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O líder foi morto, mas o Daesh ainda vive

Sem o território que já teve na Síria e no Iraque, o grupo tenta reagrupar-se e expandir influência para longe

Bandeira do autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh) WIKIMEDIA COMMONS

Nos últimos dez anos, três Presidentes dos Estados Unidos foram creditados com um reconhecimento quase universal ao anunciarem a morte do “terrorista mais procurado do mundo” às mãos de forças especiais norte-americanas. A 2 de maio de 2011, Barack Obama comunicou a morte de Osama bin Laden, o carismático líder da Al-Qaeda. A 27 de outubro de 2019, Donald Trump descreveu a execução do misterioso Abu Bakr al-Baghdadi, “califa” do autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh), “após entrar num túnel sem saída, a choramingar e a gritar”.

A 3 de fevereiro passado, foi Joe Biden a confirmar o óbito do desconhecido Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi, sucessor de Al-Baghdadi no Daesh. Este “terrorista horrível”, contou o Presidente, morreu durante “uma operação de contraterrorismo destinada a proteger o povo americano e os nossos aliados, e a tornar o mundo um lugar mais seguro”. Será mesmo?

“Penso que o Daesh está moribundo, em vias de ser erradicado definitivamente. Mas isso não quer dizer que não apareça outra afirmação de radicalismo islâmico”, diz ao Expresso Luís Saraiva, professor na Universidade Lusíada. “Aconteceu com a Al-Qaeda [no Iraque], que deu origem a este ‘Estado Islâmico’. Ainda existem resquícios da Al-Qaeda. O Daesh pode também originar uma evolução, decorrente até da perseguição que a comunidade internacional lhe faz.”

O Daesh é ‘um filho’ da guerra no Iraque, após a invasão americana de 2003. Tem na origem a Al-Qaeda no Iraque, que se alimentou da desintegração do Estado e da destruição do país para crescer. Em 2014, anunciou a criação de um “califado”, com a ambição de estender fronteiras da Índia à Península Ibérica. Embora longe de o concretizar, chegou a controlar um território comparável à Grã-Bretanha, que se estendia entre a Síria e o Iraque.

Em perda, mas capaz

Ao mesmo ritmo que o Daesh ganhou território, também o perdeu, pressionado pela guerra declarada pela coligação militar internacional. Em março de 2019, a conquista da localidade síria de Al-Baghuz pelas Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA, foi considerada o fim do “califado”.

“Desde então, o Daesh tem adotado uma atitude mais discreta. O Daesh não é a mesma potência de 2014, mas não deixou de ser uma organização capaz”, diz ao Expresso Carolina Novo, investigadora independente na área do terrorismo e ideologia do Daesh. “Diria que o grupo atravessa mais uma das muitas reorganizações por que já passou. Não apenas ao nível dos seus membros e líder, mas de estratégia. Já não é um protoestado, mas uma organização insurgente.”

O Daesh atravessa mais uma de muitas reorganizações, ao nível de membros, líder e estratégia

Uma prova de resiliência reveladora do empenho do Daesh em reorganizar-se foi o assalto à prisão de Ghwayran, no nordeste da Síria, a 20 de janeiro, por mais de cem homens armados. Aquele que é o principal centro de detenção de jiadistas albergava, na altura, cerca de 3500 — estima-se que também 800 menores, alguns com nacionalidade estrangeira.

Numa demonstração do que é a Síria hoje, a prisão é controlada não pelas forças do Presidente Bashar al-Assad, mas pelos curdos, que só recuperaram o controlo do local após dias de troca de fogo. Este é considerado o maior ataque do Daesh desde a perda do califado, ainda que a maioria dos fugitivos tenha sido recapturada.

Território não é prioridade

“Penso que este episódio demonstra que o grupo não está moribundo, mas a reequipar-se. É importante notarmos que a sua aparente destruição já aconteceu antes. Muitas vezes já se tentou prever o fim do Daesh”, diz Carolina Novo, mestre em História e Relações Internacionais pela Universidade do Porto. “Foi durante um período em que parecia moribundo que o grupo se reergueu mais forte do que nunca e estabeleceu o ‘Estado Islâmico’. Não acredito que vá acontecer na mesma dimensão agora, mas penso que pode servir de lição.”

Contrariamente à estratégia passada, hoje a reinvenção do grupo jiadista não passa pela conquista de uma base territorial, antes “por favorecer a criação de grupos afiliados”, diz a investigadora. “Já o fez em África e na Ásia. Paralelamente, no Médio Oriente, continua a realizar ataques terroristas. Neste momento, a estratégia passa mais por uma atuação descentralizada.”

Franchising terrorista

Luís Saraiva, investigador no Instituto Universitário Militar, refere que os territórios férteis à expansão do Daesh são aqueles onde o controlo e a capacidade de segurança dos Estados evidenciam fragilidades. “Aí vemos aparecer uma espécie de franchising, com grupos radicalizados, islâmicos ou não, a tentarem usar o nome do ‘Estado Islâmico’ para terem alguma projeção internacional. São grupos regionais ou locais que aproveitam o apoio ideológico ou a bandeira do ‘Estado Islâmico’ para dizerem que têm relevância.”

A estratégia do grupo passa por favorecer a criação de grupos afiliados. Já o fez em África e na Ásia

Isso acontece, atualmente, na região moçambicana de Cabo Delgado e em vários outros países, como o Afeganistão. Há duas semanas, Washington anunciou uma recompensa de até 10 milhões de dólares (€8,8 milhões) por informações que conduzam à localização de Sanaullah Ghafari, chefe do Daesh-Khorasan, a designação do grupo no Afeganistão.

Na memória dos Estados Unidos está ainda o negro 26 de agosto passado, em que um único bombista suicida afeto ao Daesh-K matou 13 norte-americanos e pelo menos 170 afegãos no aeroporto de Cabul, quando as tropas internacionais regressavam definitivamente a casa, após uma missão de 20 anos, e milhares de afegãos tentavam, de forma caótica, apanhar boleia para fugir aos talibãs regressados ao poder.

A importância do líder

A história do Daesh, como a da Al-Qaeda, mostra, porém, que a eliminação dos líderes, mesmo os mais carismáticos, não significa a erradicação automática do grupo. Quando muito, dá origem a nova metamorfose.

“À medida que a natureza e estratégia do Daesh se alteram, o mesmo acontece com o papel do chefe. Ainda que seja sempre importante, o grupo depende dele de formas diferentes, consoante a fase em que se encontra”, diz a investigadora Carolina Novo. “Quando o grupo se apresentava, em 2014, como uma entidade estatal, a figura de um líder competente e experiente era crucial para controlar todos os aspetos quotidianos relacionados com o território. Hoje, tendo em conta que o grupo se encontra dividido e se tem dedicado essencialmente a operações de guerrilha e insurgência, uma estrutura de liderança não parece ser tão crucial.”

ONDE ESTÁ O DAESH?

SÍRIA E IRAQUE — Tenta reorganizar-se após ter perdido o “califado”. Os assaltos a prisões são um modus operandi prioritário

ÁFRICA OCIDENTAL — Os países mais permeáveis são Nigéria, Chade, Camarões, Mali, Níger e Burkina Faso. Beneficia do enfraquecimento do Boko Haram e da anunciada retirada das tropas francesas

ÁFRICA CENTRAL — Engloba nesta sua “província” dois países: a República Democrática do Congo, onde, este mês, um grupo ugandês leal ao Daesh invadiu uma prisão; e Moçambique, onde está ativo em Cabo Delgado

NORTE DE ÁFRICA — Outrora feudo da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, o Daesh está ativo na Líbia e no Egito (Península do Sinai). Na Argélia, está adormecido

ÁSIA ORIENTAL — Atua nas Filipinas, país cristão, através de grupos locais. A 27 de janeiro de 2019, reivindicou um ataque a uma igreja (18 mortos e 82 feridos). Também está ativo na Indonésia

IÉMEN — Está há oito anos neste país em guerra e onde tem sede o braço mais ativo da Al-Qaeda (na Península Arábica)

MALDIVAS — Estreou-se em 2020: incendiou cinco lanchas e dois botes,na ilha de Mahibadhoo

Artigo publicado no “Expresso”, a 18 de fevereiro de 2022

O Daesh desapareceu? Longe disso: nestes locais o terror continua

Primeiro quiseram construir um califado no norte da Síria e do Iraque, e marcaram para sempre aqueles povos com os seus métodos horrendos de perseguição e tortura. Uma coligação internacional ajudada pelos curdos quase eliminou a presença deste grupo terrorista islâmico, mas os que creem na sua doutrina espalharam-se pelo mundo. Hoje é em África e na Ásia que apostam a maioria dos seus recursos e ainda há milhares de combatentes em todo o mundo que juraram manter este reinado do terror. Na Europa, o perigo é quem se radicaliza cá. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

Áustria, França, Moçambique, Afeganistão, Egito, República Democrática do Congo, Arábia Saudita…

Só nos últimos dois meses, todos estes países sofreram ataques terroristas reivindicados ou inspirados pelo autodenominado Estado Islâmico. O Daesh, como é conhecido pelo seu acrónimo árabe, perdeu o califado que proclamou em partes da Síria e do Iraque
e viu o seu líder suicidar-se quando se sentiu acossado por militares norte-americanos.
O movimento enfraqueceu, mas está longe de erradicado.

No final de 2020, vários grupos terroristas com implantação regional assumem-se como extensões do Daesh, em especial em África e na Ásia, onde as regiões controladas pelos jiadistas são designadas de “províncias” pela organização central.

É o caso da Província da África Ocidental, um braço do Daesh com uma ascensão fulgurante. Resultou de uma cisão no Boko Haram e está ativo nos quatro países que rodeiam o Lago Chade: Nigéria, Niger, Chade e Camarões. Estima-se que seja a célula africana do Daesh com mais combatentes nas suas fileiras.

Para leste, a Província da África Central é o braço mais recente do Daesh em todo o mundo. Atualmente é responsável por duas rebeliões: uma no leste da República Democrática do Congo, na região do Kivu, e outra no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado.

Neste país de língua oficial portuguesa, os jiadistas têm crescido em alcance e sofisticação. Demonstram toda a sua crueldade queimando aldeias inteiras, raptando e decapitando locais.

Ainda em África, a região do Sahel é território propício às movimentações do Daesh no Grande Sara. Esta célula resultou de uma cisão no seio de um grupo associado à rival Al-Qaeda e está ativa em três países.

Encontramos ainda a impressão digital do Daesh na Líbia, Tunísia, Argélia, Egito, Somália, Quénia, Tanzânia e Uganda.

E noutros continentes também, como a Ásia. Às portas do Médio Oriente, a Península do Sinai abriga um dos ramos mais antigos do Daesh, com origem num grupo jiadista fundado após a desagregação do poder no Egito e a seguir ao movimento da Primavera Árabe.

Mais para leste, no martirizado Afeganistão, um dos principais focos de violência é atualmente o ramo local do Daesh, o grupo Província do Khorasan, numa referência a uma região histórica da Antiga Pérsia. O Daesh é sunita, tal como os talibãs, mas ao contrário destes rejeita qualquer tipo de negociação com o Ocidente. É, por isso, ainda mais extremista do que os talibãs.

Seguindo ainda mais para oriente, encontramos outro país fustigado pelo Daesh: as Filipinas, consideradas pelos jiadistas a sua Província da Ásia Oriental. Um dos grupos locais que lhe jurou lealdade é o histórico Abu Sayyaf, que leva mais de 30 anos de rebelião contra o poder central naquele país de maioria católica.

Na Europa, a estratégia do Daesh não passa por estabelecer bases. Os ataques são levados a cabo por simpatizantes desta doutrina extremista, homens regressados da Síria ou do Iraque ou radicalizados nos próprios países onde vivem.

Episódio gravado por Ana França.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 28 de janeiro de 2021. Pode ser consultado aqui

Samuel foi decapitado. Nadine foi degolada. Por que razão alguns terroristas atacam de forma bárbara?

Nalguns atentados terroristas o atacante age motivado não só pela vontade de matar como também de profanar o corpo. Há razões históricas e religiosas que explicam o recurso à decapitação ou à degola como forma de execução. Um estudioso da Ciência das Religiões diz ao Expresso que é mais provável que, nos dias de hoje, se trate de um fenómeno de imitação dos métodos do Daesh

Pintura de Matthias Stom (séc. XVII) alusiva à decapitação de São João Baptista, a mais importante do mundo ocidental. Exigida por Salomé, a cabeça do pregador foi entregue numa bandeja à neta de Herodes WIKIMEDIA COMMONS

Em outubro passado, dois atentados em solo francês assumiram contornos particularmente cruéis. No dia 16, na cidade de Conflans-Sainte-Honorine, Samuel Paty, professor de 47 anos, foi decapitado por um refugiado de 18 anos de origem chechena. Numa aula sobre liberdade de expressão, o docente havia mostrado caricaturas do profeta Maomé, desencadeando a ira do radical islâmico.

A 29 seguinte, um cidadão tunisino esfaqueou mortalmente três pessoas no interior da Basílica de Notre-Dame de l’Assomption, em Nice. Nadine Devillers, uma mulher de 60 anos, foi degolada, mas a intenção do atacante era decapitá-la.

Uma facada certeira teria sido suficiente para tirar a vida a qualquer das vítimas, mas estes agressores investiram de forma deliberada com a intenção de cortar-lhes a cabeça.

Várias razões explicam uma motivação dessa natureza, desde logo a propaganda que resulta de um ato tão bárbaro. “Quando o ISIS [o autodenominado ‘Estado Islâmico’, também conhecido pelo acrónimo Daesh] degolava pessoas, filmava a execução e punha as imagens a circular nas redes sociais, havia no gesto uma dimensão de propaganda. Degolar é uma imagem tão brutal que induz um medo terrível”, explica ao Expresso Paulo Mendes Pinto, coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona.

“Ainda hoje, no Ocidente, nos nossos códigos penais, temos o crime de profanação de cadáver. Ou seja, uma coisa é matar alguém, que é um crime; outra coisa é, além de matar, profanar o cadáver, criar uma destruição no corpo que o torne irreconhecível.”

Demonstração de poder

Em várias civilizações milenares, há toda uma herança associada ao ato de decapitar como demonstração de poder. “Nas civilizações mais antigas do Médio Oriente, a decapitação surge como uma forma não propriamente usual, mas das mais brutais e das mais usadas em termos icónicos para se mostrar que se dominou alguém”, diz Paulo Mendes Pinto.

Na Paleta de Narmer, por exemplo, que é uma placa com inscrições e relevos representando a unificação do Antigo Egito, o monarca surge junto a uma fila de guerreiros inimigos mortos, deitados no chão lado a lado e com as respetivas cabeças cortadas entre os pés. Também no império Assírio-Babilónico há copiosa iconografia que mostra o rei a contar os corpos de uma batalha: num monte há corpos, noutro cabeças.

Vazar o corpo do líquido da vida

Numa outra componente deste fenómeno, degolar surge como forma mais comum de sacrificar um animal, sangrando-o pelo pescoço. Num ser humano, passar uma lâmina no pescoço é garantia de morte eficaz, nenhum inimigo sobrevive. Matar com recurso à degola tem o intuito de “vazar o corpo do líquido da vida”, explica Mendes Pinto.

Há ainda uma dimensão espiritual no ato de decapitar. “Há muitas visões do fim do mundo, do fim dos tempos, em que se dará a ressurreição final de todos aqueles que foram vivos”, explica o professor. “Há muitos movimentos religiosos que acreditam que para esse juízo final poder ter lugar, o corpo tem de estar inteiro.”

Para as religiões nascidas no Mediterrâneo, a inviolabilidade do corpo é condição essencial para que no dia do Juízo Final possa haver um novo tempo. Logo, separar a cabeça do resto do corpo é uma forma de impedir que o defunto ganhe a Eternidade.

Uma forma de “morte digna”

Com maior ou menor teatralização, decapitar inimigos é uma técnica que atravessou a História, desde foram forjadas as primeiras espadas. Nas suas crónicas sobre as Cruzadas, Fulquério de Chartres, capelão do exército de Balduíno de Bolonha, conta como os cristãos decapitaram 10 mil judeus e árabes na conquista de Jerusalém (1099).

Na Europa, tornou-se uma forma de “morte digna” para a nobreza — rápida e supostamente indolor —, por oposição ao infame enforcamento, reservado ao povo. O método generalizou-se com a Revolução Francesa e, com o passar do tempo, a guilhotina passou das praças públicas para o interior das prisões.

Para Mendes Pinto, o grau de consciência de todos estes aspetos por parte de quem, nos dias de hoje, realiza este tipo de ataques será reduzido. “Alguém, fundamentalista islâmico, viu as imagens há quatro, cinco anos de gente a ser degolada pelo ISIS e, quanto mais não seja, faz exatamente o mesmo por imitação.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de novembro de 2020. Pode ser consultado aqui

Alarme do terrorismo voltou a soar na Europa

Três atentados recentes fizeram subir o nível de alerta. A França quer mexer em Schengen

1 Porque se fala de novo de terrorismo?

Porque o Velho Continente voltou a ser alvo da violência jiadista. Na terça-feira, em Viena, quatro pessoas morreram e 15 ficaram feridas num ataque com arma branca realizado por um austríaco de 20 anos, de origem macedónia. O homem tinha cumprido pena de prisão após ser detido quando se preparava para ir para a Síria e juntar-se ao autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh). Este grupo terrorista reivindicou o ataque.

2 Este atentado foi caso único?

Não. A 16 de outubro, na cidade francesa de Conflans-Sainte-Honorine, Samuel Paty, um professor de 47 anos, foi decapitado por um refugiado de 18 anos de origem chechena, por ter mostrado caricaturas do profeta Maomé numa aula sobre liberdade de expressão. E a 29 seguinte, também em França, um tunisino esfaqueou mortalmente três pessoas, dentro da Basílica de Notre-Dame de l’Assomption, em Nice. Uma das vítimas, uma mulher de 60 anos, foi degolada (a intenção do terrorista era decapitá-la).

3 Como reagiu a Europa?

Esta semana, o Reino Unido elevou o nível de alerta para “grave”. Já antes a França decretara alerta máximo. “Sou favorável a uma revisão profunda de Schengen para repensar a sua organização e fortalecer a segurança da nossa fronteira comum com uma força fronteiriça adequada”, defendeu na quinta-feira o Presidente francês, durante uma visita a um ponto fronteiriço com Espanha. Emmanuel Macron anunciou a duplicação do número de agentes nas fronteiras francesas.

4 Macron questiona Schengen porquê?

Quer o agressor de Viena quer o de Nice circularam livremente pela área Schengen antes de atacarem. O tunisino Brahim Aouissaoui entrou na Europa pela ilha italiana de Lampedusa, onde chegou a 20 de setembro num barco de pesca, e viajou de comboio para França, onde chegou horas antes de matar em Nice. Já Fejzulai Kujtim, o jiadista de Viena, viajou até à vizinha Eslováquia, em julho, para tentar comprar munições.

5 Porquê matar por decapitação?

Por uma questão de propaganda. Decapitar é um ato bárbaro que revela poder e induz medo. O Daesh decapitava pessoas, filmava e punha a circular nas redes sociais. Mas também devido a uma dimensão espiritual. Muitos movimentos religiosos acreditam que, para o Juízo Final ter lugar — e o defunto ganhar a Eternidade —, o corpo tem de estar inteiro.

Artigo publicado no “Expresso”, a 7 de novembro de 2020. Pode ser consultado aqui

Irão diz ter abortado o segundo ciberataque em menos de uma semana

Segundo Teerão, os dois ataques foram intercetados pela “Fortaleza de Dejfa”, o seu projeto de cibersegurança. “Os servidores dos espiões foram identificados e os ‘hackers’ foram rastreados”, garante um ministro

O Irão detetou “malware” de espionagem estrangeira nos servidores do seu Governo, denunciou este domingo o ministro iraniano das Telecomunicações. O ciberataque foi “identificado e neutralizado por um escudo de cibersegurança”, garantiu Mohammad Javad Azari Jahromi.

O governante garantiu também que “os servidores dos espiões foram identificados e que os ‘hackers’ também foram rastreados. Sem fazer acusações diretas, o ministro disse que a “Fortaleza de Dejfa“ (nome de um projeto iraniano de cibersegurança) conseguiu impedir o ataque no qual foi usado o “conhecido APT27”, que os especialistas vinculam a espiões de língua chinesa.

Segundo a agência noticiosa oficial iraniana IRNA, este foi o segundo ciberataque em menos de uma semana. Na passada quarta-feira, segundo o mesmo ministro, a infraestrutura eletrónica do Irão já tinha sido alvo de um ciberataque “massivo” e “governamental”, que também foi abortado.

Curiosamente, na véspera, o mesmo governante tinha negado relatos segundo os quais bancos iranianos tinham sido alvo de ciberataques e que contas de milhões de clientes tinham sido expostas aos espiões.

(IMAGEM KAI STACHOWIAK / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de dezembro de 2019. Pode ser consultado aqui