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Tribunal ilegaliza Irmandade Muçulmana

Partido islamita que apoia o Presidente egípcio deposto Mohamed Mursi acaba de ser banido por decisão judicial

As atividades da Irmandade Muçulmana foram hoje totalmente banidas no país por um tribunal egípcio, que assim intensifica a campanha para debilitar o partido islamita que apoia o Presidente Mohamed Morsi.

“O tribunal ilegaliza todas as atividades da Irmandade Muçulmana e das suas organizações não-governamentais”, impedimento também aplicado a “todas as ações de outras organizações associadas”, disse hoje o juiz-presidente do tribunal Mohammed al-Sayed, citado pela Reuters.

O tribunal administrativo ordenou ainda ao Governo interino do Egito que confisque os fundos da Irmandade e que estabeleça uma comissão para administrar os seus ativos que foram congelados até que um eventual recurso seja apreciado. Fonte da Irmandade disse ao jornal egípcio “Ahram Online” que o grupo vai recorrer da decisão.

A Irmandade Muçulmana foi fundada no Egito em 1928 e funcionou, na maior parte da sua história, de forma ilegal. Com um eleitorado fiel na ordem dos 20%, o grupo ganhou relevância política na era pós-Mubarak, tendo o seu braço político — o Partido Liberdade e Justiça — vencido as eleições legislativas e presidenciais. Em março passado, a Irmandade foi legalizada enquanto Organização Não-Governamental.

Após o golpe militar de 3 de julho de 2013, que afastou o islamita Mohamed Morsi do poder, as autoridades egípcias desencadearam uma campanha de repressão contra o grupo. As manifestações permanentes de simpatizantes da Irmandade, em duas praças do Cairo, que exigiam a restituição de Morsi, foram violentamente reprimidas (centenas de mortos) e os principais dirigentes da organização detidos. Entre eles, estão o guia supremo Mohamed Badie, o seu vice Khairat El-Shater, o secretário-geral Ezzat Ibrahim e ainda Mohamed El-Beltagy, outro dos principais líderes. Todos são acusados de incitamento à violência.

Desde então, a ilegalização da Irmandade passou a ser apenas uma questão de tempo, estando apenas dependente de enquadramento legal. A 2 de setembro, a Autoridade de Comissários do Estado — um órgão que aconselha o Governo, de forma não vinculativa, em questões legais — recomendou a dissolução da Irmandade com base em acusações que a associavam a milícias armadas.

Artigo escrito com Paulo Luís de Castro.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 23 de setembro de 2013. Pode ser consultado aqui

Cenário de guerra nas ruas do Cairo

Um jornalista espanhol conta o que viu, sexta-feira à tarde, nas ruas da capital egípcia, onde nenhum sítio parece ser seguro

O “dia da ira”, convocado em todo o Egito por apoiantes da Irmandade Muçulmana, saldou-se em pelo menos 27 mortos, segundo o Ministério da Saúde local. A Al-Jazeera noticiou 32 mortos, só na Praça Ramses (Cairo), e sete na cidade de Alexandria. Outros órgãos de informação falam em mais de 50 mortos.

Julio de la Guardia, jornalista espanhol, contou ao Expresso o que testemunhou, durante a tarde, nas ruas do Cairo:

“Acompanhei uma manifestação que partiu de Gizé em direção à Praça Ramses. Ao chegar junto ao Hotel Kempinski, a polícia tinha montado uma barreira e começaram os confrontos. Os manifestantes à pedrada. A polícia, no início, com gases. Depois começou a disparar, apesar dos manifestantes não terem armas nem terem disparado qualquer tiro. Mataram uma vintena de manifestantes e levaram bastantes feridos nas motas. Unidades especiais vestidas de preto, alguns com camuflados e outros com capacetes. Também francoatiradores. Eu estava resguardado na entrada do Four Seasons, pensado que era um lugar seguro. Errado! Começaram a disparar rajadas. Todo o vidro metralhado. Dois mortos ao meu lado.”

Os confrontos continuaram pela noite dentro, em desafio ao recolher obrigatório imposto pelas autoridades militares, entre as 19 horas e as seis da manhã (mais uma hora do que em Portugal continental).

Esta jornada de protesto foi convocada pela chamada Aliança Anti-Golpe, que se opõe ao golpe militar de 3 de julho que afastou do poder o Presidente islamita Mohamed Morsi, democraticamente eleito.

Na quarta-feira, a dispersão, pela força, de milhares de apoiantes de Morsi que ocupavam duas praças do Cairo fez, segundo o Ministério da Saúde, 638 mortos e mais de 4000 feridos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui

O porquê de mais um massacre no Egito

As forças de segurança egípcias dispersaram pela força duas manifestações que exigiam a reinstalação no poder do Presidente islamita deposto pelos militares

Mohamed Morsi, o Presidente eleito após a deposição de Hosni Mubarak, foi afastado pelos militares no passado dia 3 de julho. Desde então, milhares de apoiantes — maioritariamente adeptos da Irmandade Muçulmana, de que Morsi era dirigente — não mais abandonaram as ruas do Cairo, denunciando o golpe militar e exigindo a restituição no cargo de Mohamed Morsi, que permanece detido em sítio desconhecido.

Os manifestantes pró-Morsi concentraram-se, em permanência, com tendas montadas, em duas praças do Cairo. Uma mais pequena, junto à Universidade do Cairo, em Giza; a mais aparatosa, junto à mesquita Rabaa al-Adawiya, na área de Nasr City.

Indiferentes às ordens de dispersão do Governo, as duas vigílias eram o sintoma visível da grande divisão política no Egito: de um lado, a Irmandade Muçulmana, vencedora de todas as eleições pós-Mubarak; do outro, a oposição, sobretudo setores laicos e revolucionários.

Esperar ou dispersar?

A situação tinha duas soluções possíveis: a dispersão das manifestações pela força, com consequências previsivelmente sangrentas; ou esperar que as manifestações se eternizassem e fossem vencidas pelo cansaço.

A 31 de julho, o Governo interino, empossado após o golpe militar, decretou que as duas manifestações eram uma “ameaça à segurança nacional” e anunciou que tinha começado a tomar “todas as medidas necessárias” para resolver a situação.

O General Abdel Fattah el Sisi, simultaneamente chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa, afirmou que estava mandatado para combater “terroristas”. A dispersão pela força passou a ser uma questão de tempo.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de agosto de 2013. Pode ser consultado aqui

Seis mortos no Cairo

A Irmandade Muçulmana apelou a uma sexta-feira de protestos. E o caos instalou-se no Cairo

Tropas egípcias dispararam balas contra manifestantes pró-Presidente que seguiam em direção ao quartel-general da Guarda Republicana, na área de Nasr City. Segundo a AFP, foram mortas seis pessoas.

Os manifestantes aproximavam-se do edifício onde Mohamed Morsi, o Presidente deposto, está detido.

A Irmandade Muçulmana convocou uma manifestação designada “Sexta-feira da Rejeição” para protestar contra o golpe militar que depos o Presidente. Os militares tinham autorizado o protesto.

FALTA FOTOGALERIA

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 5 de julho de 2013. Pode ser consultado aqui

Ultimato dos militares chega ao fim

Os egípcios aguardam a reação do Presidente Mohamed Morsi ao ultimato dado pelos militares: ou entende-se com a oposição ou é afastado do poder

Terminou às 17 horas de Lisboa (18 horas no Cairo) o prazo de 48 horas dado, na segunda-feira, pelos militares ao Presidente Mohamed Morsi para chegar a um acordo com a oposição.

Na ausência de um entendimento, os militares tomarão o poder, propondo-se aplicar o seguinte roteiro político:

— Suspensão da Constituição;

— Dissolução do Parlamento;

— Estabelecimento de um Conselho Interino até haver nova Constituição;

— Eleições presidenciais.

Hoje à tarde, na página da Presidência no Facebook, Morsi propôs a formação de um “governo de coligação consensual” até à realização de novas eleições legislativas.

Apoiantes e críticos de Mohamed Morsi — que tomou posse como Presidente a 30 de junho de 2012 — estão reunidos em dois pontos do Cairo, aguardando pela decisão do Presidente, de viva voz.

Na mítica Praça Tahrir — onde se organizaram os protestos que culminaram na deposição de Hosni Mubarak, a 11 de fevereiro de 2011 —, os críticos do Presidente exigem a sua demissão.

Quanto aos apoiantes de Morsi, esmagadoramente apoiantes da Irmandade Muçulmana, estão reunidos junto à mesquita Raba El-Adwyia, na área de Nasr City. Defendem a continuação do mandato do Presidente, democraticamente eleito.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de julho de 2013. Pode ser consultado aqui