EUA, França e Reino Unido acusados de encorajar ataque químico

Um ministro sírio acusou países ocidentais de encorajarem os “terroristas” a usar armas químicas. Ban Ki-moon pede mais tempo para os inspetores

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Síria acusou hoje os Estados Unidos, o Reino Unido e a França de terem ajudado os rebeldes sírios a usarem armas químicas.

“Foram os grupos terroristas que as usaram, encorajados por americanos, britânicos e franceses. Este encorajamento tem de parar”, afirmou Faisal Al-Miqdad.

O governante sírio disse ainda, em entrevista à CNN, que as autoridades de Damasco corresponderam a todos os pedidos feitos pela equipa de inspetores da ONU que está a investigar o alegado ataque com armas químicas de 21 de agosto, nos arredores de Damasco.

“O CSN concordou por unanimidade que o uso de armas químicas por parte de Assad era inaceitável — e que o mundo não se deve deixar ficar”, tweetou o primeiro-ministro britânicvo, David Cameron.

Informou ainda que Londres elaborou um projeto de resolução “condenando o ataque com armas químicas por parte de Assad e autorizando todas as medidas necessárias para proteger os civis”.

O diploma será apresentado hoje, quarta-feira, no Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia — o mais forte aliado da Síria — tem direito de veto.

Entretanto, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou a uma solução diplomática e afirmou que a equipa de inspetores da ONU em Damasco necessita de trabalhar até domingo para conseguir estabelecer todos os factos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 28 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui
 

Ataque à Síria “dentro de dias”

A oposição síria garante que haverá ação muito em breve. Um governante norte-americano diz que se aguarda apenas uma decisão do Presidente Obama

Fontes da oposição ao regime sírio garantiram à agência Reuters que está iminente um ataque ao território. “Foi dito à oposição, de forma clara, que nos próximos dias poderá haver ação para impedir o uso de mais armas químicas por parte do regime de Assad. E que a oposição deverá preparar-se para conversações de paz em Genebra”, afirmou, hoje, uma fonte não identificada.

Segundo a Reuters, a fonte citada participou numa reunião realizada num hotel em Istambul entre membros da Coligação Nacional Síria (CNS), o principal grupo da oposição apoiado pelo ocidente, e enviados de 11 países “amigos da Síria”.

Entre os presentes estiveram Ahmad Jarba, presidente da CNS, e Robert Ford, enviado dos Estados Unidos para o problema na Síria. Segundo a Reuters, Jarba apresentou uma lista de dez potenciais alvos, que inclui o Aeroporto Militar Mezze, nos arredores de Damasco, e instalações da Quarta Divisão Mecanizada, uma unidade de elite chefiada por Maher al-Assad, o temido irmão do Presidente, e composta sobretudo por alauitas, a comunidade de Assad. 

Qual a opção de Obama?

Em entrevista à BBC, o secretário de Defesa dos Estados Unidos disse, hoje, que as forças norte-americanas “estão prontas” para “cumprir e corresponder ao que o Presidente (Barack Obama) decidir”, disse Chuck Hagel.

Em território sírio há mais de uma semana, uma equipa de inspetores das Nações Unidas tenta investigar o incidente de 21 de agosto, nos arredores de Damasco, onde se suspeita que centenas de pessoas tenham morrido após um ataque com armas químicas.

Na segunda-feira, a missão da ONU foi alvo de disparos por parte de atiradores furtivos, mas conseguiu aceder ao bairro de Mouadamiya, uma das áreas atacadas. Os inspetores recolheram amostras de sangue e entrevistaram várias vítimas. Uma segunda visita está prevista para quarta-feira.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui

Portugal pede “investigação urgente” na Síria

Uma carta assinada por 37 países pede ao secretário-geral Ban Ki-moon que a ONU investigue as suspeitas de uso de armas químicas na Síria. Portugal é um dos signatários

Portugal é co-signatário de uma carta endereçada ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, solicitando “uma investigação urgente” a propósito das “alegações de uso de armas químicas no ataque nos subúrbios de Damasco”, conhecido na quarta-feira de manhã.

“Estamos conscientes que a Missão da ONU encontra-se em Damasco. Pedimos que faça tudo o que lhe for possível para garantir que a missão tenha acesso urgente a todos os locais relevantes e fontes de informação”, diz o documento, com data de quarta-feira.

A carta, divulgada na quinta-feira à tarde, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, foi assinada por representantes de 37 países. Em representação de Portugal, assina-a Cristina Maria Cerqueira Pucarinho, encarregada de negócios na Missão Permanente de Portugal na ONU, em Nova Iorque.

Pressão sobre Damasco

A missão de inspetores das Nações Unidas chegou a Damasco no domingo passado para investigar “o alegado uso de armas químicas denunciado pelo Governo da Síria em Khan al-Assal bem como duas outras alegações de uso de armas químicas denunciadas por Estados membros”, da ONU, informou, em comunicado, o gabinete do secretário-geral da organização.

Composta por 20 membros, a delegação é chefiada pelo sueco Åke Sellström, perito em armas químicas. “O Professor Sellström está em discussões com o Governo sírio sobre todos os assuntos relacionados com o alegado uso de armas químicas, incluindo este incidente mais recente”, continuou o comunicado.

Paralelamente, Ban Ki-moon enviou para Damasco a sua Alta Representante para as Questões do Desarmamento, a alemã Angela Kane, para pressionar as autoridades de Damasco a viabilizarem uma investigação.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui

Documentos secretos revelam: CIA orquestrou golpe de 1953

Era uma suspeita, hoje foi confirmado. Documentos da CIA revelam a sua participação no golpe que depôs o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mosaddegh

Documentos da CIA, desclassificados em 2011 e publicados hoje no sítio do Arquivo de Segurança Nacional, confirmam a participação da CIA no golpe de Estado que afastou o primeiro-ministro iraniano Mohammed Mosaddegh, em 1953.

“O envolvimento norte-americano e britânico no afastamento de Mosaddegh é há muito do conhecimento público, mas o que publicamos hoje inclui o que cremos ser o primeiro reconhecimento formal da CIA de que ajudou a planear e a executar o golpe”, lê-se no texto que acompanha a publicação dos documentos. 

A informação divulgada revela que a operação decorreu em cinco fases. A primeira aconteceu a 19 de agosto de 1953, com a realização de grandes manifestações populares, lideradas por rufias pagos para o efeito. Os grupos reuniram-se no bazar e noutras partes do sul de Teerão, pelas seis da manhã, dirigindo-se depois para a parte norte da capital iraniana.

Golpe com vastos recursos

O material publicado no sítio do Arquivo de Segurança Nacional (ASN) – instituição fundada em 1985, por jornalistas e académicos, para “verificar o crescente secretismo do Governo” — consta de 21 documentos originários dos arquivos da CIA e outros 14 dos arquivos britânicos.

Os documentos da CIA “reforçam a conclusão que os Estados Unidos, e a CIA em particular, empregaram vastos recursos e atenção política ao mais alto nível para derrubar Mosaddegh, e suavizar as suas consequências”, diz o ASN.

O primeiro-ministro Mohammad Mosaddeq foi deposto há 60 anos, após ter nacionalizado a indústria petrolífera iraniana, até então controlada pelos britânicos da Companhia Petrolífera Anglo-Persa (mais tarde, British Petroleum, BP). Sucedeu-lhe o general Fazlollah Zahedi nomeado pelo Xá.

“Partidários políticos de todos os lados, incluindo o Governo iraniano, invocam regularmente o golpe para discutir se o Irão ou poderes estrangeiros são os principais responsáveis pela trajetória histórica do país, se podem confiar que os Estados Unidos vão respeitar a soberania do Irão, ou se Washington precisa de pedir desculpa pela sua interferência prévia antes que as relações melhorem.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 19 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui

Cenário de guerra nas ruas do Cairo

Um jornalista espanhol conta o que viu, sexta-feira à tarde, nas ruas da capital egípcia, onde nenhum sítio parece ser seguro

O “dia da ira”, convocado em todo o Egito por apoiantes da Irmandade Muçulmana, saldou-se em pelo menos 27 mortos, segundo o Ministério da Saúde local. A Al-Jazeera noticiou 32 mortos, só na Praça Ramses (Cairo), e sete na cidade de Alexandria. Outros órgãos de informação falam em mais de 50 mortos.

Julio de la Guardia, jornalista espanhol, contou ao Expresso o que testemunhou, durante a tarde, nas ruas do Cairo:

“Acompanhei uma manifestação que partiu de Gizé em direção à Praça Ramses. Ao chegar junto ao Hotel Kempinski, a polícia tinha montado uma barreira e começaram os confrontos. Os manifestantes à pedrada. A polícia, no início, com gases. Depois começou a disparar, apesar dos manifestantes não terem armas nem terem disparado qualquer tiro. Mataram uma vintena de manifestantes e levaram bastantes feridos nas motas. Unidades especiais vestidas de preto, alguns com camuflados e outros com capacetes. Também francoatiradores. Eu estava resguardado na entrada do Four Seasons, pensado que era um lugar seguro. Errado! Começaram a disparar rajadas. Todo o vidro metralhado. Dois mortos ao meu lado.”

Os confrontos continuaram pela noite dentro, em desafio ao recolher obrigatório imposto pelas autoridades militares, entre as 19 horas e as seis da manhã (mais uma hora do que em Portugal continental).

Esta jornada de protesto foi convocada pela chamada Aliança Anti-Golpe, que se opõe ao golpe militar de 3 de julho que afastou do poder o Presidente islamita Mohamed Morsi, democraticamente eleito.

Na quarta-feira, a dispersão, pela força, de milhares de apoiantes de Morsi que ocupavam duas praças do Cairo fez, segundo o Ministério da Saúde, 638 mortos e mais de 4000 feridos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui