado pelo regime de Hosni Mubarak, em vigor entre as seis da tarde e as oito da manhã, e o cancelamento de dezenas de voos levou a que milhares de pessoas ficassem bloqueadas nos terminais, sem saída possível.
Ainda não era meia-noite e já as lojas de conveniência do aeroporto tinham entrado em rutura. O Burger King já só servia bebidas e junto das tomadas de eletricidade, as pessoas disputavam a vez para carregar telemóveis e computadores. “Já ontem foi assim”, comentava o empregado de uma loja. “Também estou preso aqui, sem poder ir para casa”, lamentava-se um funcionário num balcão de informações.
Insegurança nas ruas
Sair do aeroporto e arriscar tomar um transporte até ao centro da cidade era uma aventura com desfecho incerto. Corriam relatos de que, paralelamente às patrulhas das forças de segurança, havia carros a serem imobilizados por populares e depois assaltados.
Contactado pelo Expresso, o embaixador português no Cairo confirmou as limitações e os perigos à circulação. “O mais seguro é mesmo esperar pelas oito horas da manhã”, esclareceu Aristides Gonçalves.
Foi neste ambiente caótico que, às dez da noite de sábado, aterrou o voo proveniente de Lisboa — por semana, há dois voos diretos entre as duas capitais. A bordo do aparelho da Egyptair seguiam exatamente 30 passageiros — a classe executiva ia vazia. Uma meia dúzia ficou efetivamente no Cairo, os restantes passageiros apenas faziam escala.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de janeiro de 2011. Pode ser consultado aqui