Um jornalista espanhol conta o que viu, sexta-feira à tarde, nas ruas da capital egípcia, onde nenhum sítio parece ser seguro
O “dia da ira”, convocado em todo o Egito por apoiantes da Irmandade Muçulmana, saldou-se em pelo menos 27 mortos, segundo o Ministério da Saúde local. A Al-Jazeera noticiou 32 mortos, só na Praça Ramses (Cairo), e sete na cidade de Alexandria. Outros órgãos de informação falam em mais de 50 mortos.
Julio de la Guardia, jornalista espanhol, contou ao Expresso o que testemunhou, durante a tarde, nas ruas do Cairo:
“Acompanhei uma manifestação que partiu de Gizé em direção à Praça Ramses. Ao chegar junto ao Hotel Kempinski, a polícia tinha montado uma barreira e começaram os confrontos. Os manifestantes à pedrada. A polícia, no início, com gases. Depois começou a disparar, apesar dos manifestantes não terem armas nem terem disparado qualquer tiro. Mataram uma vintena de manifestantes e levaram bastantes feridos nas motas. Unidades especiais vestidas de preto, alguns com camuflados e outros com capacetes. Também francoatiradores. Eu estava resguardado na entrada do Four Seasons, pensado que era um lugar seguro. Errado! Começaram a disparar rajadas. Todo o vidro metralhado. Dois mortos ao meu lado.”
Os confrontos continuaram pela noite dentro, em desafio ao recolher obrigatório imposto pelas autoridades militares, entre as 19 horas e as seis da manhã (mais uma hora do que em Portugal continental).
Esta jornada de protesto foi convocada pela chamada Aliança Anti-Golpe, que se opõe ao golpe militar de 3 de julho que afastou do poder o Presidente islamita Mohamed Morsi, democraticamente eleito.
Na quarta-feira, a dispersão, pela força, de milhares de apoiantes de Morsi que ocupavam duas praças do Cairo fez, segundo o Ministério da Saúde, 638 mortos e mais de 4000 feridos.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui