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Trump: 25 tweets polémicos

Escolheu o Twitter como megafone para os seus mais de 87 milhões de seguidores. Em menos de 280 carateres, Trump ameaçou países, insultou adversários e demitiu colaboradores

No lindo Midwest, as temperaturas geladas estão a chegar aos 60 graus negativos, o mais frio alguma vez registado. Nos próximos dias, é esperado ainda mais frio. As pessoas não podem ficar fora mesmo durante minutos. Que raio se passa com o Aquecimento Global? Por favor, volta depressa, nós precisamos de ti!

Devíamos ter um concurso para saber qual das estações de televisão, incluindo a CNN mas não a Fox, é a mais desonesta, corrupta e/ou distorcida na sua cobertura política ao vosso Presidente favorito (eu). São todas más. A vencedora recebe o TROFÉU NOTÍCIAS FALSAS!

Mike Pompeo está a fazer um grande trabalho, tenho muito orgulho nele. O seu antecessor, Rex Tillerson, não tinha a capacidade mental necessária. Era burro como uma pedra e eu não consegui livrar-me dele suficientemente rápido. Ele também era preguiçoso. Agora é todo um novo jogo, grande espírito no Departamento de Estado!

Quem consegue descobrir o verdadeiro significado de “covfefe”??? Divirtam-se!

Contexto:
Ninguém sabe ao certo o que significa, mas Trump aproveitou o sururu desencadeado nas redes sociais para voltar à carga. Num primeiro tweet, cuja escrita parece ter ficado a meio, ele digitou: “Apesar da constante covfefe negativa da imprensa.” Pensa-se que “covfefe” seja “coverage” (cobertura), escrito de forma atabalhoada. Trump apagaria o tweet inicial, mas “covfefe” já se tornara meme na internet. Na Wikipedia, há uma entrada sobre o assunto.

A Dinamarca é um país muito especial com pessoas incríveis, mas com base nos comentários da primeira-ministra, Mette Frederiksen, de que não teria interesse em discutir a compra da Gronelândia, eu adio o nosso encontro marcado para dentro de duas semanas para outra altura…

LIBERTEM A VIRGÍNIA, e salvem a grande segunda Emenda. Está em perigo!

Contexto:
Em quatro minutos, Trump disparou três tweets a defender a ‘libertação’ dos estados do Minnesota, Michigan e Virgínia, todos liderados por governadores democratas. As publicações são uma referência às medidas restritivas, então em vigor em vários estados por causa da pandemia de covid-19, que contrariavam a intenção do Presidente de reabrir a economia de todo o país. A segunda emenda da Constituição protege o direito do indivíduo ao porte de arma.

https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1313186529058136070

Vou deixar o grande Centro Médico Walter Reed hoje às 18h30. Estou a sentir-me mesmo bem! Não tenham medo da covid. Não deixem que ela domine a vossa vida. Sob a Administração Trump, temos desenvolvido alguns medicamentos e conhecimento realmente ótimos. Sinto-me melhor do que há 20 anos!

Para o Presidente iraniano Rohani: NUNCA MAIS VOLTE A AMEAÇAR OS ESTADOS UNIDOS OU IRÁ SOFRER CONSEQUÊNCIAS COMO POUCOS AO LONGO DA HISTÓRIA SOFRERAM ANTES. JÁ NÃO SOMOS UM PAÍS QUE APOIA AS VOSSAS PALAVRAS DEMENTES DE VIOLÊNCIA & MORTE. TENHA CUIDADO!

Parabéns a Boris Johnson pela sua grande VITÓRIA! A Grã-Bretanha e os Estados Unidos agora estarão livres para fechar um novo Acordo Comercial maciço após o BREXIT. Este acordo tem o potencial para ser muito maior e mais lucrativo do que qualquer acordo que pudesse ser feito com a União Europeia. Comemore Boris!

Tenho grande confiança no Rei Salman e no Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, eles sabem exatamente o que estão a fazer…

A revista Time ligou a dizer que PROVAVELMENTE eu iria ser nomeado “Homem (Pessoa) do Ano”, como no ano passado, mas que eu teria de concordar com uma entrevista e uma sessão fotográfica. Eu disse que provavelmente não é uma boa ideia e declinei. Obrigado de qualquer forma!

O louco do Joe Biden está a tentar agir como um durão. Na realidade, ele é fraco, tanto mental como fisicamente, e mesmo assim ameaça-me, pela segunda vez, com agressão física. Ele não me conhece, mas seria derrotado depressa e duramente, chorando todo o tempo. Não ameace pessoas, Joe!

Rússia, Rússia, Rússia! É tudo o que se ouvia no início deste Embuste de Caça às Bruxas… E agora a Rússia desapareceu porque eu não tive nada a ver com a ajuda da Rússia para que fosse eleito. Foi um crime que não existiu.

Estamos unidos nos nossos esforços para derrotar o Vírus Invisível da China, e muitas pessoas dizem que é Patriótico usar máscara quando não se pode manter distância social. Não há ninguém mais Patriota do que eu, o vosso Presidente favorito!

Uma tendência em alta (no Google) desde imediatamente a seguir ao segundo debate é POSSO MUDAR O MEU VOTO? Isto refere-se a mudá-lo para mim. A resposta na maioria dos estados é SIM. Vão fazê-lo. A mais importante Eleição das vossas vidas!

Contexto:
É falso que a maioria dos estados permita mudar o voto: só acontece no Alasca, Michigan, Minnesota, Mississípi e Wisconsin. Em Nova Iorque, não há uma disposição específica, mas os eleitores que já tenham votado podem voltar a votar presencialmente no dia das eleições (só conta o voto presencial).

Ser simpático com o Rocket Man não funcionou durante 25 anos, porque haveria de funcionar agora? Clinton falhou, Bush falhou, e Obama falhou. Eu não vou falhar.

Muito interessante ver congressistas democratas “progressistas”, que vieram de países cujos governos são uma catástrofe completa e total, os piores, mais corruptos e ineptos em qualquer parte do mundo (se é que têm um governo funcional), dizerem agora ruidosa e maldosamente ao povo dos Estados Unidos, a melhor e mais poderosa nação da Terra, como o nosso governo deve ser gerido. Porque não voltam e ajudam a consertar os lugares destruídos e infestados de crime de onde vieram?

Contexto:
As congressistas democratas a que Trump se refere são Alexandria Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley, Ilhan Omar e Rashida Tlaib. Deste quarteto apenas Omar não nasceu nos EUA, tendo chegado ao país com oito anos como refugiada de guerra da Somália. O ataque presidencial foi motivado pelo testemunho das congressistas na Câmara dos Representantes em que falaram das condições desumanas que presenciaram durante visitas a instalações de detenção de migrantes no Texas.

Precisamos do Muro para segurança e proteção do nosso país. Precisamos do Muro para ajudar a parar a entrada maciça de droga a partir do México, agora classificado como o país mais perigoso do mundo. Se não houver Muro, não há Acordo!

Por que razão haveria Kim Jong-un de me insultar chamando-me “velho”, quando eu NUNCA lhe chamaria “baixo e gordo”? Ah bem, eu tento tanto ser amigo dele — e talvez um dia isso aconteça!

TORNE A AMÉRICA GRANDE OUTRA VEZ!

De que serve a NATO se a Alemanha paga milhares de milhões de dólares à Rússia por gás e energia? Porque é que só há cinco de 29 países que honram o seu compromisso? Os EUA pagam pela proteção da Europa e depois perdem milhares de milhões em comércio. Têm de pagar 2% do PIB IMEDIATAMENTE, não até 2025.

Estes BANDIDOS estão a desonrar a memória de George Floyd e eu não vou deixar que isso aconteça. Acabei de falar com o governador Tim Walz e disse-lhe que os militares estão totalmente com ele. Qualquer dificuldade e assumo o controlo mas, quando a pilhagem começa, o tiroteio começa. Obrigado!

NOTÍCIAS FALSAS SÃO O INIMIGO DO POVO!

Começamos a ter avaliações MUITO boas da nossa gestão do coronavírus (o vírus da China), especialmente quando comparadas com outros países e áreas do mundo. Agora as vacinas estão a chegar e depressa!

Obama tem sorte por ter concorrido contra Mitt Romney, um homem com muito pouco talento ou capacidade política, por oposição a alguém que sabe como lutar e vencer!

Artigo publicado no “Expresso”, a 31 de outubro de 2020. Pode ser consultado aqui

Os ‘tweets’ mais populares de Donald Trump: do covid à pose Rocky Balboa

John Fitzgerald Kennedy inventou as conferências de imprensa em direto, Bill Clinton expôs-se em late-night talk shows, Franklin Delano Roosevelt elegeu a rádio como forma preferencial de comunicar com os norte-americanos e Donald Trump revelou-se um mestre no Twitter. O anúncio de que estava infetado com o novo coronavírus valeu ao Presidente dos EUA um recorde de popularidade nessa rede social

Da Casa Branca para o povo, há mais de 100 anos que sucessivos presidentes dos Estados Unidos da América vêm inovando na forma de comunicar com os norte-americanos. Franklin Delano Roosevelt (FDR), que foi chefe de Estado entre 1933 e 1945, instituiu o hábito de “conversar” com regularidade aos microfones da rádio. Através das suas fireside chats (“conversas à lareira”), transmitidas à noite, tornava-se visita de casa de milhões de pessoas.

FDR aproveitava para explicar as suas políticas, desmantelar boatos e serenar os ânimos em épocas turbulentas, como foram os anos da Grande Depressão e da II Guerra Mundial. No primeiro episódio (que pode ser escutado aqui), transmitido a 12 de março de 1933, o Presidente explica o funcionamento do sistema bancário e o porquê de esse sector estar em crise à época.

“Vejo a escolha do Twitter por parte de Donald Trump como estando em linha com uma longa lista de métodos que os presidentes têm usado para chegar diretamente ao público”, diz ao Expresso o académico David Greenberg, professor de História e de Jornalismo e Estudos de Media na Universidade Rutgers (Nova Jérsia). “Muitos outros presidentes foram inovadores ao tentar ‘contornar’ a imprensa e comunicar ‘diretamente’ com o povo.”

Chegar a quem não vê motícias

Além dos programas radiofónicos de FDR, Greenberg cita a criação de uma sala de imprensa na Casa Branca na época de Theodore Roosevelt (1901-1909) onde o Presidente se encontrava frequentemente com repórteres. Refere as conferências de imprensa de Woodrow Wilson (1913-1921), os discursos de Dwight D. Eisenhower (1953-1961), as conferências de imprensa em direto de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963). E também a utilização que fez Bill Clinton (1993-2001) de meios de transmissão de nicho, como os canais por cabo, que se multiplicavam na altura, e a participação em late-night talk shows para chegar a pessoas que não viam notícias.

“Neste contexto, Trump não está a romper de modo radical com as práticas anteriores, mas simplesmente — na tradição de muitos antecessores — a explorar novas plataformas de comunicação que se tornaram disponíveis.”

Fazer as coisas à sua maneira

Com mais de 87 milhões de seguidores no Twitter — só 16 países têm população superior —, Trump faz-se “ouvir” com profusão várias vezes ao dia na conta @realDonaldTrump, abdicando de comunicar através da conta oficial do Presidente (@POTUS).

“Julgo que Trump usa a sua conta porque já tinha angariado muitos seguidores antes de ser Presidente”, diz Greenberg. “Mas também revela a propensão para fazer as coisas à sua maneira, e não de acordo com as regras ou os protocolos oficiais. Recorde-se como olhou diretamente para o eclipse solar [a 21 de agosto de 2017] ou não usa máscara durante esta pandemia.”

Trump abriu a conta em março de 2009, quando a sua notoriedade decorria do mundo da televisão. Apresentava o reality show “The Apprentice” e detinha os direitos sobre os concursos de beleza Miss Universo e Miss América. Era também multimilionário.

Nem sempre usou o Twitter da mesma forma desenfreada como hoje faz, mas pelo menos dois dos seus tweets mais populares foram publicados antes de ser Presidente — ambos visando… Barack Obama. Segue-se o top-10 de tweets de Trump que mais agitaram as redes.

1. APANHEI O COVID

“Esta noite, a primeira-dama e eu tivemos testes positivos de covid-19. Iremos começar a nossa quarentena e processo de recuperação imediatamente. Passaremos por isto juntos!” (918.700 partilhas e 1,8 milhões de ‘gostos’)

Na madrugada de 2 de outubro, Trump anunciou que estava infetado com o novo coronavírus. Este tweet tornou-se o mais popular de sempre do atual Presidente dos EUA, com quase um milhão de partilhas e dois milhões de ‘gostos’, reações ora solidárias com o estado de saúde de Trump, ora de grande ironia, dada a forma irresponsável como este tem abordado a pandemia.

2. TRUMP VERSUS CNN

(464.100 partilhas e 505.000 ‘gostos’)

Sem necessidade de recorrer a palavras e com a hashtag #FraudNewsCNN (Notícias fraudulentas CNN), a 2 de julho de 2017, Trump publicou um vídeo onde, junto a um ringue de wrestling, um homem com a cabeça de Trump derruba e agride violentamente outro homem, que tem no lugar da cabeça o logotipo da CNN. O vídeo desencadeou críticas e acusações de que o Presidente estava a promover a violência contra a comunicação social. Este é um tweet cujos números de partilhas e ‘gostos’ continuam a crescer, dada a permanente hostilidade do Presidente ao canal de televisão sediado em Atlanta.

3. O GORDO DO KIM

“Por que razão haveria Kim Jong-un de insultar-me, chamando-me ‘velho’, quando eu nunca lhe chamaria ‘baixo e gordo’? Ah bem, eu tentei tanto ser amigo dele — e talvez um diz isso venha a acontecer!” (417.600 partilhas e 536.100 ‘gostos’)

A 12 de novembro de 2017, durante uma viagem ao continente asiático, Trump provoca o líder da Coreia do Norte com este tweet. Ter-se-á tratado de reação a uma declaração da agência noticiosa oficial norte-coreana, que se referiu a Trump como um “velho lunático”.

A tensão entre os dois países estava ao rubro, alimentada por sucessivos testes com mísseis realizados pela Coreia do Norte, que levaram Trump a chamar little rocket man a Kim. Exatamente sete meses após a provocação de Trump no Twitter, os dois líderes fizeram história e encontraram-se pela primeira vez, em Singapura.

4. A AMÉRICA VOLTA A SER GRANDE

“Hoje fizemos a América grande outra vez!” (328.600 partilhas e 499.600 ‘gostos’)

Foi desta forma que Trump celebrou no Twitter a sua vitória eleitoral, a 8 de novembro de 2016. Make America Great Again foi o principal mote da campanha que elegeu Trump para o cargo de 45.º Presidente dos Estados Unidos.

5. OBAMA, ESSE ÓDIO DE ESTIMAÇÃO I

“Você tem permissão para impugnar um Presidente por incompetência grosseira?” (324.700 partilhas e 231.600 ‘gostos’)

Publicado a 4 de junho de 2014, quando na Casa Branca estava ainda Obama, este tweet alude a um acordo polémico entre os EUA e os talibãs afegãos, que levou à libertação de Bowe Bergdahl. Em 2009, este soldado norte-americano tinha sido feito refém da Rede Haqqani, grupo insurgente alinhado com os talibãs. O acordo que tornou possível a libertação do militar, a 31 de maio de 2014, envolveu a libertação de cinco membros dos talibãs detidos na base de Guantánamo, desencadeando grande contestação.

6. É TERRORISMO INTERNO

“Os Estados Unidos da América irão designar a ANTIFA uma organização terrorista.” (315.000 partilhas e 794.400 ‘gostos’)

A 31 de maio de 2020, seis dias após a morte do afroamericano George Floyd, asfixiado por um polícia em Minneapolis, Trump declara guerra ao movimento Antifa. Formado por grupos de esquerda, defende o recurso à violência no confronto com forças que classificam como fascistas, autoritárias, racistas, xenófobas ou homofóbicas. O Antifa sobressaiu nos protestos contra a violência policial que saíram às ruas de cidades norte-americanas, o que levou Trump a qualificar os protestos antirracistas como “terrorismo doméstico”.

7. EM SOCORRO DO RAPPER

“A$AP Rocky foi libertado da prisão e está a caminho de casa para os Estados Unidos desde a Suécia. Foi uma semana dura, vem para casa assim que possível A$AP!” (309.700 partilhas e 818.200 ‘gostos’)

A$AP Rocky, rapper norte-americano, fora detido na Suécia após uma altercação numa rua de Estocolmo que envolveu três outros membros da sua comitiva, a 30 de junho de 2019. Foi preso e levado a julgamento, onde foi declarado inocente. A 2 de agosto, num tweet entusiasmado em que utiliza o nome do artista para fazer trocadilhos, Trump congratulou-se com a sua libertação. Esta foi a publicação de Trump mais partilhada e com mais ‘gostos’ em 2019.

8. OBAMA, ESSE ÓDIO DE ESTIMAÇÃO II

“Preparem-se, há uma pequena hipótese de a nossa horrível liderança estar, sem saber, a levar-nos à III Guerra Mundial.” (291.200 partilhas e 176.700 ‘gostos’)

Publicado a 31 de agosto de 2013, visa diretamente a Administração Obama e a sua estratégia de intervenção na Síria. Este tweet voltou a circular com força quatro anos depois, quando, com Trump na Casa Branca, os Estados Unidos bombardearam uma base de forças governamentais sírias com 59 mísseis Tomahawk, a 6 de abril de 2017.

9. COMO UM RAMBO

(283.300 partilhas e 650.500 ‘gostos’)

Sem qualquer mensagem de texto associada, Trump assume-me como peso-pesado e partilha esta imagem a 27 de novembro de 2019. O rosto é seu, o corpo é da personagem Rocky Balboa, o pugilista a que deu vida Sylvester Stallone, na saga cinematográfica “Rocky”. No Congresso norte-americano decorriam as audições relativas ao seu processo de impugnação (impeachment). Trump sairia ileso desse combate.

10. NÃO TENHAM MEDO DO COVID

“Vou deixar o grande Centro Médico Walter Reed hoje às 18h30. Sinto-me mesmo bem! Não tenham medo do covid. Não deixem que isso domine as vossas vidas. Nós desenvolvemos, sob a Administração Trump, alguns medicamentos e conhecimentos mesmo excelentes. Sinto-me melhor do que há 20 anos!” (282.700 partilhas e 593.000 ‘gostos’)

Foi a mensagem partilhada na passada segunda-feira, horas antes de o Presidente dos EUA deixar o hospital militar no estado de Maryland, onde esteve internado desde a sexta-feira anterior, infetado com covid-19.

(ILUSTRAÇÃO GDJ / PIXABAY)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de outubro de 2020. Pode ser consultado aqui

Guerra aberta entre Donald Trump e a sua rede social favorita

Em menos de uma semana, o Twitter sinalizou duas publicações do Presidente dos Estados Unidos, sugerindo ao leitor a verificação de factos, e apagou outra por “incitamento à violência”, Pelo meio, Donald Trump aprovou legislação que retira proteção jurídica às empresas que exploram a Internet

A rede social favorita do Presidente dos Estados Unidos apagou-lhe, esta sexta-feira, uma publicação por “incitamento à violência”. Nesse post, relativo à morte do afro-americano George Floyd, asfixiado sob o joelho de um agente da polícia, Trump aludia aos edifícios queimados e às pilhagens de lojas que se verificaram em Mineápolis, onde ocorreu o crime.

Trump criticou a falta de liderança do mayor Jacob Frey — nas suas palavras “um radical de esquerda” — e ameaçou enviar a Guarda Nacional para controlar a cidade. “When the looting starts, the shooting starts.” (Quando o saque começa, começa o tiroteio.)

A publicação foi apagada, mas numa nota colocada no espaço do tweet é disponibilizado uma ligação que a torna visível. “Pode ser do interesse público que este tweet continue acessível”, explica a rede social. Porém, não é possível comentar, fazer “gosto” na publicação ou partilha-la sem fazer qualquer comentário.

https://twitter.com/realDonaldTrump/status/1266231100780744704?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1266231100780744704%7Ctwgr%5E73b9a07c38f5d4282e42b5d78949f345654b4bf5%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fexpresso.pt%2Finternacional%2F2020-05-29-Guerra-aberta-entre-Donald-Trump-e-a-sua-rede-social-favorita

A guerra entre Trump e o Twitter começou terça-feira, depois de a rede social, pela primeira vez, ter sinalizado dois tweets do Presidente com um link de verificação de factos. Nas mensagens, Trump considerava “fraudulento” o voto por correspondência, opção que pode vir a ser alargada nas eleições presidenciais de 3 de novembro em virtude das limitações provocadas pela pandemia de covid-19.

Trump respondeu à intervenção do Twitter, quinta-feira, emitindo um decreto executivo “sobre prevenção da censura online”. O diploma retira proteção jurídica às empresas que exploram a Internet, possibilitando que os reguladores federais as penalizem pela forma como ‘policiam’ os conteúdos.

“Twitter, Facebook, Instagram e YouTube possuem imenso, se não inédito, poder de moldar a interpretação de acontecimentos públicos; de censurar, apagar ou fazer desaparecer informação; e de controlar aquilo que as pessoas veem ou não”, lê-se no decreto.

Zuckerberg em defesa de… Trump

Pressentindo perigo também para os seus lados, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, saiu em defesa de Donald Trump, afirmando em entrevista à televisão Fox News que o papel das empresas privadas não é serem “árbitros da verdade”. Respondeu-lhe Jack Dorsey, presidente executivo do Twitter: “A nossa intenção é ligar os pontos de declarações em conflito e mostrar as informações em disputa para que as pessoas possam julgar por si mesmas”.

Trump é penalizado no âmbito de um assunto sobre o qual tem sido muito criticado pela forma tardia como reagiu. George Floyd foi morto na segunda-feira, mas o Presidente norte-americano pronunciou-se sobre o caso pela primeira vez apenas quarta-feira à noite, quando Mineápolis já estava tomada por violência, pilhagens e edicícios a arder. No Twitter, claro.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

Twitter mostrou ‘cartão amarelo’ a Trump e este virou o jogo a seu favor

A rede social favorita do Presidente dos Estados Unidos considerou dois tweets de Donald Trump infundados e sugeriu aos leitores a verificação dos factos. O visado protestou, mas não abandonou o Twitter e até inventou uma teoria da conspiração que inclui acusações falsas de homicídio. A menos de meio ano das eleições, e com taxas de aprovação negativas, a interferência na sua “liberdade de expressão”, de que acusa o Twitter, pode ter utilidade política

A rede social Twitter assinalou, pela primeira vez, dois tweets do Presidente dos Estados Unidos, disponibilizando um link de verificação de factos. Publicados na terça-feira, neles Donald Trump descredibilizou o voto por correspondência nas eleições presidenciais de 3 de novembro, recurso encarado por vários estados norte-americanos para contornar as dificuldades criadas pela pandemia de covid-19.

“As caixas de correio serão assaltadas, os boletins serão forjados e até impressos ilegalmente e assinados de forma fraudulenta”, vaticinou Trump. “Esta eleição será uma fraude. Não pode ser!”

Nos dois tweets que a mensagem ocupou, o Twitter adicionou um link — escrito a cor azul e sinalizado por um ponto de exclamação — que remete para uma página criada pela plataforma, com informação factual que rebate as imprecisões do Presidente, publicada em órgãos de informação ou divulgada por utilizadores credíveis.

Trump não gostou e procurou transformar a polémica desencadeada pela sua rede social favorita em proveito próprio. “O Twitter está agora a interferir na eleição presidencial de 2020. Está a dizer que a minha declaração sobre boletins de voto por correspondência, que conduzirá a corrupção em massa e fraude, está incorreta, com base em verificação de factos feita pela ‘Fake News CNN’ e pelo ‘Amazon Washington Post’. O Twitter está a sufocar completamente a LIBERDADE DE EXPRESSÃO, e eu, como Presidente, não deixarei que isso aconteça!”

Na origem desta entrada em cena da empresa tecnológica está uma teoria da conspiração urdida pelo próprio Trump na mesma rede social, à volta de uma mulher chamada Lori Klausutis que morreu em 2001, de complicações cardíacas, quando trabalhava para Joe Scarborough, então congressista republicano eleito pela Florida.

Scarborough é hoje apresentador de um talk-show matinal na MSNBC e um dos ódios de estimação de Trump, que lhe chama ‘Psycho Joe Scarborough’. No Twitter, Trump insinuou que o ex-congressista estaria envolvido na morte de Lori.

Numa carta enviada a 21 de maio a Jack Forsey, CEO do Twitter, tornada pública na terça-feira, o viúvo de Lori pediu que as mensagens de Trump sobre o caso fossem apagadas. “Os tweets do Presidente que sugerem que Lori foi assassinada — sem provas (e contrariando o resultado da autópsia) — são uma violação das regras e dos termos de utilização do Twitter. Um utilizador comum como eu seria banido da plataforma por um tweet desses mas eu apenas peço que esses tweets sejam removidos”, escreveu Timothy Klausutis.

“Peço-vos que intervenham neste caso, porque o Presidente dos EUA apropriou-se de algo que não lhe pertence — a memória da minha esposa morta — e perverteu-o em nome de ganhos políticos.”

Sem filtro, para mais de 80 milhões de seguidores

O Twitter não apagou os posts de Trump, mas decidiu passar a sugerir ao leitor a “obtenção dos factos” sobre o assunto em questão. Os tweets do Presidente “contêm informações potencialmente enganosas sobre os processos de votação e foram assinalados para que seja fornecido contexto adicional”, justificou Katie Rosborough, porta-voz da tecnológica.

Com estes alertas, o Twitter abriu a ‘caixa de Pandora’. O protagonismo que Trump lhe dá contribuiu para atrair muitos utilizadores. Atualmente, o chefe de Estado ‘fala’ sem filtro e várias vezes ao dia para mais de 80 milhões de seguidores, muitas vezes em registo mentiroso, impreciso e intimidatório.

Se no passado a rede social sempre resistiu à pressão para que não pactuasse com falsidades expressas por Trump — já apagou publicações de Jair Bolsonaro, por exemplo —, após este precedente estará sob forte escrutínio relativamente à forma como irá tolerar algumas ‘tiradas’ do Presidente norte-americano.

Um trunfo político a não desperdiçar

A curto prazo, a polémica servirá para que Trump se mostre como um líder combativo a quem querem calar — até o Twitter. Tudo acontece a menos de seis meses das eleições presidenciais de 3 de novembro, com evidente interesse político para a sua campanha, em especial numa altura em que a gestão da crise provocada pelo novo coronavírus — prestes a atingir os 100 mil mortos no país — lhe atribui taxas de aprovação abaixo dos 50%.

“Sempre soubemos que Silicon Valley [onde estão sediadas as grandes tecnológicas, como o Twitter] faria todos os esforços para obstruir e interferir com o Presidente Trump, passando a sua mensagem aos eleitores”, reagiu Brad Parscale, diretor da campanha Trump 2020.

Menos de 24 horas após publicar os tweets assinalados pelo Twitter como infundados, Trump já voltou à rede pelo menos 40 vezes, no seu estilo de sempre. Numa delas escreveu: “Hoje ultrapassamos os 15 milhões de testes, de longe a maior quantidade do mundo. Abrir [o país] em segurança!” Será caso para o Twitter intervir?

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui